quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Narrativas de Macau (6) Madame Bijoux



O filme é de 1997. Se hoje os críticos já o analisam de forma mais ou menos distante, focando os erros, a história cliché, de romance de praia, o blockbuster para fazer render as bilheteiras, na altura a película de James Cameron foi uma verdadeira revolução, de tal forma intensa que parece quase impossível que os actores tenham realmente conseguido fazer carreira além das suas personagens, conquistando várias nomeações para óscares e adquirindo o desejado estatuto de super estrelas de Hollywood. Há quem diga, aliás, que provavelmente ainda não conquistaram nenhum devido ao tão badalado filme que fizeram na juventude. Para muitos, essa "maldição" espera-se que termine já este mês.
O que ficou para a história, no entanto, não foi nem a polémica nem a fama, mas as dezenas de prémios que o filme arrecadou, o título de clássico do cinema e o facto de, até hoje, ainda ser o filme mais visto de sempre na história do cinema, com todos os Harry Potter, Senhor dos Anéis, Piratas das Caraíbas e Batman que já por aí passaram. Clichés à parte, no meu caso vai ficar recordado como um dos filmes da minha pré adolescência. 

Ainda a narrativa não vai a meio e há uma cena, no deque do navio, em que Jack fala a Rose de uma certa Madame Bijoux que conheceu em Paris. Uma mulher que se sentava todas as noites num bar, com todas as suas jóias, à espera do regresso de um amor há muitos anos perdido. A cena, com toda a simbologia que tem no filme, sempre me passou um tanto de lado, mas sem me ser indiferente.  Talvez fosse aquela ideia de algém guardar por tantos anos uma memória que, para todos os efeitos, pode nem ser real, apenas fruto de ilusões criadas na juventude. E o rosto da mulher, algo bravo e desconfiado, tem o seu quê de romântico, muito à Belle Époque e àquela trilogia de felicidade e liberdade de que o filme Moulin Rouge faz o seu mote.
Aqui em Macau há um bar muito agradável onde por algumas vezes já estive com as minhas colegas. Da primeira vez que lá estive reparei numa mulher bastante bonita, chinesa, bem vestida, que se sentou toda a noite sozinha ao balcão. No princípio pensei que fosse empregada, mas verdade seja dita pouco ou nada fez naquele par de horas que por ali passei e o bar estava cheio. Sentada ao balcão, semi a descoberta pela luz fraca que incidia nos copos à sua frente, foi fazendo um estranho emaranhado de nós numa série de arames.
Achei piada, perguntei quem era, mas ninguém me soube responder. O certo é que de cada vez que lá regresso encontro a mesma mulher, bem arranjada, bem vestida, sentada ao balcão naquela confusa actividade. Pensei que fosse algum tipo de bijuteria, mas o facto é que o resultado final que ela leva debaixo do braço quando sai não se aparenta com nada que eu alguma vez tenha visto. Sorri muito, principalmente quando a chamam, mas tem um certo olhar triste, solitário mesmo, que na outra noite me recordou a Madame Bijoux dos desenhos do Jack.
O certo é eu vir a descobrir que ela é amiga, mulher ou afins do dono e passa ali a noite à espera dele ou de outro alguém, ou mesmo que a sua história não tem nada de especial. Por enquanto, recorda-me a Madame Bijoux e as histórias por contar desta terra.





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