quinta-feira, 10 de março de 2011

Bem vindo e boa viagem


Lia o jornal há pouco e recordava-me de um artigo encontrado há anos sobre blogues de cinema. Comentava então esse texto que um dos melhores sítios do ciberespaço dedicado à sétima arte tinha encerrado porque o seu autor deixara - imagine-se! - de ser estudante. Com o mundo do trabalho a chamar a atenção, é dificil manter posts em dia, gerir comentários e ir absorvendo informação e consequente reflexão nesta plateia tão vasta que vai além do pequeno ecrã.

Este não será um blogue de cinema. A bem dizer foi ao longo dos anos muitas coisas e passou por muitas fases, umas mais dinâmicas que outras. Serviu de testemunho, nem sempre ajustado, dos solavancos que se vão dando em determinadas fases da vida. Os métodos de escrita, os dilemas e as considerações também foram, por isso, mudando, acabando por estender-se nesse mundo tão repleto de opinião e charme que é o cinema. Outras coisas haveria por certo para dizer, mas as responsabilidades também são diferentes e escrever também implica ter uma visão que se possa suster, acreditando-se nela com toda a força das palavras.

No outro dia apercebia-me que de um momento para o outro havia perdido o contacto de um grande amigo, companheiro de tantas aventuras e com quem passara alguns dos melhores momentos de determinada fase da minha vida. "Tudo termina" - pensei eu, habituada a dar por perdida uma luta quando ela deixa bem clara que não existe hipótese de vitória. Não por falta de coragem, que a luta, quando por aquilo que vale a pena, nunca termina, apenas se torna mais branda e conformada com a sua sorte. Apenas por falta de tempo, porque as pessoas mudam, assim como as ideias, os princípios e as prioridades. E como referia uma certa amiga minha, tudo tem um certo tempo e um lugar e há coisas que com o passar dos meses deixam de fazer sentido.

De modo que divagando sobre o sentido da existência e de lutas ou pequenas batalhas que merecem ser travadas, lembrei-me com carinho, mais uma vez, deste blogue, que me acompanhou durante tantos períodos e que acaba por sucumbir, como a maioria deles, ao fim do seu tempo e do seu lugar.

Pouco nele ainda faz sentido. Continuo sim a ir ao cinema e a procurar envolver-me, de forma mais ou menos impressionada, com os enredos e os trabalhos de verdadeira arte que alguns mestres parecem ainda conseguir fazer com certas obras. Mas já nem é tempo de falar sobre cinema, a ideia inicial nem era essa. É tempo de voltar a encontrar a visão que esteve no início destes comentários e que criou, a bem da verdade, tudo o que se foi escrevendo por estas páginas.

No fim, para dizer que se encerra hoje estes quatro anos de considerações. Será provavelmente interessante voltar aqui uma e outra vez para recordar o que fui e o que procurava nos tempos da faculdade e se essa pessoa e esses sonhos ainda se vão mantendo com o passar dos anos. Mas já não como escritora, ainda que ela procure insistentemente pela sobrevivência, mas como uma certa leitora de certo tipo de visões do mundo e dos que o povoam.

Obrigada ao Cineroad que por aqui foi deixando alguns comentários e que permitiu vingar a minha paixão pelo cinema. Obrigada a todos os anónimos e cibernautas que quiseream partilhar as suas opiniões e dar certa vitalidade a este espaço. Obrigada também à Marta, que com o seu humor e o seu olhar irónico e tantas vezes satírico do mundo permitiu boas gargalhadas e um colorido que faltava a esta casa. E obrigada à Niké que apesar das poucas participações deu a este blogue uma imaginário.

De modo que por outras casas mas sempre observando, encerra-se assim o blogue. Aos que por cá passarem, há quatro anos por explorar e muitas histórias contadas. Vou continuando a comentar se surgir algum comentário. Bem vindo então e boa viagem...

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Registos de Fim do Ano

Ano fraquinho este, que hoje termina. Não ficou nada de marcante nem de memorável, nem me parece que dos filmes que saíram até ao momento, pelo menos em Portugal, se retire algum clássico para a posteridade. Lembrando de alguns nomes mais sonantes que passaram pelas salas, parece que o Inception terá sido "o" filme do ano. A nível da personagem, Leonardo Dicaprio não se afastou muito do protagonista de Shutter Island e talvez tenha perdido com isso. Mas quanto a efeitos, ideia original, carisma dos actores secundários e mesmo na realização, o filme tem os seus trunfos e fica-me na memória para 2010.



De trabalhos bem mais esquecidos, passava ontem pelas noites da RTP uma obra muito particular de Keira Knightley, a querer mostrar que consegue ser muito mais que a menina bonita dos Piratas ou a protagonista de dramas de época. Falta-lhe alguma garra, digamos, algum carisma, no seu Domino. Esforça-se e nota-se-lhe o esforço, mas não consegue sair do registo da "girl next door", demasiado querida, demasiado fofinha, demasiado a querer agradar para que a personagem se torne convincente. E o filme, cuja ideia até era interessante e a concepção está carismática, perde com a falta de peso da personagem feminina. Na maioria das vezes parece que estamos a ver a Elisabete Bennett aos gritos ou a tentar mostrar que está zangada. É sensual sim e o lado de Beverly Hills 90210 é conseguido, mas não o outro, o que se queria verdadeiro, da caçadora de prémios. Falta-lhe intensidade, verdadeiro gozo pela profissão que escolheu. Há demasiado esforço em querer parecer sensual. Ela já o é. Tudo o resto soa a falso e ele parece mais frágil do que propriamente a mulher forte e capaz de tudo que se pretendia.
Mas enfim, talvez fosse mesmo essa a ideia. O filme não está mau e tem alguns momentos particulares, sendo que as restantes personagens estão bem conseguidas. A realização é um pouco psicótica, talvez demais, e falha-se pelo exagero. Mas valoriza um argumento algo pobre e sem grande entusiasmo, que cai nos clichés tradicionais.


Para o registo do fim de ano, fica uma fotografia interessante e uma película que procura ser original, ainda que se fique pela rama. Vale pela Keira, apesar de tudo, que mesmo assim consegue prometer. Julgo que a menina está mais para papéis dramáticos do que de porrada e a vontade de fazer algo diferente é boa, mas para já ser sexy não chega e é preciso , talvez, ter carisma para ir mais longe.

sábado, 18 de dezembro de 2010

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Uma daquelas poesias

Existem filmes que descrevemos como poesias. Não tanto pela história, muitas vezes já tão batida que descobrimos a cinco minutos do incío o desenlance, mas pela forma como são contadas. Qualquer coisa como pergar num livro de Eça de Queirós e deliciarmo-nos durantes horas a fio com as suas narrativas. Já todos sabemos que o Carlos e a Eduarda são irmãos, ou que o Padre Amaro não é nenhum santo ou que a sociedade portuguesa não mudou assim tanto desde os tempos de el-rei D.Carlos. O que nos motiva a continuar, a ler e reler aquelas obras, está na forma como são escritas, no prazer que nos oferecem aquelas imagens, metáforas e conjugações, o dom da palavra, enfim, que poucos dominam mas que faz toda a diferença.
Por isso existem filmes que apesar de serem muito iguais a tantos outros nos encantam pelo modo como estão construídos, a realização, a fotografia ou mesmo o carisma dos actores. Nos últimos tempos, de cada vez que me perco por uma sala de cinema, venho profundamente desanimada com a oferta que encontro. Domina-me uma sensação de dejá vu que mesmo a esperança em ser surpreendida não consegue contrair. Os rotos são sempre os mesmos, os enredos fastidiosos e todo o cenário muito comercial. Vamos ao cinema por ir, para ter um programa para a noite, e não por existir qualquer coisa de extraordinário que nos fascine.
No outro dia fui ver o Americano. A escolha pendeu entre este e o A Tempo e Horas, qualquer um sem muita novidade. Mas lá decidimos ir passear um pouco pelas paisagens italianas e procurar descobrir se o George Clonney ainda tem mais que oferecer para além de um Nexpresso.
O George...já tem uns anitos. O senhor que me perdoe, mas o glamour está-se a perder com o tempo e talvez seja altura de procurar papéis menos à James Bond. Mas talvez aquele aspecto de cansaço se devesse à própria personagem. Não creio, em todo o caso.
O Americano segue o caminho de muitos filmes do género e no final da primeira parte já só me apetecia recostar-me a dormir uma sesta. Ainda bem que não o fiz. É um trabalho que ganha valor pela abordagem da realização e pela fotografia, pelo modo como a narrativa é contada, com algumas tiradas espirituosas que apenas os amantes de cinema podem compreender. Por isso, ao fim de vários meses, saí da sala com a sensação efectiva de que valeu o tempo, o dinheiro e a deslocação. Pois está um trabalho feito com gosto, com esforço e dedicação, um encanto para os olhos e ouvidos, pois até a banda-sonora merece um pequeno aplauso.
Que ninguém espere ir impressionar-se. Mas quem seja amante de cinema que se recoste e aprecie. O filme vale a pena.


quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Um ano e alguns meses depois...




Há uns anos valentes, ainda não sonhava eu com esta vida, encontrei-me com o Dr. Sérgio Ribeiro, dirigente da CDU de Ourém, na antiga e extinta livraria “Som da Tinta”. Teria os meus 14 anos, estava numa daquelas fases da vida em que se tomam algumas decisões definitivas, e gostava de escrever. Já não me recordo bem do teor da conversa nem o que fazia ali em concreto, mas nunca me esqueci de uma ideia que fez o centro da nossa meia hora de café: se queres escrever bem, começa por escrever sobre ti própria.
Não sei se o Dr. Sérgio Ribeiro se recorda da tímida visita ou do efeito que ela teve em decisões futuras, mas nove anos depois estava de partida para Macau e, meses mais tarde, em O MIRANTE. Um ano passado sobre toda uma série de vivências, a escrita até pode nem ser excelente, mas vão-se guardando algumas histórias.
Primeiro foi o impacto da mudança. Ourém era a mesma que eu conhecia da infância e da adolescência, mas tinha novos rostos, novas causas e uma linguagem diferente daquela a que me habituara a conhecer. Acabada de chegar da terra onde tudo fervilha, onde parece que a Europa vai envelhecendo à sombra de causas perdidas, voltava à pacatez das mudanças que podem até nem ser grandiosas, mas são marcantes. No fundo, tudo era novidade e se mais tarde não me recordar da maioria das peças que escrevi ou das questões com que lidei ao longo de um ano de estágio, poderei sempre começar por contar que também eu regressei a Ourém num momento de viragem. A todos os níveis.
Depois, foram as pessoas. Os chineses pareciam-me desconfiados, não se entregam, escondem com vergonha o que lhes pode roubar a face. Sorriem quando deviam explodir e ficamos sempre com aquela sensação indesejável de que, em Portugal, já estaríamos à porta. No percorrer das aldeias, tantas vezes meio perdida nos pinhais e em estradas escondidas, era o gosto de estar sobretudo em casa. Até me podiam colocar à porta, mas ao menos sabia os nomes que me estavam a chamar durante o percurso.

Por fim foi o trabalho, com uma rotina diferente da que me ensinaram em Macau. Há questões que nunca mudam e os protagonistas são, em geral, os mesmos. O presidente, os que o rodeiam, a associação, a igreja, as organizações, a população, os jornalistas…e aquela figura mais ou menos carismática que há sempre em cada terra. Só mudou no fundo a língua e a forma como se exprimem as fontes.
E porque não lembrar também o distrito, tão afastado das gentes de Ourém, que se habituou a ver em Leiria a sua segunda casa! Nova descoberta, esta muitas vezes com surpresa. Que sirva de convite para conhecer o que existe mais a Sul, que por vezes parece inóspito mas que tem grandes encantos. De terra em terra, com ou sem indicações, com ou sem vidros partidos e desastres automóveis a registar, foram-se conhecendo lugares que podiam entrar em muitos filmes americanos. E andei eu do outro lado do mundo…
Assim poderia contar daquele dia em que no meio de uma manifestação, no meio da rua, me impedem de tirar fotografias; ou de momentos caricatos na serra de Alburitel, Ourém, em plena tempestade, onde se tentou concluir a custo uma visita camarária; de horas perdidas em conversas com pessoas extraordinárias e que fazem valer a pena todas as linhas gastas a contar as suas vidas. Mas fico-me pelas impressões do ano de estágio, que provavelmente vão mudar no futuro, mas que orientaram todos os meses de trabalho que vivi até hoje.





in O MIRANTE

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Angry Young Men

"I suppose people of our generation aren't able to die for good causes any longer. We had all that done for us, in the thirties and the forties, when we were still kids. There aren't any good, brave causes left".

John Osborne

in Look Back in Anger

Fazia (não sei se se mantém) parte do programa de Inglês do 12º ano. Uma peça dos anos 50 que dissertava sobre uma geração meio perdida, meio desiludida, meio desorientada para com o mundo que, de repente, lhes era apresentado. Haviam sido crianças em tempos de guerra, tinham crescido ao som da luta e da morte pela pátria e agora, jovens capazes de lutar, viam um mundo que já não lhes pedia que perdessem a vida por uma causa maior, os velhos impérios caiam e os valores que os seus pais haviam defendido estavam no meio de uma cansada mudança. Entre o baby boom e o movimento hippie, entre o admirável mundo novo e o "Paz e Amor", houve um tempo em que já não haviam grandes causas pelas quais lutar. Rebeldes sem uma causa, essa geração andou meio perdida até encontrar os seus valores e o seu lugar na sociedade, ou pelo menos até o momento em que novas lutam precisaram de ser travadas e de novo nasceu a vontade de agir.
Li o livro de um assentada numa tarde de domingo. Aqueles jovens irados não diferiam muito de uma geração à qual em parte me identificava. Ainda há grandes causas pelas quais morrer? Sim, claro! Mas estamos tão cansados das lutas dos nossos pais e avós, vivendo numa sociedade que já em si nos coloca tantos obstáculos, que crescemos conformados com o que obtemos. Digamos...estamos demasiado preocupados com as nossas pequenas batalhas individuais para pensarmos em sofrer pelo colectivo. Somos mais egoistas? Talvez. Andamos zangados, irados por isso? Não. Andamos frustrados. Queremos tanto, batalhamos tanto e nunca nos satisfazemos. 50 anos passaram e continuamos desorientados.

Há uns dias apanhei na RTP2 uma noite dedicada a James Dean e vi o seu Rebel Without a Cause (Fúria de Viver). A personagem enquadra-se nesse perfil de angry young man que John Osborne esboçou. Insatisfeito, desorientado, com vontade de agir, lutar, sem ter uma causa definida. Pediam-lhe apenas que vivesse.

Mas que vontade de viver aquela! "Live free, die young". Porque não temos hoje essa mesma fúria? Faz-nos falta alguma dessa inspiração. Na literatura, na música, na arte, na realidade que todos os dias escrevemos. É que continuamos desorientados, mas a chama e a paixão que davam encanto ao perfil esfumou-se.

Uns parágrafos então apenas para deixar a sugestão do livro e do filme. E finalmente descobri onde se tinha inspirado o videoclip da Paula Abdul onde o Keannu Reeves faz uma participação.