terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Descubra as diferenças I- We all in this together

A adolescência, pode-se dizer, equipara-se aos anos da faculdade. Com efeito, têm leis próprias, normas independentes, regem-se por outros princípios e há uma escala hierárquica da qual não é possível escapar.
O mundo dos filmes e séries para adolescentes é, por isso mesmo, impossível de prever.
Eles têm os seus próprios ídolos, a sua própria música, as suas próprias histórias.
Mas não nos esqueçamos que os adolescentes de hoje são os adultos de amanhã e talvez seja por isso que filmes impensáveis hoje, sejam clássicos no futuro.

Se em 1978 "Grease" era um sucesso sem precedentes, que lançava John Travolta para o estrelato, podemos dizer que, nos nossos dias, High School Musical é o seu sucessor, atirando, também ele, um actor para o sucesso, neste caso Zac Efron.
O estilo é semelhante: uma série de músicas que ficam no ouvido, uns passinhos de dança a acompanhar, um rapaz popular que só quer conquistar a menina simples e esperta, que se mudou recentemente lá para aqueles lados. Ambos se conheceram nas férias e nunca pensaram tornar a ver-se. Ambos têm como principal dificuldade um bando de amigos que não os compreendem.
No entanto, se HSM apela para a integração do ser diferente, já Grease, vindo de uma outra era, defende mais um conceito de uniformização de costumes. Enquanto o primeiro se fica pelo stress do status, o segundo foca-se noutro tipo de problemas da juventude como a gravidez adolescente ou o insucesso escolar.

De qualquer forma, de maior ou menor compreensão, são sucessos absolutos, com direito a sequelas. No caso de HSM teve mesmo a honra de sair na tv directo para o cinema e, acho mesmo, de certo modo, injusto, as suas músicas terem sido esquecidas nos óscares 2009- chamem-se tola mas considero que daqui a 20 anos haverá mais pessoas a lembrarem-se do "Now or Never" do que do "Jai Ho".

A ver vamos... Ficam aqui umas cenas interessantes. Descubram as diferenças!







Marta

sábado, 26 de dezembro de 2009

Em programação de Natal


Nada como esperar pela época das Festas para colocar a lista de blockbusters por ver em dia!! Mas tenho que dar a mão à palmatória, que este ano os quatro canais nacionais até se esmeraram na oferta de Natal, com algumas pérolas a encantar as tardes de 24 e 25 e outras tantas a preencher o serão, pela noite dentro.
Mas para aqueles que querem escapar à programação adicional de Morangos com Açúcar e afins, deixo aqui uma sugestão de Natal que vi recentemente e à qual fiquei rendida. Um dos clássicos dos cinema, adaptado a partir de uma peça de Tennessee Williams, com dois grandes actores da sua geração. Um texto excelente, numa história sobre a família, que não é tanto familiar, mas que para lá caminha. Para ver pela noite dentro...

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

A melhor cena de um filme VI: Make me immortal with a kiss

Sou uma fã incontestável da obra de Baz Lhurman, desde os grandes filmes às pequenas publicidades, apesar de ter ficado um pouco... desanimada com o seu último "Austrália".
Segue, pois aqui, um dos seus primeiros filmes, que apesar de já ter 13 anos, só o vi muito recentemente.
Este filme teve a virtude de me fazer apreciar verdadeiramente, eu que até já tinha lido o a peça, o "Romeu e Julieta".
Abem da verdade, esta é uma daquelas obras em que a sua verdadeira beleza só pode ser totalmente demonstrada na sua lingua materna, mas digam isso a uma miúda de 13 anos.
Os textos são arrebatadoramente poéticos, a obra é imortal e tantas vezes repetida como reinventada, vejam o West Side Story, mas sempre magnífica.
Nesta versão, digamos actualizada, de "Romeu e Julieta", Luhrman dá-nos o que melhor sabe fazer, um espectáculo de musicalidade e cenas memoráveis.
Segue aqui, uma das minhas preferidas. Texto simplesmente, fantástico!





Marta

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Não levem a mal, mas é no Domingo


Já por três ou quatro vezes esta semana corrigi algumas pessoas sobre a data de transferência de Macau para a China. Algumas, inclusive, afirmavam com toda a convicção que se celebrava naquele dia a data da formação da RAEM. Uma pessoa passa mais de metade do ano na terra, a ouvir falar todos os dias na celebração dos 10 anos da transferência, e ninguém acredita quando corrige que o dia em causa é o 20 de Dezembro...
Por Portugal têm havido uns rumores, esta noite, se não estou em erro, a RTP vai passar um programa sobre Macau. No entanto, no geral, com excepção dos que seguem a novela da TVI, poucos serão aqueles que no último ano se terão lembrado que se assinala uma década sobre o dito fim do império ultramarino português. Esperemos pelo Domingo...

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Récitas aos pobres

Perdeu-se o total às contas

e aos terços

que a vontade quis estudar,

desenrolou-se um romance

sem danos

do que a humanidade housasse impôr,

e eles perdem-se

insanos

na ingratidão de não viver


Coisas que não se prestam a termos

e que em céus se afogam de dores

não questiona nem o medo

nem os credos

pois deles se adulteram e tornam credores


das sementes que na terra sofreram lavra

cresceu um ser de infinita beleza


podera, ó Deus, esta mágoa

corresponder em sabor

a uma inteira promessa

De cara lavada

O blogue Considerações sofreu uma pequena mutação, sobretudo a nível estético, mas também no contexto dos conteúdos. Como os tempos mudam, e o pessoal não pode ser estudante para sempre, as exigências são outras e o tempo disponível para o efeito também. O espaço vai continuar a receber considerações sobre os mais variados temas, ainda que o âmbito do cinema tenha vindo a ganhar alguma dimensão, e a ouvir as diferentes opiniões que por aqui queiram deixar. Da minha parte, terei mais em atenção a devida resposta, por muitas vezes negligenciada.
De notar ainda que, apesar do endereço do blogue, este passa a receber publicações de uma segunda voz. Espero assim continuar a inserir ao espaço algum dinamismo, uma vez que as condições actuais não são propícias a uma actualização constante.

Um Feliz Natal a todos
Cláudia

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Notas do Dia


I am both surprised and deeply humbled by the decision of the Nobel Committee. Let me be clear: I do not view it as a recognition of my own accomplishments, but rather as an affirmation of American leadership on behalf of aspirations held by people in all nations.To be honest, I do not feel that I deserve to be in the company of so many of the transformative figures who've been honored by this prize -- men and women who've inspired me and inspired the entire world through their courageous pursuit of peace.But I also know that this prize reflects the kind of world that those men and women, and all Americans, want to build -- a world that gives life to the promise of our founding documents. And I know that throughout history, the Nobel Peace Prize has not just been used to honor specific achievement; it's also been used as a means to give momentum to a set of causes. And that is why I will accept this award as a call to action -- a call for all nations to confront the common challenges of the 21st century.
Barack Obama

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

A melhor cena de um filme V- O Crepúsculo e a Aurora

Como estou numa onda romântica, nada melhor do que ver um dos meus filmes favoritos: sublime na forma como está construído, inteligentes, subtil, engraçado....

Before Sunset e Before Sunrise, o primeiro sequela do segundo, são duas faces da mesma moeda. São doi pequenos grandes filmes, que brilham na sua simplicidade e impressionam pela sua profundidade.

Quem nunca quis voltar atrás e fazer as coisas de outro modo? Quem nunca esperou encontrar aquele ou aquela com quem sentisse à vontade para faler de tudo?
Se no final não sentirmos vontade de nos metermos no comboio e partir pela Europa fora, ao menos ficamos de alma lavada.

Deixo aqui uma das cenas que, posso dizer, mais me tocaram no coração...


Marta

terça-feira, 24 de novembro de 2009

A melhor cena de um filme IV- Christmas is all around






A cerca de 4 semanas do Natal é importante manter o espírito!
Deixo aqui um dos melhores filmes de Natal/comédia romântico, na minha opinião.
Boas Festas

Marta

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Terra à Vista... é África!


"... porque é que o País se queixa do que poderia ter sido?... e que nunca é e a culpa nunca é nossa: é do árbitro, é do campo, é de quem nos deu uma coça. Chega! Menos ais! É um murro na mesa. É o grito de Ipiranga em versão portuguesa..."

Marta

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Made in China

No outro dia, passeava eu calmamente pela feira aqui da terra com a minha primita de 9 anos, quando ela me perguntou de onde vinham as coisas que estavam à venda. Eu ri-me: da China, pois claro, não fosse, inclusive, estar uma grande caixote a um canto, onde se podiam ler, a letras garrafais, as palavras “Made in China”. Ainda que tivesse dúvidas, não haviam passado muitos dias sobre uma reportagem (julgo que por algum dos canais privados) em que os feirantes desvendavam sem preconceitos a origem dos seus produtos. “O material é bom e barato” – afirmavam – “e tem vindo a melhorar bastante de qualidade”.
Meio curiosa, não resisti em perguntar o preço de uma ou outra oferta. Em Macau, o comércio tradicional, onde se discutia o custo do produto, tem vindo a decair. Por várias vezes escutei pessoas a queixarem-se de como a abertura contínua de casinos havia prejudicado o seu nível de vida, com os preços a aumentarem em tudo, ao ponto de nos mercados os vendedores já nem aceitarem discutir os valores. O mesmo não sucedia do outro lado da fronteira. No entanto, europeu que por ali passe está marcado à partida (a cor da pele não favorece nestes momentos), e a menos que a pessoa tenha habilidade para negociar (o que infelizmente não é o meu caso) leva as suas compras a preços muito semelhantes aos das feiras por Portugal, se não superiores.
Foi o que confirmei numa das bancas, enquanto que a minha prima se entretinha com um CD dos Morangos com Açúcar.
Esta história vem a respeito de uma reportagem bastante interessante sobre a feira da ladra de Panjiayuan, no sudeste de Pequim, publicada pela Courrier Internacional deste mês. O artigo tem origem no jornal “Nanfang Renwu Zhukan”, de Cantão, e está datada de Março deste ano. Nela, o autor, Yang Xiao, faz um pequeno percurso pela história deste mercado de antiguidades e de como, ao longo das décadas, foram por ali passando autênticos tesouros, roubados das campas dos imperadores. Verdadeiro e falso são vendidos como relíquias, transportados para o Ocidente, enganando inclusive os próprios antiquários com a perfeição dos trabalhos. A fase mais recente começa na década de 80…

“Por último, na década de 1980, encetou-se uma vaga de contrabando. Hong Kong e Macau serviram de placa giratória para esse tráfego, com destino à Europa e aos Estados Unidos. O fluxo de exportações ilegais tomou uma amplitude sem precedentes nos anos 1990. Certos funcionários das alfândegas, convertidos em homens de negócios, quase deixaram de verificar o conteúdo das cargas. (…) Nos últimos, a feira da ladra de Panjiayuan viu surgir uma nova fonte de mercadorias. Os vendedores dizem que numerosos objectos «regressam do estrangeiro». De acordo com um responsável da empresa chinesa de leilões Guardian, o número de objectos regressados à China através de leiloeiras aumentou assinalavelmente desde 2003. E o já citado responsável do Instituto do Património afirma que, em Pequim, surgem mais de dez mil peças por ano referenciadas como «de regresso recente à China». Hoje, pinturas Ming ou Qing são mais caras na China do que no estrangeiro, o que explica que regressem de Londres ou Nova Iorque. Mas não há que dar cores demasiado nacionalistas a esta tendência, considera um profissional. Recorde-se uma venda solene realizada em Xangai, de objectos trazidos dos Estados Unidos – que eram afinal vulgares.”
In Courrier Internacinal
Novembro 2009
pp.86-91

Quem passa pela China facilmente percebe a amplitude destes negócios, não fossem eles quase bater-nos à porta. Histórias de imitações célebres de Rolex ou malas de luxo são frequentes e parecem dar bastantes dores de cabeça às grandes marcas. Não obstante, de cada vez que passava por Louis Vitton ou afins, era raro encontrar a loja vazia. Enfim, talvez seja o caso de começar a ponderar se não seremos nós por cá, muito em breve, a entrar em força nestes negócios menos claros, enquanto os nossos amigos do Oriente se deliciam com o original.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

A melhor cena de um filme (III) Nos tempos da Cortina de Ferro


No dia em que se passam 20 anos sobre a queda do Muro de Berlim, porque não recordar um dos heróis da Cortina de Ferro? Apesar de Casino Royal passar a acção para os nossos dias, James Bond herda o património de herói do mundo bipolar. Ficam aqui então as cenas de como tudo terá começado...


segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Surpresas da Semana

Definitivamente, Marguerite Duras só há uma. O Amante...




quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Em 50 anos



Estes Romanos continuam loucos...


segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Christmas Time...

Novembro está aí e, com ele, começam as campanhas para o Natal. O burburinho já se nota, sobretudo pela pequena explosão de publicidades a marcas de perfumes que sucede quase sempre nesta época. São as mais originais, ainda que nem sempre as ideias sejam bem desenvolvidas. Deixo aqui algumas das que considerei mais criativas.
















quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Em divina comédia


Um tempo houve em que a chuva

era feita de rumores e anseios

hoje bate, sopra, sacode

e perturba apenas

os meus sonhos


Um tempo houve em que a água

era rio, era porta, era fronteira,

hoje escorre pelos riachos das serras.

da mata, da vinha e do olival,

e compõe bucólicos quadros de passeios,

de letras em música

e de inspirações sem papel



O piloto sobrevoa aquela nova terra

que em nada muda nem se adensa;

da pequena que contava histórias,

fazia promessas,
vê o piloto que pouco mais há

que a envaideça


Tempos houve em que a memória

era feita de sonhos e desejos,

hoje a sereia perdeu a voz

e esconde ao mundo os seus projectos,

pois nada mais são


nada mais querem
que à semelhança dos outros

sua imagem descreverem

Tempos houve em que o tempo
corria lento, na madrugada,

hoje é águia, é passatempo,

é conversa de passageiros

e de fantasmas

Volve a mudança

na sua perda

que em nada mais se quer ficar
o eterno é a sua presa

o imediato o seu julgar

Aos ateus que desconhecem o tempo

confessa-se um Deus

enigmático...



Certo dia contou uma piada

fez dela verdade, fez dela destino,

o homem acreditou, contrariado

por ter que obedecer

a tal fatalismo


Esse Noé, que nome fora,

acolheu em si todos os tempos

perdeu histórias

perdeu intentos

e partiu à descoberta

de novos sonhos



Questionou fronteiras
questionou temores

maldice de santos

contou pecadores



Volveu o tempo

volveu a História...

transformou-se terra, transformou-se homem,
ambicionou-se tudo

criou-se a desordem



Noé descobriu que Deus

em comédias de Vigilantes
comprira os seus veredictos

e tornara certas as cantigas

que mais que de amor,
são de amantes

Estranha piada é essa do tempo

que cobra de alguns os desejos contraditos!

És obrigado a cumprir

o que por medo tinhas esquecido...


Que resta de ti agora?
Que resta do que eras?
Esse Deus realmente tem piadas

que não pertencem a esta comédia!!

Voa piloto, voa...

procura nas matas esses tarecos
que a sereia descobriu que o sussurro
apenas aos deuses é confesso

e as comédias são vicentinas

até onde o homem é sincero.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

A melhor cena de um filme (II)

Confesso que já gostei mais de A Paixão de Shakespeare do que gosto actualmente e 7 óscares para tal obra ronda hoje o exagero. No entanto, fora uma ou outra parte, continuo a considerar o argumento excelente. Ontem, mas minhas incursões pela madrugada, apanhei-o na TVI. Lembrei-me de rever uma das cenas que mais gosto nesta obra. Para apreciarem.

De outras narrativas de Macau




"...a falta das luzes, o impacto cromático na negridão de uma noite sem estrelas. Recordo a torre em forma de lótus, uma monstruosidade arquitectónica que aprendi a apreciar. A praça, o largo, a Sé, a calçada. O MacDonalds às 2 da manhã na Rua do Campo e o sunday, de chocolate, que me lembrava a globalidade. Os dourados, o fausto, o busto de sua excelência, as gôndolas, as lojas de marca, as joalharias, os corredores infindáveis de uma Veneza sem Carnaval. Encontro-me nas noites de insónia com o colega de casa, nas conversas existencialistas, filosóficas e políticas, ouvindo e semi-vendo a desventuras da Mariete e do Godunha ou as histórias eternas do Conta-me como foi. Corria o rio das Pérolas e ao longe a torre lembrava das Américas sem enredos e bandas-sonoras. E eu deitada na cama, sobre aquela meia lua de medos, chorando por uma memória que já não contava histórias, nem poemas, nem sonhos..."


terça-feira, 13 de outubro de 2009

A 13 de Outubro, 92 anos depois...



Estreia hoje, em Portugal e nos EUA, uma produção britânica sobre as Aparições de Nossa Senhora em Fátima. Para os crentes e não só...






Marta

Mnemosine

Elas enlaçam o porquê dos sonhos

e traçam as questões da nossa retórica
encabeçam o tacto
invadem os cheiros
rareficam os momentos
que compoem uma história

Questionam o tempo
que é feito de esperanças
e enlaçam as crenças
que em religiões avançam,
ajoelhamo-nos ao altar
descrevemos o terço
e rezamos às imagens
de um pequeno mas eterno apreço

Elas enlaçam os toques, as essências e os tons
fazem de pequenos acordes
músicas sem compositor

Ataca Mnemosine
que nem a Zeus julga obedecer
permanecem os pedaços e as notas
das histórias que ficaram por escrever

sábado, 10 de outubro de 2009

A Febre Indiana




Water/Água


Numa altura em que meio Portugal parece andar encantado com o mais recente trabalho de Glória Perez, por mais folclórico e Bollywood que seja (e aquele final foi definitivamente...estranho), lembrei-me de rever um filme indiano, de produção independente, que esteve entre os nomeados para o óscar de melhor filme estrangeiro em 2007, tendo sido nomeado e ganho diversos prémios por todo o mundo. Numa cooprodução entre a Índia e o Canadá, o filme encerra a "trilogia dos elementos", da controversa realizadora indiana Deepa Metha, onde sobressaem sempre temáticas ligadas ao mundo feminino na Índia. Assim, após "Fire" e "Earth", surge este "Water" ("Água"), um retrato do universo das viúvas naquele país, no momento em que as palavras de Ghandhi começavam a questionar as tradições hindus.

O filme começa com a história de uma menina de oito anos cujo marido morre logo após o casamento. Sem se lembrar sequer do seu novo estatuto, é deixada pela família numa casa de viúvas, onde através do seu olhar inocente nos vamos apercebendo do quotidiano e da vida a que eram votadas aquelas mulheres, de castas altas e baixas, e das razões que foram permitindo a manutenção do sistema. O filme encerra com a informação de que, mesmo actualmente e apesar das novas leis, ainde milhares de mulheres são deixadas em viuvários, onde as aguarda uma vida de privações e mendicidade.

Para quem desconhece algumas características da Índia, certos pormenores escapam, mas a história não é, por si, difícil de seguir. Ao mesmo tempo, acompanha-se o evoluir dos tempos e ganha-se uma nova perspectiva das transformações catapultadas por Ghandhi, assim como a mentalidade que conserva as tradições hindus. "Água" é assim um manifesto à expressão das mulheres e à luta pelos seus direitos, mostrando que, apesar das mudanças, ainda há muito que fazer, em muitas partes do mundo.

A película possui ainda cenários e uma fotografia lindíssimos, onde predomina o elemento da Água, associado aos vários rituais indianos e à sua fonte de purificação. De destacar ainda a sequência final, de vir as lágrimas aos olhos, que deixa um esgar de esperança ás futuras gerações.

Para quem gostou do "Caminho das Índias" ou para quem gosta simplesmente de bom cinema. Ou para quem, simplesmente, anseia por ver algo diferente.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Em tempo de Nobel


in Público




Presidente vê o prémio como "afirmação da liderança americana"
Barack Obama diz receber o Nobel "com profunda humildade"







09.10.2009


O Presidente Barack Obama afirmou-se “surpreendido” e disse ter recebido com “profunda humildade” o Prémio Nobel da Paz. Este prémio não é um reconhecimento dos seus “próprios sucessos”, declarou, mas uma “afirmação da liderança americana em nome das expectativas de pessoas em todo o mundo”.
O líder norte-americano adiantou que estava longe de esperar ser galardoado com o Nobel. “Estou ao mesmo tempo surpreendido e sinto-me profundamente humilde com a decisão do comité Nobel”, disse aos jornalistas reunidos na Casa Branca. “Não olho para isto como um reconhecimento dos meus próprios sucessos, mas sim como uma afirmação da liderança americana em nome da aspirações das pessoas em todo o mundo”, cita a Reuters.
O Presidente disse “aceitar este prémio como uma chamada para a acção”. E as acções que há a tomar não dizem respeito apenas aos Estados Unidos, mas a todas as nações do mundo. “Não podemos aceitar as crescentes ameaças impostas pelas alterações climáticas, que poderão prejudicar para sempre o mundo que vamos passar às nossas crianças, a propagação dos conflitos e da fome, a destruição das linhas costeiras e a desertificação das cidades. E é por isso que todos os países devem agora aceitar a sua parte de responsabilidade pela transformação na forma como usamos energia”, declarou.
Obama aproveitou para apelar ao fim da discriminação: “Não podemos permitir que as diferenças entre os povos definam a forma como nos vemos uns aos outros. E é por isso que tem de haver um novo começo entre pessoas de diferentes fés e raças e religiões, assente no interesse e no respeito comuns”.
Nos esforços globais, Obama inclui a resolução do conflito israelo-palestiniano e o direito de ambos os povos a “viverem em paz e segurança em nações suas”.
Também se referiu ao trabalho conjunto para “um mundo sem armas nucleares”, e aos desafios impostos pelos que ameaçam a segurança dos EUA e do mundo. “Sou o comandante-supremo de um país responsável por terminar uma guerra e a operar num outro teatro para enfrentar um adversário implacável que ameaça directamente o povo americano e os nossos aliados.”
“Para ser franco, acho que não mereço estar na companhia de tantas figuras transformadoras que foram honradas com este prémio, homens e mulheres que me inspiraram e inspiraram o mundo inteiro pela sua procura corajosa da paz”, adiantou. “Mas também sei que este prémio reflecte o tipo de mundo que todos aqueles homens e mulheres quiseram construir, um mundo que dá vida à promessa dos nossos documentos fundadores”.
O Nobel foi atribuído "pelos esforços diplomáticos internacionais e cooperação entre povos". “O comité deu muita importância à visão e aos esforços de Obama com vista a um mundo sem armas nucleares", declarou o presidente do órgão que escolhe o laureado, Thorbjoern Jagland. "Só muito raramente uma pessoa conseguiu como Obama capturar a atenção do mundo e dar às pessoas esperança para um futuro melhor", afirmou ainda o comité, avaliando que “a diplomacia [de Obama] é fundada no conceito de que aqueles que lideram o mundo têm de o fazer tendo por base valores e atitudes que são partilhados pela maioria da população mundial”.
Obama fez do desarmamento nuclear topo das prioridades da sua política externa, relançando negociações com a Rússia e fazendo mexer o tabuleiro internacional no sentido de pressionar as duas consensuais “potenciais ameaças” nucleares (Irão e Coreia do Norte). Outra prioridade é reactivar o processo de paz no Médio Oriente. No mês passado, liderou a histórica reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas em que foi aprovada de forma unânime uma resolução instando os países dotados de armamento nuclear a reduzirem esse poder bélico.
Mas, apesar dos ambiciosos objectivos internacionais, o Presidente norte-americano ainda não conseguiu romper o impasse nas negociações entre israelitas e palestinianos, tão pouco obteve quaisquer resultados no que toca ao polémico programa nuclear iraniano. A par disto tem pela frente muito difíceis escolhas a fazer nos terrenos de guerra em que os Estados Unidos estão envolvidos, à cabeça sobre a forma como conduzir a guerra no Afeganistão.
in Fundação Prémio Nobel
"for his extraordinary efforts to strengthen international diplomacy and cooperation between peoples"

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Em busca dos Clássicos (I) A Janela Indiscreta


Uma tarde bem passada na companhia de Hitchcock. Um filme excelente, com uma fotografia lindíssima e uma história deliciosa, onde não falta o inevitável suspense. Apenas algo a anotar: não fosse a ver os extras, não me teria apercebido de alguns pormenores finais, devido a uma conclusão um pouco abrupta. De resto, o filme apela por uma beleza muito própria, um sem número de histórias paralelas e uma realização magistral que nos coloca a todos à janela...

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Aos 99 anos

A luta continua?...

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Foi há 60 anos


clicar aqui para ler artigo da Lusa

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Dia Santo



E, finalmente, mais uma licenciada neste país...

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Ennio Morricone no seu melhor (2)

Mais uma música que comprova a excelência deste grande compositor. Também para os fãs de Cinema Paraíso.

domingo, 27 de setembro de 2009

A história

Eu fiz-te ver,


em teimoso sacrifício,


que a adoração


é voto frágil,


inconsequente,


e de tacanha


devoção




Foram outras escolhas,


imagens elaboradas


em papiros escondidos,


esquecidos,


de linguagens desconhecidas


e profissões insconstantes...




Saiba, meu senhor


que não se pede


o inquestionável,


nem se pretende


o proibido;


Quer-se o desejo


do que é palpável


seguro e perdoável,


e que em decisões


transforma o perigo




Foram temas


debates e resoluções...


Passagens de um segredo


que se anseia ainda por desvendar.


Não são ideais


nem breves vergonhas


apenas ilusões


de mártires que por si


se dispõem a imolar




A cabeça ergue-se


indiferente


a paisagens que não são suas


nem de nome;


Recordações de heranças,


apenas essas,


talvez lembranças,


que em vão ainda procuram


de novo se desenhar




A dança recomeça


e a oração é fervorosa...


a beata em fé se defende


da tentação que lhe é exposta,


em guerreiros de outra esperança


em falsificações de si mesma


em soluções sem confiança


e em dissertações em dose incerta;


o tempo revolve


torna-se a esquecer


e o Templo de novo se erige


na inveitável consciência


de que outras histórias


há ainda por escrever


sexta-feira, 18 de setembro de 2009

O Fantasma

Era dela ou do tempo? Inesperado, conseguia senti-lo na pele, a rugosidade da matéria, fria, segura, eterna, e a leveza dos seus instrumentos, os valores com que seduziam e a incapacidade de se erguerem, realizarem e conquistarem a realidade que à imaginação impelia.
Conhecia-lhe a cor, o odor e o jeito. A imagem percorria cenas de um incompreensível filme. Foram outros tempos... Espaços de graças, de loucuras e arrependimentos. Ficara, porém, aquele fantasma... A sombra de conversas proferidas em desacordo. Olhares de mágoa que permaneceram por esquecer. As ilusões e os sonhos que se descreviam no sigular. E as certezas de que o futuro lhe deixaria, sempre, o vácuo, a negro, do que deveria ter sido, do que desejara querer ter falado e de promessas que se cumpriram, de pegadas que não se apagaram.
Tornara-se inconcebivel esquecer! A imagem invadia o seu espaço, a sua mente, a sua pele, sempre que a guarda baixava, a memória aclarava e a voz, pesarosa, rouca, altiva, se afligia nos gritos que não era capaz de violar. Tudo, então, se misturava: o odor, o toque, o sabor, a vertigem... A pele rasgava quando roçava a pedra, a tijolheira sem cor, as ranhuras da velhice e emergia, uma e outra vez, na leveza da água. O nada envolvia-a, fazia-a querer descer, sumir, quando a contra gosto respirava. Aí, surgia novamente o fantasma.
Pedaços tardios de conversas por escrever, carícias que nunca foram dadas, cartas de solidão no plural, passeios eternos de triste melancolia. O fantasma era uma sombra, tinha traços, mas o rosto fugia. A expressão iróica, o sorriso galante... Mas o tempo esbatia o timbre de uma voz, uma ideia sem nexo e sem receios, as certezas de histórias por escrever.
Eram longas as conversas com aquele fantasma. Os encontros do nada, em qualquer parte do mundo. Os sonhos de assaltos em receios de o ver. E as ausências, por fim constatadas, de que se foi o momento de eternas possibilidades.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Descubra as diferenças

Sempre achei que para um filme se tornar um clássico tem de deixar uma ou duas cenas para a posteridade, que sejam consequentemente repetidas em outros filmes, os quais, por sua vez, podem dar origem a novos clássicos.
Eis aqui alguns exemplos...

A Diva





A Rainha






E... o Mestre




Marta

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Time of my Life



Não é o Dirty Dancing o filme favorito das mulheres de 30 anos? Vamos lembrar Patrick Swayze nos seus melhores tempos, altura em que dançava e fazia todos dançar, que vai deixar saudades e muitos corações partidos...




domingo, 13 de setembro de 2009

Em fase relatório



Eu pensava que um verdadeiro dandy nunca faria amor com Scarlett O´Hara nem com Constança Bonacieux, ou com a Pérola de Labuan. Eu brincava com o folhetim, para passear um pouco fora da vida. Descansava-me, porque propunha o inalcançável. Afinal não... Tinha razão Proust: a vida é representada melhor pela má música do que por uma Missa Solemnis. A arte goza connosco e descansa-nos, faz-nos brincar, mas depois ao mundo faz-nos vê-lo tal como ele é, ou pelo menos será. As mulheres são mais parecidas com a Milady do que com Lucia Mondella. Fu Manchu é mais verdadeiro do que Nathan o Sábio, e [a história] é mais parecida com a que é contada por Sue do que a que é projectada por Hegel.


in O Pêndulo de Foucault
Umberto Eco

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Ecoparque Sensorial da Pia do Urso




Mesmo ao lado de casa, sem nunca por ali ter passado, o Ecoparque da Pia do Urso não é mais que uma velha aldeia, cujas casas foram restauradas e o percurso pedonal na serra reformulado, de modo a criar uma experiência na natureza dedicada aos invisuais. Considerado único no mundo, o passeio pela Serra D'Aire segue por vários pontos, onde jogos e vários cenários lúdicos não dispensam o braille, permitindo um passeio agradável na encosta, um piquenique ou uma tarde de descanso.
A prova que boas ideias não precisam de vir acompanhadas da destruição do meio ambiente.










sábado, 5 de setembro de 2009

Lendo os Livros e vendo os Filmes


Ler/ver determinado livro/filme que tenha o seu enredo transposto simultaneamente nos dois suportes, provoca sempre, no mínimo, três efeitos no leitor/espectador que se disponha a conhecer a narrativa: o daquele que leu primeiro o livro, o daquele que viu primeiro o filme e o daquele que lê o livro/vai ver o filme por simples curiosidade, sem ter qualquer contacto com a acção que se vai desenrolar. Diria que a posição ideal é a do terceiro indivíduo. Sem quaisquer noções ou perspectivas a respeito da obra em causa, vai avaliá-la calmamente, talvez atingindo a sua verdadeira natureza, observando detalhes, surpreendendo-se com o inesperado e apreciando o livro/filme por aquilo que é e não tanto pelo que desejaria que fosse ou tivesse sido. A experiência torna-se, assim, mais agradável e completa, uma vez que é simplesmente a história, a narrativa (sob qualquer formato), as personagens e os cenários que nos cativam e não as imagens pré-definidas que temos deles. O mesmo não acontece com qualquer outro dos casos…
Dá-me um certo gosto, no entanto, ler primeiro as obras e apenas depois avaliar o mesmo enredo num filme. Sobretudo quando se tratam dos chamados clássicos da literatura mundial, uma vez que dadas as exigências actuais do espectador, a transposição para a película dá sempre azos a alguma romantização da narrativa por parte dos guionistas. O público, em muitos casos, até agradece, colmatando assim um ou outro defeito encontrado na obra da sua predilecção. E se há aqueles realizadores que seguem quase ipsis verbis as cenas, diálogos e o tempo cronológico dispostos nos livros, outros existem que não se inibem de trabalhar um pouco a imaginação, reescrevendo cenas e histórias, de modo a que fiquem mais ao gosto do público contemporâneo ou mais propensas a mostrar a potencialidade da sétima arte no seu melhor.
Ler os livros e ver os filmes é, sem dúvida, uma experiência que, se nos dermos a esse trabalho, ainda dá que pensar. Há um certo temor, julgo, em modificar muito o enredo dos grandes clássicos, tal a sua preponderância no espaço que ocupam na literatura mundial. Filmes como O Retrato de uma Senhora ou Anna Karenina são quase cópias exactas dos livros de que serviram de inspiração, uma vez que, sendo o resultado de uma interpretação já definida, é difícil para o realizador mostrar a sua criatividade. Em certos casos, no entanto, em grande parte quando são jovens com pouca experiência, mas com vontade de se afirmar ao colocar as mãos nesse material, vão saindo umas ideias um tanto ou quanto originais, reescrevendo, em certo modo, a história, uns mais que outros, sem nunca a atraiçoar. Pessoalmente, considero que foi esse o caso do último Orgulho e Preconceito. De outros livros, menos clássicos mas de autores também consagrados, poderíamos falar ainda de Expiação, Senhor dos Anéis, O Ensaio sobre a Cegueira, Chocolate e muitos, muitos outros, mas só para referir os mais recentes.
Grandes clássicos ou não, há também aquela tendência para contemporizar as obras datadas, romantizando-as, quase sempre, ou procurando introduzir a moral que defendem nos novos tempos. No momento, lembro-me do último Grandes Esperanças, poderia falar ainda de um filme coreano que adaptou a obra Daddy Long-legs, e outros, cuja imaginação agora me falta.


Toda esta argumentação para falar de um sem número de ideias que me passaram pela mente ao acabar de ler O Véu Pintado, obra que finalmente descobri num canto recôndito de um supermercado, depois de há muito ter visto o filme. Confesso que esperava ver a história do filme suceder-se enquanto lia (embora a tradução portuguesa que tenha encontrado deixe muito a desejar), o que foi acontecendo até chegar sensivelmente a metade da obra. A partir daí foi um reler completo dos acontecimentos e tomar contacto com uma narrativa que me era desconhecida.
Findo o livro - que aconselho vivamente - ao matutar nas duas obras, deparei-me com uma conclusão curiosa. A mesma premissa, as mesmas personagens, os mesmos acontecimentos e, em muitos casos, até os mesmos diálogos, a mesma moral e….um desenvolvimento completamente diferente, só para não dizer totalmente oposto!!! Na película de Naomi Wats e Edward Norton, a ida para a cidade chinesa infestada de cólera e o contacto com as freiras do convento francês, desempenharam em Kitty o mesmo tipo de transformação e uma vontade similar de se tornar alguém melhor que estão expressas na obra, apercebendo-se então da sua frivolidade e de como se deixara iludir tão facilmente num caso e numa paixão sem futuro. No entanto, no filme essa transformação aproxima-a do marido, no qual começa a notar as virtudes, conduzindo-os a um perdão e a uma reconciliação que no livro pouco mais ficam que implícitos. Incrível como até os diálogos resgatados da obra de Somerset Maugham adquirem sentidos completamente diferentes, sem nunca deixarem de significar exactamente o mesmo! As personagens são em tudo bastante similares, as actuações muito fiéis, mas o desenvolvimento da história é o exacto contrário.
À medida que me encaminhava para o fim da obra, não podia deixar de sorrir com uma estranha sensação. Foi como se o guionista do filme de 2006 tivesse adorado a história, todas as ideias que continha e a moral que defende, mas preferisse que a protagonista chegasse às mesmas conclusões de outro modo. Por tal, livro e filme são em tudo idênticos e em tudo divergentes, duas obras distantes que não deixam de obedecer ao mesmo tema, que, no fundo, dá nome ao título.
E é por estas pequenas coisas que vale sempre a pena ler os livros, ainda que os filmes já nos tenham retirado o entusiasmo pela história. Mesmo que ambas as obras se repitam em quase tudo, há sempre lugar para novos olhares e novas interpretações que mostram como a criatividade humana é, sem dúvida, fabulosa. Talvez mesmo ela esse tal véu pintado que é a vida…

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Para quem ainda acredita em Contos de Fadas

The Fall







Já perdi da memória a primeira vez que vi o trailer de The Fall - Um Sonho Encantado. O tempo foi passando, passando, e não havia registo da sua estreia por Portugal, nem sombra sequer da sua existência na cerimónia dos óscares. Paciência, ficará para sempre na lista daqueles famigerados filmes que só posteriormente alcançam o estatuto merecido.

Uma história de encantar, uma fotografia lindíssima, um conto de fadas que talvez pudesse ter ido mais longe, mas que mesmo assim consegue arrebatar pela sua natureza e por uma imagem cativante, capaz de contar mil e uma histórias e outros tantos sonhos. Um daqueles livros dos Grim ou do Andersen que folheávamos em crianças, líamos e relíamos, permanecíamos horas a contemplar as imagens, não interpretavámos metade da sua moral, mas a qual permaneceria, eternamente, numa memória que se reaviva e apercebe, por fim um dia, dos factos do mundo. Até lá, o conto de encantar vive de palácios e de princesas, de vilões e heróis, e talvez de um final feliz...

Para quem já não acredita em contos de fadas, o filme encanta pela ternura da jovem actriz, que durante as rodagens ficou convencida que o protagonista era mesmo paraplégico. Ou ainda pela música, que em catarse nos recorda de que material somos feitos, os nossos medos e angústias, que aos olhos de uma criança se desdobram sempre em outras cores e em outros significados.

Um filme que vale a pena ver, mais que não seja pela experiência....

domingo, 30 de agosto de 2009

Vamos lá entender a garotada



Devo confessar que quando saiu o trailer, a imagem que me passou de imediato foi a do Radcliff em versão vampiro, em mais uma série de filmes para entreter a garotada, principalmente aquela que começa a sentir o efeito hormonal. Na prática, fiquei sinceramente espantada com a história e sobretudo com as actuações, bem mais profissionais do que julgaria. E sim, fica a vontade imensa de ler os livros, nem que para tal levemos com mais uma empreitada ao bom estilo do Harry Potter. Esperemos que o próximo não decepcione! Até lá, a banda sonora deste "Crepúsculo" vai-nos fazendo companhia...


(ver banda sonora aqui)



domingo, 23 de agosto de 2009

O melhor momento de Xangai - o bund

Uma cidade que se prepara para receber a Expo 2010 (não vale a pena viajarem para Xangai este ano, só vão encontrar lixo e betão)

O melhor momento de Pequim - a Grande Muralha

De olhos bem fechados (quem não gosta de alturas que não utilize o teleférico para chegar ao topo)

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Ainda com os pensamentos no oriente

"It´s because of the river and the mountains" she said. "All places with mountains and water have beautiful women".
And In Chengdu I had met a Fuling native who told me the same thing. "But sometimes the people there have bad tempers", she warned. "That's because it's hot, and because they have mountains there". I often heard remarks like this, and they suggested that the Chinese saw their landscapes differently than outsiders did. I looked at the terraced hills and noticed how the people had changed the earth, taming it into dizzying staircases of rice paddies; but the Chinese looked at the people and saw how they had been shaped by the land. During my early days at the college I sometimes thought about this, especially since nearly all of my students had grown up close to the earth, and I wondered how the rugged Sichuan landscape had affected them. And at the same time I wondered what it would do to me in two years.
in River Town
Peter Hessler

terça-feira, 4 de agosto de 2009

De regresso de férias


Uma semana é realmente pouco, ainda para mais quando se quer visitar Xangai e Pequim. Mas, enfim, o tempo não dava para mais, pelo que se levou um cheirinho das duas cidades, com bom ou mau tempo, mas sempre com a noção palpável de uma certa realidade. Brevemente, um outro blogue vai registar algumas impressões desta viagem, assim que tiver tempo para organizar todo o material que fui acumulando nestes oito dias (incrível a quantidade de lixo que uma pessoa consegue arranjar em tão pouco tempo).
Com este passeio termina também este período em Macau, com boas e más recordações, mas sempre com a noção de que houve algo de importante a aprender. Encontramo-nos por Portugal, na abençoada terra, com novos planos e perspectivas e o regresso programado para este lado do mundo.

Boa viagem

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Numa onda de casamentos


Em tempo de bodas, fica a lembrança...




esta é dedicada a ti, Fidji ;)

Narrativas de Macau (19) Ser macaense



Em Macau existe aquela característica, às vezes perigosa, de nem toda a sua população ser "macaense". Este conceito é um tanto ou quanto dúbio e, correndo o risco de mesmo assim não ser precisa, resume-se aos, digamos, "mestiços", filhos da mistura entre português e chinês, hoje famílias com uma larga tradição no território. Na prática, distinguem-se do comum habitante de Macau por terem fortes raízes nas fundações da terra, possuem uma gastronomia própria, os traços são diferentes do chinês ou português, uma cultura e até uma língua (o famoso patuá) únicas. Por vezes até podem passar despercebidos, mas andam sempre por lá, marca inconfundível de toda a história e património desta terra. Em última instância, são os únicos que sabem falar inglês, português, cantonense (e mandarim), muitas vezes com perfeição. Filhos da terra, sem dúvida...
Isto não mais para lembrar o Encontro da Comunidade Juvenil Macaense que decorreu em Macau esta semana. Jovens e alguns menos jovens, de diversas partes do mundo, que vieram conhecer a terra de pais e avós, da qual pouco ou nada conheciam. Foi uma semana recheada de informação, com os representantes das várias Casas a tomarem contacto com todo o desenvolvimento que Macau sofreu nos últimos anos. A maioria parece bastante entusiasmada com toda a experiência, embora não deixem de transmitir um certo ar de perdidos numa terra que desconhecem e, em muitos casos, numa cultura que está bem longe da sua. É o inevitável passar do tempo pelas gerações de macaenses que partiram pelo mundo em busca de novas oportunidades. Por muito que se queira manter as tradições, nem sempre é fácil quando se está inserido numa tradição tão diferente da nossa. No entanto, por estes jovens existe gente muito dinâmica e com vontade de fazer valer toda a história que carregam. A ver vamos o que o futuro agora trará e se um novo encontro se vai realizar.
Apenas para comentar que ser macaense pode muitas vezes passar despercebido, mas o facto é que eles existem, manifestam-se e são o maior legado que portugueses e chineses deixaram por terras do Santo Nome de Deus.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Uma das melhores cenas de um filme

Eu sei que o filme é super pró-americano, mas adoro esta cena, não há volta a dar... E já que comemorámos esta semana os 40 anos da chegada à lua, fica aqui este clip para marcar a data.



segunda-feira, 20 de julho de 2009

Narrativas de Macau (18) Uma viagem

Existem aquelas viagens que sempre sonhámos fazer. Mesmo que sejam parvas, mesmo que não passem pela cabeça de mais ninguém, há sempre um sítio, inconfessável ou não, que sempre desejámos conhecer. À semelhança de uma certa colecção de livros que andam por aí a vender, também eu tenho os meus 1001 sítios a ver antes de morrer. Se a coisa me correr bem - esperemos que sim! - para a semana vou riscar três ou quatro da listinha.
Findo um primeiro período em Macau, vou comemorar a Pequim e a Xangai. Cidade Proibida, grande Muralha, Bund e afins, preparem-se! Aqui vai a Cláudia. É certo que por estas alturas do ano o pessoal gosta mais de praia e afins, mas eu sempre fui mais dada a turista para fins que se concretizem em absorver informação, pelo que aqui vou numa viagem meio doida a duas das cidades que sempre quis conhecer. Numa próxima oportunidade, talvez eu contemple as cidades de outra forma. Neste momento, vou mesmo fazer passeio de turista.
Se as promessas de internet não falharem, deverei actualizar este blogue com uns comentários e umas imagens deste lado do mundo. Apesar de também aqui ir dando umas informações, o discurso completo vai ser canalizado para um outro blogue exclusivamente dedicado ao evento. Por lá espero comentários de quem também já conheceu e, já agora, aceito sugestões de locais a visitar.
Encontramo-nos em Pequim!

domingo, 19 de julho de 2009

Antigos parágrafos




Três pessoas numa sala. Olhando em volta, são rostos que amamos ou não queremos confiar. Sensação de desespero. Lembra aquelas cantigas de velha escola, tão longe na memória que assusta, de roda rodada, voltando sempre ao recomeçar. Cantigas de roda que se repetiam, nos ensinavam sem questionar, esqueciam a origem, deixavam-nos sonhar. Três amigas numa sala conquistam o para sempre do idoso, crente num passado de maravilhas quando, ao vivê-lo, nada mais era que uma continuidade de interrogações. Poder saber 
hoje o que só se saberá amanhã... Desejo de possuir o que não quereremos ter na altura própria.
Três interrogações sobre o mundo. Sofás de estofos antiquados que guardam sestas, horas de estudo, momentos passado no regalo do descanso, observando uma televisão que transforma histórias incríveis em verdades inquestionáveis. Vamo-nos regalando com a irrealidade que quer ser presente, passado e futuro do que o ser humano demonstra. Pensam...: o que serei daqui a dez, vinte, trinta anos? Eu nem sei bem o que desejo. Será que encontrei o meu ponto final? Fim de parágrafo? Início de frase...
Quando estão três pessoas numa sala escura, sem janelas, iluminada somente pela lâmpada de poucos watz que não substitui os raios do sol, a beleza do dia, tudo se perde, tudo se transforma, muito se ganha. Ideias que se trocam, sonhos que se recolhem, novas questões, ambições se levantam. É a diferença entre a imunidade e a evolução, um caminhar pedregoso que não cessa, apenas abranda. Aí, surge a aflição, por vezes o desânimo, o pânico, a loucura. Mas, quase sempre, também um pouco de uma felicidade aguardada ao longo de uma prolongada infância.
São pequenos momentos que a velhice guardará com esperança de uma eternidade a recuperar na outra vida.


quinta-feira, 16 de julho de 2009

Loucura

Perdi completamente o tino e dei largas à esperança. De que vale o tempo, a pele sem mácula, o olhar de inocente e a perseverança, quando a viagem, ainda que provável, se fica nos andores da fé futura? Prefiro encontrar o céu e as nuvens e senti-los de perto, no nada que na sensação se tornam, a nunca passar do simples movimento eléctrico, compulsão sadia de um coração que bate. E o mundo move...pois claro que move! Nada se perde, tudo se transforma. A garganta aflige no grito que é de vitória e os olhos fecham nas lágrimas que não são de dor, nem de mágoa, nem de rancor. Do ideal, resta apenas o concreto, a terra, áspera, o vento, leve, a natureza, móvel, instável, eterna. Mas é dele que vive a ideia e da ideia, a imagem, o conceito, o objecto, a forma, o real.
Ainda que não torne a recuperar o génio, fica dele os momentos seremos e as lições estudadase decoradas que me recusarei a aprender. Os manuais desbotaram do uso, a caneta perdeu a tinta nas anotações. Os memorandos já não chegam, nem os post-its, nem as cábulas. Das experiências que as avós narram, é difícil perseguir a idealização. Pois ela é diluída em nada, em ódio, em inveja e em solidão. Uma sombra, um pote, um vidro, um cavalo de tróia, uma história de fadas contada por um velho a um petiz.
Mais vale perder o tino, não ambicionar a perfeição. O remorso, ainda que dolorido, vai acentuar aquela frase romântica que, apesar de fraca e breve, dá o seu eterno colorido a um glorioso romance. Pois o correr, na energia que move, se enrola o fruto e se cria o momento para o tal grande salto. Ainda que ele torne a redundar em pouco mais que nada...  


terça-feira, 7 de julho de 2009

Bandas Sonoras das Noites de Insónia



O melhor filme que vi nos últimos tempos...


quarta-feira, 1 de julho de 2009

Narrativas de Macau (17) Quarto Individual

Desde que cheguei a Macau, há uma frase que uso correntemente nos e-mails que envio para o pessoal de Portugal, dando conta das várias experiências por que vou passando, quer a nível do trabalho quer a nível pessoal: "acontece-me de tudo nesta terra". A malta já se ri e até envia comentários a respeito, mas, verdade seja dita, todos concordam com a frase. Até porque, estes meus seis meses por terras do Oriente foram pejados das mais variadas situações, umas imprevistas, outras nem tanto, mas que, uma a uma, deram o colorido ás lembranças que vou guardando. Nem tudo foram rosas. Diria antes que houve uma boa dose de lótus e alguns malmequeres. Aproximando-se agora o final deste período, embora já saiba que vou voltar, uma série de considerações vão surgindo, em espécie de balanço, e que resumem a minha experiência em Macau. A maior de todas elas é a resposta a uma pergunta que por inúmeras vezes me fizeram, mas que só recentemente encontrei a resposta. Se gostava ou não desta terra...
Quase maquinalmente, a minha contrapartida era sempre a mesma: gosto de partes de Macau. Nunca soube muito bem dizer efectivamente a que me referia, mas na minha confusão de espírito era a resposta mais ou menos acertada. Até que, desde há umas semanas, essa conclusão foi obtendo imagens, muitas vezes ideias, até que atingiu uma forma definida, correcta e que em tudo me agrada, porque, no fundo, corresponde àquela que foi sempre a minha maneira de ver o mundo, de construir as minhas histórias
, os meus discursos e, inclusive, o meu próprio dia a dia. 
É já costume comentar que me agradaria ter conhecido o Macau de há 10 anos, quando ainda conservava o seu lado mais rural, de enclave português esquecido no Oriente, antes da invasão americana de casinos, dos aterros no meio do rio e do exibicionismo e extravagâncias que o dinheiro provoca, ainda que não seja exactamente ao capitalismo que, julgo, devamos atribuir as culpas. Mas sim... Tenho alguma nostalgia por aquele Macau que não cheguei a conhecer, tão longe do meu imaginário quão maior é o choque que em mim despertam as fotografias antigas. Contudo, depois de algumas visitas pelo Macau antigo, num passeio inesquecível com o professor Cavalheiro (quem estiver a pensar em vir passar um temporada a Macau, tem obrigação de fazer este percurso), acabei por descobrir que mais que uma década, escaparam-se três ou quatro. Escapou-me o momento em que Macau, apesar de visivelmente dividido, possuía uma identidade própria, indiscutível, característica e tão particular que lhe conferia quase um certo romantismo, ainda que este existisse muito pouco.
De modo que acabo por apreciar os resquícios daquele Macau de antigamente e as histórias que eles me despertam, porque, afinal, a sua mutação nem está assim tão separada de mim no tempo, está apenas pelo progresso, pelas inevitáveis transformações da união com a China e pelas necessidades da evolução e dos homens. Claro que a Macau do século XXI também possui os seus encantos, ou então eu não veria noivas de cada vez que vou dar umas voltas pelo Venetian. Tem o seu lado mais frenético, por vezes mais obscuro e mais fiel a narrativas de detectives, mas também possui a face das luzes e a noção daquele impulso que a conduz ao cariz mais interessante da vida. Dá um certo gosto passear pela Almeida Ribeiro e ouvir a música, sentir o perfume que vem do Grand Lisboa. Estaco sempre no Wynn durante dez minutos, quando venho do NAPE, para ver os espectáculos com os repuxos, alguns até que já conheço de cor. E a cidade tem uma vida...diferente, que é de vício e crime em muitos dos seus aspectos, mas também é de alegria, convívio e de satisfação.
Nas festas de São João do último fim de semana, apesar da chuva que me deixou completamente ensopada, não resisti em adquirir, a preço da chuva, os "Contos de Macau" de Henrique de Senna Fernandes. Li-os cerca de três semanas antes de vir para este lado do mundo e agora, seis meses depois, volto a relê-los com a mesma paixão e deleite. No entanto, operou-se uma transformação. O nome das ruas, dos locais e, em alguns casos, das pessoas, são-me conhecidos, passo por eles no meu dia a dia. Do que era uma simples imagem, hoje consigo recriar, passo a passo, a história e apercebo-me que, enfim, hoje já faço parte dela. E, simplesmente, porque da imaginação de quem não conhece, passou a existir a imaginação de quem também possui as suas memórias e...as suas histórias.
Ao fim de uma semana, alguém me disse que eu já estava adaptada a Macau. Na altura ri-me, mas sim, mais ou menos... Verdade, verdade, pouca coisa me espantou nos primeiros tempos, já vinha familiarizada com grande parte da cultura e o facto de conseguir ler caracteres nos letreiros e placares dava-me uma noção de familiaridade que só quem também teve a mesma experiência pode entender. Interessou-me sobretudo o lado histórico de Macau, do qual sabia muito pouco, e que vim assimilando com grande curiosidade sempre que essa oportunidade me era facultada. Agora, encarar a terra como uma segunda casa ainda vai levar o seu tempo. São necessárias
 outro tipo de experiências, de convívios, de recordações que ainda não presenciei. Um dia sairei de Macau com a alma pesada  e a gaveta cheia de anotações. Por agora tenho apenas rascunhos.
Mas sim, não houve nada que não me sucedesse nesta bendita terra. Desde entrar nos locais mais incríveis a conhecer pessoas que nunca na minha vida imaginaria que estaríamos no mesmo país, quanto mais na mesma sala. Conhecem-se novas ideias, novas concepções de vida e adquirem-se  experiências que nos marcam, com maior ou menos peso, mas que não esquecemos.
O guião não acaba aqui, não senhor. Ainda este mês não vai terminar sem eu me ver a passear pela Cidade Proibida e a conseguir ver (espero eu) o mausoléu do Grande Timoneiro. Dessas andanças, no entanto, darei conta na devida altura. Até lá vou andando em projectos e a preparar as malas para mais uma viagem.