quarta-feira, 30 de julho de 2008

I Fórum Açoriano Franklin Roosevelt - Ponta Delgada



Com Marte e Vénus, eternamente amantes


Distinga-se o homem daquilo que representa! Num evento repleto de figuras de destaque nas suas áreas de trabalho e intervenção, a questão peremptória, e tão amplamente discutida, incidiu sobretudo na importância geoestratégica do arquipélago dos Açores no panorama geopolítico mundial! A localização da base das Lajes – assim como a possibilidade de um campo para treino de caças - não escapou imune às referências políticas e históricas dos conferencistas, assim como o sentimento individualista açoriano de se afirmar não enquanto território português mas enquanto um protectorado americano. De facto, o presidente norte-americano Franklin Roosevelt terá visto potencialidades no território, mais próximo, segundo referiu, dos Estados Unidos da América que as suas próprias ilhas no Pacífico. A temática, no entanto, situou-se nas «Relações transatlânticas na opinião pública Europeia e Americana», na Obamomania e no modo como os acontecimentos mais marcantes dos últimos anos poderão influenciar, estrategicamente, o isolacionismo das ilhas do atlântico. De 16 a 18, Ponta Delgada teve o rosto do maior presidente norte-americano do século XX.

Relógio no Pulso
Em Julho de 1918, o subsecretário de Estado da marinha norte americana, Franklin Delano Roosevelt (FDR), passou por Ponta Delgada, ilha de São Miguel, no decorrer de uma viagem de reconhecimento num oceano repleto de submarinos alemães. A sua biografia refere que terá ficado maravilhado com tudo o que observou e constatou nas ilhas portuguesas, mandando mais tarde pintar um pequeno retrato da chegada do seu navio ao local, imagem que esteve em cima da sua secretária até à sua morte. Permaneceu três dias, entre 16 e 18 desse mês, e uma tarde na Horta. Em algumas cartas recolhidas nos arquivos da fundação Franklin Roosevelt, o líder mais carismático da história americana pede à esposa, Eleanor, que mostre no mapa o sítio onde o pai estivera aos filhos. Anos mais tarde, como presidente dos Estados Unidos da América (EUA), terá sugerido que um dos centros da futura Organização das Nações Unidas se situasse nesse local, zona que, segundo referiu, teria «um clima muito bom». Noventa anos volvidos sobre o primeiro acontecimento, o I Fórum Açoriano Franklin Roosevelt destacou-se na oportunidade de ouvir uma longa lista de vozes que ofereceram a sua visão das relações transatlânticas, mas também pela divulgação de uma parte da história açoriana pouco conhecida do público em geral.
Nos três dias marcados apenas faltou o tempo para uma maior intervenção do público, constrangido pela sucessão apertada de conferencistas, intervenções recheadas de saber e irreverência mas que pouca ocasião tiveram para discorrer sobre outras abordagens. Os nomes presentes, no entanto, compensaram largamente qualquer desagrado, numa iniciativa que o embaixador português em Washington, João Vallera, qualificou de «um sucesso». Das bancadas do teatro Micaelense assistiram também um conjunto de estudantes de várias universidades do país, convidados pela Fundação Luso-Americana. Das relações internacionais ao jornalismo, a sua participação alentou, por mais que uma vez, o fornecimento de dados estatísticos pelos conferencistas e o próprio debate nas mesas redondas.
90 anos depois
Grosso modo, os três dias do Fórum resultaram numa divisão mais ou menos tácita dos grandes temas em debate. Se a 16, quarta – feira, a vida e obra de Franklin Roosevelt esteve mais em evidência (com, inclusive, a abertura de uma exposição sobre a personalidade), o dia 17 procurou o olhar americano e a posição estratégica da América no final do segundo mandato do presidente Bush, enquanto o dia 18 se focou efectivamente nas relações transatlânticas.
No seu geral, a ideia, por várias vezes exposta, dos americanos descenderem de Marte, deus da guerra, da acção, da luta, e os europeus de Vénus, deusa do amor, do romantismo, do idealismo. Embate a noção de que a UE, enquanto resultado de duas grandes guerras no seu território, procura actualmente o caminho da conversação, da diplomacia, como verdadeiro garante da liberdade e da democracia, sendo, por tal, várias vezes desacreditada junto dos seus descendentes, os americanos, filhos da luta e que mais sofregamente anseiam pela guerra. A prova foi efectivada por estatísticas e pelas declarações diversificadas, que apostaram sobretudo no diálogo como forma de entendimento para este milénio. De lado – talvez esquecido – o facto de que Marte e Vénus, ainda que de costas voltadas, são os eternos amantes da mitologia citada. Assim, elabora-se a crença de que por mais que os seus ideais sejam divergentes, as suas opiniões e motivações contrárias, Europa e América tendem a construir o seu futuro de mãos dadas. De um modo ou de outro, estão inevitavelmente condicionados às suas relações de aliados.
Com participações diversas e, por vezes, complexas, acreditou-se na importância dos Açores enquanto ponto fundamental á defesa do traçado mundial. Assim, como nas palavras de Roosevelt, «the only thing we have to fear is fear itself». O ponto alto rendeu-se, no entanto, à palestra proferida pelo ex-presidente da república, Mário Soares, que, apoiando Barak Obama, destacou que «os EUA enganaram-se de inimigo ao atacar o Afeganistão, envolvendo a NATO», referindo também que «o eixo do mal não tem qualquer consistência».
Comentando a actual crise económica, a mais grave desde 1929, lembrou que «faltam líderes capazes na Europa para dar novo impulso à UE», concluindo que «o neo-liberalismo esgotou-se». Num mundo que se prepara para acolher um novo líder completamente divergente dos anteriores cânones de governação americana, há que reconhecer que «a globalização selvagem, resultado de um capitalismo de casino, tem que ser regularizada para um desenvolvimento sustentável».
Actualmente, a política volta-se para salvar a economia, conjuntura que se verificou no período de Roosevelt. São necessários valores de força e consciência, assim como o diálogo enquanto «factor de paz». Soares adiantaria também que «o fórum realiza-se num momento de viragem do mundo», visto «estas eleições americanas serem as mais importantes desde a primeira eleição de Roosevelt».

Num diálogo rico pelos seus intervenientes, o fórum venceu pela forma prática e organizada em expor posições e problemas que necessitam de ser debatidos ou, pelo menos, colocados na agenda do nosso espaço público. Para quem veio de fora, o conhecimento inovador da importância do Arquipélago dos Açores veio conferir importância renovada a um território isolado e frequentemente esquecido pelos governantes continentais. Acresce a certeza de que o debate teria merecido uma cobertura mediática muito mais alargada que aquela que os nossos Media lhe conferiram. O público perdeu, assim, não somente uma reunião de excelência sobre temas pertinentes ao espaço global, como também um conhecimento próprio do quando partes retalhadas do seu território estão, neste momento, a ser inadvertidamente preteridas para a causa internacional. O ganho não deixa de ser nosso! Mas a conquista poderia ser muito maior.

Num mundo que vive do momento

Com o devido respeito pelas pessoas a quem a crítica possa afectar, será assim tão difícil esperar que a pessoa morra para, então, se fazer um filme sobre ela? Não querendo desmerecer o trabalho dos produtores/realizadores em causa, mas arricamo-nos a cair cada vez mais no ridículo. E eu até gostei do The Queen!

quinta-feira, 24 de julho de 2008

o outro lado dos jogos olímpicos

Report: Beijing bars told to ban black people during Olympics

by Dedric Lam

kobebryant071808.jpgIn a couple of weeks Beijing will turn into a party town and Sanlitun is predicted to be the epicenter of the Olympic night events. The South China Morning Post has however reported that the bar owners in the area were asked to refuse service to black patrons. The article reports:
Bar owners near the Workers' Stadium in central Beijing say they have been forced by Public Security Bureau officials to sign pledges agreeing not to let black people enter their premises.

"Uniformed Public Security Bureau officers came into the bar recently and told me not to serve black people or Mongolians," said the co-owner of a western-style bar, who asked not to be named.

We checked twice just to make sure: This story comes from the SCMP and not The Onion ... in 2008 ... as the world awaits the ultra-harmonious "One World, One Dream" Olympics. Did you hear that? That was the sound of our jaw dropping.

But something about this report doesn't gel. Could this possibly be true? Could it possibly be enforced? Given the strong national ties that China has built with African nations in the last two years coupled with the fact that many Olympic athletes (and their families) hail from African descent — not to mention that such a policy would be despicable and horrendous PR for a country looking to improve its image — it sounds like, perhaps, some racist in the Beijing government went out on his own on this one.

We hope strong denials from Beijing are in the works.

Will Kobe Bryant (pictured) be barred from enjoying a celebratory drink in Beijing?

sexta-feira, 11 de julho de 2008

O meu nome é Ninguém




Os westerns e Ennio Morricone no seu melhor...









esboços



“ O que pensavas? Que olhamos para a frente e esquecemos o que fomos para dar lugar a outra imagem, a outra pessoa? Fi-lo durante tanto tempo que quase me esqueci do que me fazia viver, do que me dava alento para estar aqui, nesta terra. Quando olhava para mim, naquelas noites sem fim, frente a um espelho imundo e rachado, não via a pessoa que era mas o reflexo do que queria ser. Negava, negava-me com todas as forças que Deus ou o demónio me davam para ter coragem de prosseguir. Ter o que nunca tinha tido, conhecer o que nunca tinha conhecido. Mas quanto mais caminhava para lá das fronteiras do que eu imaginava, quanto mais fiel procurava ser aos meus intentos, mais me apercebia que havia, sempre, uma força que me puxava para trás. Eternamente, sempre, para trás. E essa força eras tu! A tua imagem à porta de nossa casa, despedindo-te de mim com um até logo de esperança e não com um certo adeus. Tu, nas tuas tranças de criança, os olhos a brilhar e o coração cheio de sonhos, de expectativas. Foste tu que me fizeste voltar. Essa pessoa que vive aí dentro, que eu amei toda a vida e que continuo a amar com tanta paixão como a que tenho pelo que sou e pelo que possuo. Eu voltei para trás para te encontrar, para te levar comigo numa viagem que nos pertencerá aos dois. Porque, ao voltar, eu tornei a ser eu mesmo, voltei a encontrar a minha identidade. Esperei que nunca tivesses abandonado a tua. Eras a mais forte de nós os dois.”

no fim

um sucesso

nunca vem só

amor

com amor se paga

mensagens de pessoas de outrém

aquecem a mente

e refrescam a alma


já tive

quem alvitrasse

que o mundo

nem tem tempêro

apenas o sabor da derrota

e, por vezes, do desespero


na minha santa inocência

- outros clarões -

ouso acreditar na possibilidade

pequeno marco de audácia

pequeno marco de piedade

em viver além da crença

de um futuro promissor

dia a dia seguindo

olhando para trás

procurando

um redentor


nas linhas das moiras

resta ainda a ilusão

que a razão mesmo vencida

não deixa de ser razão

pois na voz do poeta

as verdades são eternas

ainda que o presente

insiste em renegar

a verdade

destas canconetas

Dias de despedida

Gosto daquelas manhãs em que o vento abre a janela e esquece pequenas gotas de chuva na cabeceira. Uma sensação de conforto, segurança tão fortes e ternas que o mundo parece comprimir-se naquele recanto do nosso sossego. Quando o dia acorda nublado, triste e sisudo, trazendo novos de personagens, amantes, que para sempre ficarão no passado, a nostalgia invade um caminho turtuoso, feito à base de pequenas memórias e lembranças algo turvas de como tudo terá começado. Dias de despedida! São quase sempre carregados de nuvens e chuva, mesmo que surjam a meio do verão. Do pouco que conquistam, o coração faz apelo às lágrimas e a cabeça ao esquecimento/impressão eterna. A cidade fica mais escura, as pessoas escondem os seus rostos. No caminho de regresso ninguém te comprimenta com a exaltação do primeiro dia, o sol quente e a voz eufórica das capas negras traçadas de setembro. Não, hoje o dia está cinzento. E já passaram quatro anos...

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Contos da madrugada - Intentos

O semblante triste, o rosto amargurado, a beldade de uma terra transformada em líquido de goteira. Que amargura, que destino! Como salvá-la? Ela mais não era que um reflexo, uma piada à sua beleza, à sua presença de lady no altar das estrelas. Ali, translúcida, deixava apenas à memória o desejo de outras noites passadas, de minutos e horas perdidos numa contemplação obssessiva, obstinada, crente que com sorrisos e carícias alcançaria os seus intentos. Como fora cruel a madrugada! A princesa diluira-se em bruma, em nevoeiro. Nada mais era que o brilho caleidoscópico da intensidade da luz na água. Uma coisa bonita de se ver, de colher em sorvos as gutículas de água, uma cantareira repleta daquele alimento eterno, uma frescura no verão. Uma ilusão instantânea de felicidade.

Ai, Clementina... Que fazer com o teu reflexo? Que alento posso eu dar às tuas súplicas, ao teu olhar de sereia que se encrava em mim e me obriga a agir, a saltar, a mergulhar no que desconheço para te trazer de volta para os braços de outro, de outros? Nunca me quiseste, apenas escondeste os teus reais intentos! Chamei-te tantos nomes que, se não me odeias, ignoras-me. Voltei para me redimir, para transformar dor e mágoa em paixão retida. E que encontro? Nada mais além da breve lembrança da tua passagem pela vida. Um tempestade de cores numa madrugada de nuvens, em que o sol mal consegue abrir passagem.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Constatações a três vozes


São três, as senhoras, donas daquela beleza sem dono que transforma quer o mundo quer os homens. Esvoaçam na sua candura alva e envolvente pela mente dos poetas, esses seres incógnitos e meio doidos que nada mais fazem que dissertar sobre o seu egocêntrico estado de alma. Sem elas, eles nada são. Sem elas, não sabem se não lamentar-se. Sem elas falam muito pouco além de si próprios.
Noutros tempos contemplei as musas com a ignorância de quem julga conhecê-las. Elas observaram-me a mim, deram-me pousio, acolheram-me no seu conforto, na suas hostes de embriaguez pessoal, no seu leito do íntimo sadio. Depois fugiram-me. Como fogem sempre daqueles que as amam. Hoje são como espelho rachado, desperdiçado na prateleira poeirenta de outros poetas.
E eu. Aqui sozinha...
Sem tecto, sem casa, sem lar que me acolha de tão perdida e me murcha se encontra a minha alma. Ela voltará - sei que sim! - quem sabe um dia. Estendida na segurança dos lençóis que posso mais fazer se não lamentar a minha triste sina? Palavras de conforto e gratidão percorrem-me a mente, quero prendê-las, saboreá-las, mas elas são escorradias, têm orgulho próprio. Tudo não passa daquele instante, do momento da conjectura. Fica, depois, a memória de as ter possuido, ainda que por segundos, no extenso rol da minha alcova. Nada mais são que pedaços repartidos de uma inspiração à beira do percipício. Num dia sol, noutro dia trevas. As moiras souberam fazer o seu trabalho...

considerações

«Encontro-me em débito limítrofe da falência psíquica.»

Cristóvão de Aguiar