O semblante triste, o rosto amargurado, a beldade de uma terra transformada em líquido de goteira. Que amargura, que destino! Como salvá-la? Ela mais não era que um reflexo, uma piada à sua beleza, à sua presença de lady no altar das estrelas. Ali, translúcida, deixava apenas à memória o desejo de outras noites passadas, de minutos e horas perdidos numa contemplação obssessiva, obstinada, crente que com sorrisos e carícias alcançaria os seus intentos. Como fora cruel a madrugada! A princesa diluira-se em bruma, em nevoeiro. Nada mais era que o brilho caleidoscópico da intensidade da luz na água. Uma coisa bonita de se ver, de colher em sorvos as gutículas de água, uma cantareira repleta daquele alimento eterno, uma frescura no verão. Uma ilusão instantânea de felicidade.
Ai, Clementina... Que fazer com o teu reflexo? Que alento posso eu dar às tuas súplicas, ao teu olhar de sereia que se encrava em mim e me obriga a agir, a saltar, a mergulhar no que desconheço para te trazer de volta para os braços de outro, de outros? Nunca me quiseste, apenas escondeste os teus reais intentos! Chamei-te tantos nomes que, se não me odeias, ignoras-me. Voltei para me redimir, para transformar dor e mágoa em paixão retida. E que encontro? Nada mais além da breve lembrança da tua passagem pela vida. Um tempestade de cores numa madrugada de nuvens, em que o sol mal consegue abrir passagem.
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