São três, as senhoras, donas daquela beleza sem dono que transforma quer o mundo quer os homens. Esvoaçam na sua candura alva e envolvente pela mente dos poetas, esses seres incógnitos e meio doidos que nada mais fazem que dissertar sobre o seu egocêntrico estado de alma. Sem elas, eles nada são. Sem elas, não sabem se não lamentar-se. Sem elas falam muito pouco além de si próprios.
Noutros tempos contemplei as musas com a ignorância de quem julga conhecê-las. Elas observaram-me a mim, deram-me pousio, acolheram-me no seu conforto, na suas hostes de embriaguez pessoal, no seu leito do íntimo sadio. Depois fugiram-me. Como fogem sempre daqueles que as amam. Hoje são como espelho rachado, desperdiçado na prateleira poeirenta de outros poetas.
E eu. Aqui sozinha...
Sem tecto, sem casa, sem lar que me acolha de tão perdida e me murcha se encontra a minha alma. Ela voltará - sei que sim! - quem sabe um dia. Estendida na segurança dos lençóis que posso mais fazer se não lamentar a minha triste sina? Palavras de conforto e gratidão percorrem-me a mente, quero prendê-las, saboreá-las, mas elas são escorradias, têm orgulho próprio. Tudo não passa daquele instante, do momento da conjectura. Fica, depois, a memória de as ter possuido, ainda que por segundos, no extenso rol da minha alcova. Nada mais são que pedaços repartidos de uma inspiração à beira do percipício. Num dia sol, noutro dia trevas. As moiras souberam fazer o seu trabalho...
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