sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Narrativas de Macau (5) o meu melhor amigo






Este post foi feito a pensar numa amiga de Portugal e no seu cãozinho de estimação que, a bem da verdade, lá bem para o fim do curso já era o cãozinho de todos nós, tal era a frequência com que ouvíamos falar nas suas peripécias e vicissitudes. O Jolly (espero honestamente que ela não esteja a chorar ao ler isto) terminou uma longa vida na semana passada. Com 15 anos (?) quase que se podia dizer que foi um daqueles sortudos que teve verdadeira vida de Rei, com refeições prósperas em vitaminas, higiene adequada e diária, cuidados de saúde atentos e o carinho que só um dono fiel e carinhoso pode dispensar.
O Jolly era quase cego, tinha problemas nos intestinos (ou em algum outro sítio responsável pelo mau cheiro), era pequenino, castanho torrado e brincalhão. Quem não estivesse à espera da sua entrada inesperada provavelmente seria responsável por uma valente pésada e respectivo trambolhão. Mas o "Jolas" não se importava, habituado que estava a estes desvarios da juventude. No fundo, julgo poder dizer que não era muito diferente da sua dona: feliz com a vida, sem se deixar ir abaixo pelas contrariedades.

O meu Piloto tem cinco anos. É um rafeiro orgulhoso, de pêlo castanho escuro, rente, sempre na paródia quer com amigo quer com ladrão. Só não passa confiança ao gato, o Tareco, siamês bravio e tresmalhado que já perdeu um olho em obscuras e tardias vinganças. O meu gato anda à solta pela minha terra, aterrorizando as galinhas da vizinhança e mantendo bem longe os ratos mais ousados, que no campo, por muito que se cuide, são quase tão persistentes como as baratas aqui da terra. O Piloto está preso à casota, na rua também. Primeiro porque a casa não está cercada e um cão à solta é pretexto para veneno em muitas portas e vários problemas para os donos. Segundo porque assim sabemos que a roupa fica no estendal até estar seca.
Quando o Piloto veio para minha casa era um cachorrinho, ainda por desmamar, que passou vários dias à solta sem nunca fugir. Ainda hoje, volta e meia, o soltamos, e lá vai ele passear, sem nunca descurar a nossa presença, acompanhand0-nos para onde quer que nos dirigemos.

Os cães e os gatos, com os seus feitios travessos e as suas teimosias, são, muitas vezes, os melhores amigos que possuimos. Não fingem, mostram logo o que querem. Aqui no jornal tenho uma colega que em duas mudanças de continente nunca deixou para trás os seus gatos, enormes e pesados, mas as suas grandes companhias. Mas talvez seja uma caracteristica da terra. Para todo o lado onde me dirijo as pessoas vestem os cães, nem que seja com um pequeno casaquinho. É o tipo de coisa que se ouve falar que existe, mas nunca esperamos encontrá-lo como uma realidade efectiva. Principalmente do sítio de onde venho, onde os cães ainda estão presos a casotas, no pátio das casas, no inverno e no verão. Mas se muitas vezes são os nossos melhores amigos, porque não dar-lhes esse mimo? Há pessoas que não merecem a mesma consideração...

No outro dia, no ano novo chinês, ao ver um cão com umas botinhas de bebé e bem agasalhado lembrei-me que a Cláudia compreenderia perfeitamente os mimos aqui dispensados aos animais de estimação. Não ficaria sequer espantada, como eu, por o constatar na maior parte das vezes em que me deparo com animais domésticos. Ao passar por um deles, lembrei-me do Jolly. 

Ias gostar de macau, rapaz...

1 comentário:

AP disse...

cláudinha, dsc mas sou de lágrima fácil...

o joly faria 17 anos dia 1 de novembro deste ano se ainda fosse vivo. não era quase cego mas estava 100% surdo e sim, tinha um bafo de onça terrível. se bem que isso nunca foi nada que impedisse eu dar-lhe mil beijos por dia naquele focinho maravilhoso, deitá-lo comigo na minha cama, entre outras coisas.

talvez o joly tenha vivido tanto por ter sido o cão mais amado do mundo.e ainda o é.no fundo, ele foi mais pessoa do que a sua própria condição lhe permitia. não era um cão, era um membro da família. (se pego outra vez no livro "cão como nós" do manuel alegre é choradeira garantida!)

leio o teu post e rio-me (chorando ao mesmo tempo) porque me lembro de uma vez em que comprámos uma capinha, para o joly, para a chuva. amarela, impermeável, com reflectores, bolsos e até capucho. mas o joly não gostou dela e a capinha voltou para a despensa 1 dia depois de ter sido comprada.ele tinha também uma mantinha polar linda, entre outras coisas de fazer inveja a muitas pessoas.

tenho muito amor para dar a animais (ao menos eles merecem) e por isso neste momento sinto um enorme vazio, uma espécie de carência canina. espero um dia conseguir ter outro cão...mas igual ao joly não existe. eu costumava-lhe dizer muitas vezes isto: "joly, quanto mais te conheço, menos gosto de pessoas".

obrigada por este pequeno "tributo" ao joly. significa muito para mim. um beijinho para ti e uma festinha ao piloto e ao tareco!