Eu criei por ti as sombras
Eu por ti abdiquei do fundo
Da moral e da honra
Nada do que fui será meu
Nada do que fui terá dono
Apenas a ti te devo o Nome
Daquele que hoje envergo
Risquei a outra face
Aquela, de outra vara
Que em doces pedaços
Da maçã comi envenenada
Perdida
Abandonada
Miseravelmente iliminada
Por memórias frustradas
Em histórias
De terceiros
O que resta de mim hoje
Emoldurada
Num quadrado de vidro?
O limite do meu tempo
Padece agora
Em segundos de solidão
Quisera eu ser jovem novamente
Retirando deste meu rosto
A indulgência
Dessa minha subversão
Mas seria Judite, como sempre
No acto
No ser
Na loucura
Na facada obscura
Que infligi
No meu coração
Voltaria ao caminho ordinário
Que do fácil assinou em maiúscula
Mas criou em mim
A astúcia
De mil e uma noites a viver
Tornaria a abrir esse livro
Essa pandora de arrebatamentos
Percorrendo
Em pormenor
Outras lições
Outros incensos
Em Nada tornaria a chamar-me
Em ti tornaria a colher
Essa brava e certa seiva
Que em enganos
me fez mulher
Pior pecador é o que saboreia
Com requintada dolência
Esse pitéu indescritível
Que é a vã consciência
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