sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Sobre Feiras

Feiras. Todas mais ou menos iguais, todas mais ou menos próximas, todas mais ou menos interessantes. Quem gosta de feiras persegue-as constantemente, nunca esquecendo aquela excitação pueril que o leva a saltar de barraca em barraca, mesmo que vá encontrando sempre mais ou menos o mesmo, mais ou menos igual, mas sempre recebido com o gosto de uma surpresa.
Há quem prefira feiras do livro. Só e somente. O aconchego taciturno de uma biblioteca, misturado com o odor centenar do papel timbrado. O prazer de sentir um tremor nos dedos ao folhear páginas desconhecidas, a abertura, quase mágica, da mente ao querer encontrar novas histórias, novas teorias ou, simplesmente, preços decentes! Talvez seja por isso que a Feira do Livro de Coimbra seja tão concorrida. Ela é, sempre e afinal, uma cidade de estudantes universitários eternamente à caça de uma pechincha, daquele livro caríssimo que é extremamente vital para a boa função de uma cadeira, daquele romance espectacular que meio mundo já leu e que ainda não se conseguiu adquirir. Talvez seja por isso...
Realiza-se todos os anos pela época da Queima das Fitas. Entre os fins de Abril e os princípios de Maio a expectativa é grande, para quem gosta de feiras. Na Praça da República, mesmo ao lado do café Cartola e não muito longe das escadas Monumentais, uma tenda de cor alva ergue-se, enorme, dando visibilidade e publicidade a um evento anual. Se não conseguir vender pelo menos chama as atenções, pois quem por ali passa não lhe é indiferente. Ainda que se tentasse fechar os olhos e não ceder ao espírito curioso que o mundo consumista propaga, as duas largas entradas, com extensa vista para um interior auspicioso, impõem a sua presença. O olho espreita, o ouvido atende, o corpo move-se e deparamo-nos na frente de um aglomerado de bancas que esperam por nós.
Quem gosta de livros não podia sentir-se mais em casa. São metros e metros de séculos e séculos de produção escrita. Encontra-se de tudo! Desde a novela mais rocambolesca à grande obra prima, desde a tese mais polémica à teoria da conspiração, da prosa à poesia, do testemunho ao ensaio. Ordenados por editoras que procuram expelir para o público ou as últimas novidades ou os excessos em armazém.



Só para quem gosta de feiras, naturalmente...

Divagões do momento

por quanto
te dás?
por quanto
te queres?
perdoa-me
sei que o pretendes
esquece-me
para sempre

não olhes
nos meus olhos
não te percas
onde não deves
por mais que tentes
por mais que esperes
nada do que é teu
me pertence

nem eu o quero
nem eu o desejo
só pretendo
uma recordação
daquilo que quis
em determinado tempo:
uma cor nos olhos
e lágrimas
no coração

o mundo tem destas coisas
ter-te por não te ter
és aquilo que desejo
mas o qual repelo
mesmo sem querer
um desejo inquieto
que não pode ser contido
mas que arrebata
maltrata
até possuir
o pretendido

sem rimas
ou poesias
falando
só por falar
perco-me entre as linhas
daquilo que me é proibido
amar...

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Záijiàn

Impacto Ambiental - A Egas Moniz

Vulto incontornável do século XX português, Egas Moniz foi o primeiro intelectual lusitano a alcançar o prémio Nobel pela sua investigação na área da imagologia e da psicocirurgia, com a descoberta e desenvolvimento da angiografia e da leucotomia pré-frontal. Aquém de quaisquer polémicas que estejam na retaguarda dos trabalhos Moniz, o seu legado foi fundamental no desenvolvimento da medicina da primeira metade do século XX, legando-nos uma herança que tem consequências ainda nos dias de hoje.
Egas Moniz não nasceu, efectivamente, com tal nomenclatura, nasceu Abreu em Avança a 29 de Novembro de 1874. A sua infância pouco tem de idílica e menos ainda de psicologicamente saudável. Com apenas 13 anos morre-lhe a irmã, deixando-o profundamente perturbado. Nos anos seguintes, e até completar 24 anos, a morte ceifa-lhe toda a família chegada e a penúria retira-lhe todos os bens, vendidos em hasta pública após a falência do negócio de família. Em plena juventude, encontrava-se sem ninguém.
É em Coimbra que o futuro médico, cientista e político inicia a sua carreira superior. Após os três primeiros anos de preparatórios médicos, entra finalmente no curso de medicina em 1984. Foi nesta cidade que ele viria a sofrer a primeira crise de gota, aos 24 anos, doença da qual padeceria até ao fim da vida e que o impossibilitou de tomar em mãos a prática das suas experiências. Como estudante destacou-se entre os outros no auxílio aos colegas pelos seus conhecimentos matemáticos, chegando mesmo a compor uma sebenta que analisava uma obra de álgebra do Dr. Souto Rodrigues. Tendo decidido alcançar mais graus académicos, defende, em 1900, a sua tese de licenciatura (Alterações anátomo-patológicas na difteria) que incluía a célebre dissertação A Vida Sexual – Fisiologia. Casa nesse ano com Elvira de Macedo Dias, não tendo havido filhos do casal.
Dois anos volvidos, Moniz completa a sua dissertação com A Vida Sexual – Patologia, que viria a dar origem à obra A Vida Sexual, bastante polémica na sua época mas à qual apenas apontaram o inconveniente de não ter sido escrita em latim para ter ainda maior divulgação. É nestes domínios que surgem as suas primeiras observações eugénicas, no facto de se dever proibir o acto do matrimónio a indivíduos com doenças graves contagiosas, de modo a não permitir a sua proliferação através da descendência.
Catedrático em Coimbra em 1910, rapidamente se transfere para a recente Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, em grande parte provocada pela sua ligação cada vez maior à política e ao regime republicano que acabava de vingar em Portugal. A abertura do seu consultório e as idas cada vez mais frequentes a França acabaram por o desvincular à cidade académica. Na capital ficaria a cargo da cátedra de Estudos Neurológicos, destacando-se cada vez mais o seu interesse por estas matérias.
Ligado à política desde os tempos de estudante (foi contemporâneo de Sidónio Pais em Coimbra, não é de estranhar que tenha relegado a sua carreira científica por tantos anos, voltando apenas a ela por volta de 1919, já com 45 anos. Em 1908 chegou a ser preso pela tentativa de derrubar a ditadura de João Franco. Em 1917 foi fundador do Partido Centrista. Até ao término da sua carreira política foi deputado, Ministro de Portugal em Madrid (1918), Ministro dos Negócios Estrangeiros (1918/1919) e delegado à Conferência da Paz (1918/1919). Foi ainda responsável, no âmbito da política laicizante da primeira república, pelo restabelecimento das boas relações de Portugal com o Vaticano. Com a morte de Sidónio Pais e a sua substituição abrupta na Conferência da Paz, Egas Moniz desilude-se por completo da política e resolver enveredar por outros caminhos, concluindo que tal carreira é feita de “ilusório sucesso e muitas contrariedades”.
Egas Moniz nunca se desvinculou da sua actividade médica, manteve a sua clínica aberta e recebeu todo o género de pacientes, sendo inclusive vítima de um atentado por um doente. Liberto da política, pôde enfim dedicar-se por inteiro a essa prática, manifestando ainda o desejo de encontrar algo novo no mundo científico. É neste sentido que se dá a descoberta da angiografia, que lhe valeu o Prémio Oslo em 1945, e da terapêutica da leucotomia pré-frontal, da qual receberá o Prémio Nobel de Medicina e Fisiologia em 1949.
Muitos debates se têm focado quanto ao legado científico de Egas Moniz. A acusação americana de que o Nobel lhe deveria ser retirado tem os seus fundamentos, não deixando no entanto de se considerar inverosímil quando o assunto é estudado mais a fundo e seriamente. Por outro lado, há quem considere a angiografia a sua descoberta mais importante e, de facto, fulcral para a detecção actual de tumores.
A angiografia cerebral beneficiou dos vários estudos que lhe antecederam e de variadas descobertas, como a dos raios-x em 1985. Os desenvolvimentos no âmbito da anatomia e da fisiologia do sistema nervoso, além da electrofisiologia, foram fundamentais, assim como os estudos de cientistas como Ramón y Cajal, Babinsky, Souques ou Sicard. Iniciou os seus estudos com o apoio sempre presente de Almeida Lima, ao qual pediu segredo aquando as suas primeiras experimentações com animais (cães). O objectivo era conseguir visualizar os vasos cerebrais através de uma injecção de determinada substância na carótida interna. A experiência foi considerada bem sucedida. Depois da experimentação em cadáveres passou-se para os seres vivos, porém os resultados não foram de todo animadores, resultando no saldo da morte de um doente com parkinsón. Renovada a metodologia, com novas substâncias de contraste e concentrações, surge o primeiro êxito a 28 de Junho de 1927.
Enquanto método de diagnóstico, a angiografia rapidamente se divulgou, originando escola e destacando personalidades como Reynaldo dos Santos ou Lopo de Carvalho. Mas o que de facto deu notoriedade a Moniz e Almeida Lima foi o desenvolvimento da psicocirurgia, na ânsia perene de descobrir um tratamento cirúrgico para determinadas doenças mentais, tais como a esquizofrenia ou a psicose. Recorde-se que antes desta época não existia qualquer meio de tratamento destes doentes, amontoando-se estes em hospícios e sofrendo com eles a agonia da doença.
Um dos dedos que se apontam a Moniz é o facto de este ter passado directamente para a experimentação a partir de um teoria, sem antes se envolver nos estudos devidos sobre a matéria. Efectivamente esses estudos existiram, mas foram praticados por John Fulton em chimpanzés e, a partir daí, adaptados ao ser humano pelo médico português. A teoria incidia sobre a hipótese de que através da lesão da massa branca do lobo pré-frontal, por meio de um pequeno instrumento chamado leucotomo, se poderia diminuir o comportamento agressivo e nervoso (conceito cérebro/comportamento de Cajal, também com influências de Pavlov) de doentes graves sem outro meio de recuperação. A operação quase simplista e os resultados visíveis da intervenção deixaram a comunidade científica entusiasmada, relegando para segundo plano determinado efeitos secundários considerados menores face aos benefícios que a leucotomia pré-frontal provocava.
Desde que Moniz ouviu os estudos de Fulton, em 1935, até à sua nobelização, em 1949, esteve presente em cerca de 100 leucotomias, praticadas pelas mãos saudáveis de Almeida Lima. A decadência actual da psicocirurgia resulta do radicalismo praticado pelo americano Walter Freeman que ao tomar conhecimento do êxito de Moniz desenvolve uma nova variante do procedimento: a lobotomia. Numa intervenção que durava cerca de uma hora, com um instrumento semelhante a um picador de gelo, Freeman destruía por completo o lobo pré-frontal. De facto resultavam-se grandes melhoras na agressividade comportamental dos pacientes, mas estes perdiam grande parte da sua capacidade mental. As milhares de lobotomias que se fizeram graças a esta radicalização foram a principal causa da má reputação a que, trinta anos depois, a leucotomia de Egas Moniz se viu votada. A lesão brutal de uma parte do cérebro responsável pelo planeamento comportamental e o seu uso desenfreado e excessivo, mesmo depois do aparecimento dos psicofármacos e em doentes que não correspondiam às tais “doenças graves sem outra possibilidade de tratamento” de Moniz, levam à luz das novas descobertas científicas a constatar-se a sua crueldade e a inúmeros processos e culpas ao Nobel português, além de produções cinematográficas como Voando sobre um Ninho de Cucos, que deu o óscar a Jack Nickolson. Acontece que, na época, o consentimento informado estava longe de ser pensado e a exigências da guerra pediam pragmatismos.
A possibilidade de obter os mesmos resultados pela via farmacêutica sem os danos permanentes da cirurgia cerebral reduziram a inovação de Egas Moniz ao esquecimento e à ruína, contudo este já não presenciou essa decadência. Aos 75, juntamente com o cientista suíço Rudolph Hess, o médico português é galardoado com o Nobel levando ao auge a leucotomia e glorificando, tardiamente, a angiografia. Por detrás desta atribuição destaca-se a importância do 1º Congresso Internacional de Psicocirurgia, em Agosto de 1949 em Lisboa, sob a alçada de Freeman. Foi nela que a delegação brasileira propôs a candidatura ao Nobel, prémio que não viria a receber pessoalmente na Suécia por motivos de saúde. O seu êxito teria ainda outros pontos altos, como a criação do Centro de Estudos Egas Moniz para investigação neurológica e a distinção com a Grã-Cruz de Santiago de Espada.
Descrito por António Damásio como bom-vivant requintado, interessou-se por arte, jogos de cartas e literatura, chegando a conviver com Teixeira Pascoaes. Jubilado oficialmente em 1944, Egas Moniz viria a morreu vítima de uma hemorragia aos 81 anos, em 1955.

Ni Hao

Introdução a Gustav Klimt

Gustav Klimt foi para a arte o que Freud significou para a medicina. Uma revolução na forma como as linhas e os traços, as cores e as formas, as texturas e os ritmos podem dar uma nova visão da obra do artista muito para além da mera reprodução realista. Por baixo da ponta do iceberg existe muito mais que a ilusão do objectivo. O artista tem alma, tem espírito, tem vontade, tem uma interpretação própria do que vê, ouve e sente. As emoções transmitem-lhe acima de tudo a forma como encara um objecto, um ser, uma paisagem, definem o seu mundo e a sua fantasia, os seus sonhos e constatações, não podendo por tal de estar afastadas da sua obra. O homem é emoção, sentimento, e sendo a arte uma produção humana ela reflecte sempre o eu do artista, a sua interpretação do que o envolve, o que é e o que deseja ser. Reflecte, afinal, a sua alma.
Klimt não foi meramente um pintor do feminino, contudo foi aí que se notabilizou. Desde os tempos em que ainda seguia o academismo até ao ponto máximo da sua maturidade enquanto pintor, as mulheres fizeram parte da sua vida e da sua obra, inspiraram-no, deram-lhe glória e fracasso, sem contudo se ter deixado prender a nenhuma. Elas surgem como mães, jovens, velhas, crianças, sereias, demónios ou, simplesmente, mulheres na sua condição humana, criando um resultado de grande erotismo mas também de profunda beleza.

Sociologia da Imprensa:Comentário ao texto de Max Weber

Em torno de um programa de pesquisa para a chamada sociologia da imprensa, tem-se como base um conjunto de questões que deveriam orientar o trabalho do sociólogo na análise da influência cada vez mais peremptória de um determinado tipo de indústria na opinião pública e de que forma essa opinião influencia essa indústria. O tema é actual e merece reverência. É fácil constatar que num espaço de um século o jornalismo evoluiu e assumiu uma importância longe de ser imaginada nos seus primórdios. A isso se deve, naturalmente, a alfabetização da sociedade, o desenvolvimento das telecomunicações e a inevitável globalização. Contudo, e apesar desses efeitos serem sobejamente conhecidos, não existe uma verdadeira pesquisa em torno do tema, erro grave num tempo a que muitos já intitulam da era da sociedade da informação.

Há questões peremptórias: que aspecto tem o público na actualidade e que aspecto terá no futuro, o que se torna público por meio da imprensa e o que não?; o que deve tornar-se público?; quais são as opiniões que existem hoje em dia a respeito, quais existiam antes, e quem são os que opinam?; em que medida essa crescente demanda de capital significa um crescente monopólio das empresas jornalísticas existentes; nos encontramos (…) diante da criação de trusts no sector de imprensa?; o que significa o desenvolvimento capitalista no interior da própria imprensa para a posição sociológica da imprensa em geral, para o papel que desempenha na formação da opinião pública?; quem escreve, hoje em dia, para um jornal estando fora dele e o que escreve?, quem não escreve e o que não escreve?, por que não?; de onde e como a imprensa obtém o material oferecido ao público?; é o constante aumento da importância da mera notícia um fenómeno generalizado?; porque será que a imprensa americana privilegia a exposição de factos enquanto e a francesa dá mais atenção aos artigos de opinião?, de onde (…) provém a diferença?; que consequências tem esse produto (…) que finalmente constitui o jornal?; a que tipo de leitura o jornal acostuma o homem moderno?; de que forma a leitura modela a forma como o homem vê o mundo?. Questões elaboradas na tentativa de definir o papel da imprensa na sociedade mas que, porém, como Weber constata, ainda não obtiveram resposta!
O autor afirma e bem que, de facto, não existe um verdadeiro método, uma verdadeira pesquisa que dê azo a todo este rol de perguntas, fontes fundamentais para percebermos em grande parte o mundo que actualmente habitamos. Desta forma propõe uma orientação para se proceder a uma investigação da sociologia da imprensa. Os passos que indicia resumem, no fundo, todas os temas de debate que já enumerou durante o texto. Assim, num primeiro momento, Weber inquere: O que aporta a imprensa à conformação do homem moderno? Isto, dito por outras palavras, centra a atenção do investigador para o que faz a imprensa para “controlar”, de certa forma, (se é que o conceito é utilizado correctamente) o novo homem, o homem da sociedade da comunicação que tudo sabe e tudo quer saber. Não basta simplesmente existir uma imprensa. Ela tem de se saber adaptar aos diferentes tempos, às diferentes mentalidades para produzir o seu efeito.
O segundo passo deve inferir: que influências exerce sobre os elementos culturais objectivos supraindividuais? Que deslocamentos produz neles? O que se destrói ou é novamente criado no âmbito da fé e das esperanças colectivas, do “sentimento de viver”, que possíveis atitudes são destruídas para sempre que novas atitudes são criadas? Ou seja, qual é a influência que a imprensa vai exercer sobre os valores, a ética e a moral, a cultura geral dos seus leitores, que novos objectivos cria e que outros destrói? Basicamente, vendo os dois lados da moeda, ou seja, a produção e a difusão da informação, está por este meio criado o processo que auxiliará o investigador na sua pesquisa para compreender a imprensa, as suas especificidades e os seus efeitos, para, num último momento, poder enfim ser criada uma nova ciência.
Claro que da teoria à prática vai um longo passo! Weber sabiamente destaca que o trabalho é muito e o pouco que se fez não permite um avanço mais gradual logo à partida. O princípio orientador será então a análise pormenorizada do jornal, a sua evolução ao longo dos anos e as respectivas secções informativas. Após uma análise quantitativa destes jornais dever-se-á avançar para uma análise qualitativa. Não basta apenas contabilizar o número de mudanças que se procedem nestes meios de comunicação na última geração, é igualmente imprescindível analisar de que forma o seu conteúdo assume divergências de dentro para fora do jornal. O autor destaca, com certo sentido avaliativo, o maior ou menor teor de sensacionalismo destes periódicos. Não nos esqueçamos que um dos tópicos exemplificativos que Weber enunciou foi a relação divergente que os públicos francês e americano tinham para com os seus jornais. O maior ou menor grau de emoção é um dos pontos fundamentais da investigação, na medida em que esclarecem a predisposição dos diferentes povos para com a imprensa e a forma como vêem a sua sociedade.
Estando estas metas alcançadas, o sociólogo terá enfim as ferramentas que lhe permitirão alcançar novas questões, mais essenciais, e cuja obtenção das suas respostas é o verdadeiro fim de todo este processo.
Um projecto como este não pode deixar de ser quase inviável sem o interesse do objecto de estudo em questão. Objecto esse que, como o autor destaca, tornou-se membro vitalício da sociedade capitalista, crescendo mais no sentido de um companhia financeira, uma trust, do que propriamente como instituição destinada à informação e apenas a tal, criando em seu torno um conjunto de capitalistas: os “clientes” e os anunciantes. Numa época em que o seu poder não pode ser relegado, o seu estudo torna-se pertinente. Esta proposta destaca-se assim e acima de tudo como um ponto de partida para uma criação muito maior e para a compreensão de uma sociedade que deixou de se render simplesmente à maravilha dos discursos para se submeter à espectacularidade das discussões e do arrebatamento político, social e económico que os media tão bem exploram.
Por outro lado não deixa ao acaso aquilo que o público anseia por assistir, sendo necessário também investigar esse lado mais voyeur da assistência para compreender de que forma a imprensa se adapta a ele para o conseguir controlar ou, simplesmente, levar a acreditar de que realmente vê, ouve e lê o que deseja. Analisar as preferências de um público é um ponto essencial para compreender a formatação da sua imprensa, a sua agenda – setting e a sua concepção do que deve representar a imprensa no seu mundo.
É uma proposta interessante – sem dúvida! – e bem consciente do papel da imprensa, a sua natureza e as suas consequências. Está pois constatado que a elaboração de uma sociologia da imprensa é necessária não só para a compreensão da imprensa em si como também do seu público e, no passo mais adiante, do homem moderno, do homem social, do homem da comunicação.
Esta tese destaca, por fim, a importância da imprensa e a responsabilidade que nela assenta de gerir mentalidades. Alerta para o facto de a sua acção não poder ser livre de censuras e o seu desenvolvimento ausente de consequências. Ela existe enquanto quarto poder, aliou-se ao fenómeno financeiro, não podendo portanto agir indiscriminadamente. Uma sociologia da imprensa irá portanto permitir que se criam leis, regras que controlem o que, já por si, é um objecto de controlo, quer esta o ansiasse ou não. Em última análise, mais que não fosse para que existisse materialmente um estudo onde as questões acima enunciadas tivessem a sua resposta e ajudassem a coordenar os inevitáveis resultados provenientes da sociedade da informação.
Esclarecida a importância da imprensa e do seu estudo, resta agora que as questões sejam colocadas e que o trabalho inicie. A proposta pode ser muito básica e atacar somente pontos primordiais do debate em causa, mas trata-se de um início. As respostas que daqui surgirem permitirão, se bem encaminhadas, trazer novidades talvez mais perturbantes do que aquelas que julgamos e trarão, sem dúvida, os traços da imagem de uma sociedade cada vez mais estranha e arbitrária ao homem que nela habita: a sociedade da imprensa.

Na tua pele

Olho-te e vejo-me. Quem sou eu? Uma pergunta tão presente que quase nunca a articulo. Quando de ti tenho em mim, personagem quase sem rosto de tanto que ele se mistura com o teu. Que tens que a mim me pertence? Quanto de nós partilhamos? Acreditar que sou única por vezes é improvável. Sou um ser. Um conjunto de dois que outrora foi uno. Por isso, hoje, sinto-me contantemente na tua pele. Oiço os teus pensamentos, vejo as tuas memórias, sinto as tuas emoções. Sofro, algro-me, vivo contigo. E um dia, como será?


Como será quando chegar o dia da derradeira separação. Não, não quero pensar nisso! Mas penso. Eu sou assim: não consigo deixar de pensar. Pensar no que poderia ser e no que sou, sonhar com tudo o que está para vir e o que já passou. Pensar tendo-te a ti sempre presente na minha pele.

Pequena divagação sobre o tema "Etnias"

Etnias...

Querer ter bem mais do que se tem. Estranho... Em todas as nossas acções há uma pitada de orgulho, ainda que altruista. Pensar sobre etnias é pensar sobre um outro mundo que não o nosso. Especulação... Uma advinhação que não é nossa mas que faz parte do nosso pensamento. Pensar etnias é pensar nisso mesmo - no que o outro, diferente - estaria a pensar na mesma situação.

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Cartas a um desconhecido XIII





Um dia que seja gostaria que voltasses a esta casa. Deixei tudo como estava, todos os elementos na mais perfeita harmonia perante a tua presença. Será um sinal de dependência? Em outros tempos quis acreditar que a tua sombra nada mais era que isso - uma sombra - mas aos pouco fui-me apercebendo que ia vivendo numa obsessão que tinha pouco de saudável e ainda menos de resposta. Estava só e como todas as pessoas sós deste mundo queria uma companhia, ainda que imaginária.



Foste-te embora e eu deixei que o desespero apanhasse um coração colado à tristeza. Hoje sei que perdi desta forma alguns dos melhores anos da minha vida. No entanto, quem me pode criticar? Sofri porque tinha que sofrer para tornar a viver! Não se deixa para trás um amor assim sem o seu devido luto. Não me arrependo. Que mais poderia fazer naquele estado?

sábado, 22 de setembro de 2007

Impacto Ambiental - Capitalismo




Gostaria de dizer umas quantas palavras: ao capitalismo. Se te amamos nos momentos de gozo, odiamos-te profundamente quando chega a crise, consegues ser amigo e inimigo no mesmo papel, amante e esposo na mesma encarnação, deus do sol e dos infernos no mesmo dia. Odio aquela dependência à qual o homem nunca consegue fugir. Odeio aquela dependência que, pior que a droga, retorna sempre à carteira anfintriã. Odeio o facto da sua existência ser a causa do declínio de tantas coisas que gosto.


Voltarmos a ser simples pessoas sem ganância é um sonho por demais longínquo. O mundo vai apodrecendo na sua própria evolução e progresso. Mas detestar este inimigo/amigo torna-se quase um pecado quando ele nos fornece o pão, a comodidade, a riqueza, ainda que apenas a uns pouco de nós todos. Houve quem defendesse que a pobreza, a igualdade chegasse a todos. Mas ninguém suporta essa existência. Pelo menos eternamente.


Basta assim rogar ao capitalismo que a ganância dos homens volte a retornar o que nos tirou. Nem sempre é possível e poucas vezes é fácil. Mas, pelo menos, neste nosso amigo existe flutuação. Talvez as ondas tornem a virar para o nosso lado...

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Simplicidade

Bem melhor é ter o mundo

que a possibilidade de não ter

assim quando este estiver perdido

posso recordar o seu sabor.



Em tempos possuí a crença

de um existência sem compaixão

hoje reconheço que a preserverança

é bem melhor que a solidão



Aos amigos que não conheço

rogo por um sinal de justiça

quero-os perto

quero-os comigo

quer ter sempre

quem me reconheça



amizade

ainda que de verdade

não se faz de palavras,

faz-se de gestos

de canções

de sonhos

promessas nunca quebradas

e pequenos doces de chocolate

partilhados entre todos

mesmo os que estão à parte





Não querendo ser singela

mas querendo-o ser também

na simplicidade das coisas

está o melhor

que o mundo tem

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Hino a Apolo

Olho à minha volta
E reconheço
Que o mundo que odeio
Também me moldou.

Na pele tenho as marcas
De um crescimento protegido,
Na mente tenho as cicatrizes
De um cérebro mutilado,
Nas mãos possuo a arte
Das artes criadas.

Apolo também definiu
A minha identidade.
E é na crueza das suas especialidades
Que eu me liberto
E digo,
Sem medo,
Que também estou viva
Para fazer vibrar
Bem alto
A minha voz.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Cartas a um desconhecido XII - Sombra

Entre as muitas coisas que tenho, sinto-me feliz por ter uma recordação tua. Pertence-me como um objecto pessoal, um batôn, uma roupa, algo que é só meu, que faz parte da minha personalidade e da qual não me posso desligar sem passar por um breve luto. Com os tempos fui-me apercebendo o quanto estás na minha memória, mas também o quanto te afastas-te da minha personalidade. Houve uma altura em que eras tudo. Hoje és pouco mais que nada. No entanto, continuo a venerar-te, a escrever-te e a aguardar uma resposta que reconheço que nunca virá. Pois bem, sou mulher de sonhos. Habito uma ilusão que me agrada e da qual não quero sair tão cedo. Mas tu já não és mais o meu tudo, já não és mais a minha alma. Pertences-me, fazes parte da minha identidade, não posso negar a tua existência, mas posso esquecer-me que aí habitas. Uma vez por outra vou lembrar-me de ti, que estás ali, com os teus cabelos castanhos e olhos escuros, mas já não será com aquela dor exacerbada, completamente nostálgica e perigosa por um bem que nunca chegou. Hoje consigo ser eu própria sem ter a tua sombra ao meu lado, constantemente, perenemente, eternamente ali!

papel de rascunho

grande mal
o desassossego
tem coisas
que a gente não vê
que depois de vistas -
diz o cego -
não há mais volta
que se lhe dê

fui criada longe
de coisas
do desassossego,
e agora que sou crescida
tremo de medo

ai quem me dera
voltar à minha infância
em que os horrores do desassossego
não passavam de ameaças
dos pais
dos avós
dos primos
dos vizinhos
mas nunca de nós
pobres pequeninos

queria ter como dantes
a ilusão da quietude
hoje vivo só
esperando que algo mude
e eu posso voltar
a ser
a menina do costume

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Inspirações

Letra Maiúscula; Antes da Vírgula - Numb

Sonds of birds
I´m here
I´m not invisible
I´m a being
Like you
Member of this land
That is yours
By bearn
By loyalty
By love…
Don´t forget me.

Je sais qui je suis
Naïve fille.
Mais je ne compris pas
Parce que je suis sole,
Une image
Dans le miroir

Cette maison n’est pas moi
Cette vie je ne voulais pas
Je suis sole
et
Je crois
Qui je veux mourir
Dans la même essence
Qui habite mon cœur:
La doloir.

Letra Maiúscula;Início da Frase

Nevoeiro... sinto-me triste...


Sair de casa em busca de um sonho. Ansiedade. Complementos de uma felicidade que se avizinha mas que não consigo pegar. Estar aqui dentro e querer partir, lá fora...


Nevoeiro...sinto-me só no meio da multidão...


Passo por rostos sombrios trajados de negro que fingem uma felicidade que não possuem. Abstracção de outra coisa que não é bem a realidade. É um sonho, uma utopia, um paraíso do qual ainda não provaram o fel.


Nevoeiro...arrepiu-me...


Esquecer que já fui outra pessoa à qual não não posso voltar. Esquecer um sem número de dores que está na altura de ultrapassar. Aprender a viver quando é tão difícil acreditar... Querer ser também nevoeiro para me poder dissipar, desaparecer e procurar noutro lugar uma existência diferente desta.


É dia de nevoeiro. Voltamos a começar!

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Aos ignorantes

Não ter paciência para ler ou para escutar é um defeito. Quando falo em ler não me refiro a livros ou a estudas, mas pura e simplesmente a uma notícia num jornal. O lead pelo menos convém saber. Não que por tal fiquemos mais lúcidos sobre o presente, mas sim para ficarmos mais lúcidos quanto ao que nos rodeia.
Balzac e a pequena costureira aventuraram-se no mundo da leitura numa época em que tal era proibido. Foram, por isso, influenciados por ela, numa época em que não podiam ter ideias. Hoje podemos. Custa assim tanto procurar uma?

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Impacto Ambiental - Balzac e a Pequena Costureira Chinesa

Balzac

Cartas a um Desconhecido XI - Perfeição

Lembro-me de ti...
Como não me poderia lembrar? Naqueles dias em que entravas, de mansinho, pela minha porta e me dizias as coisas que eu sempre sonhara ouvir. Lembro-me de ti como nos lembramos de uma promessa. As palavras que ficaram por dizer, os sorrisos que ficaram por traçar, os sonhos que me recusei a esquecer.
Noutros tempos recusei a lembrança. Hoje, só, não posso deixar de constatar que, na minha memória, nunca desapareceste. És uma sombra, uma imagem dilatada do que realmente foste, mas continuas presente, continuas a fazer-me companhia. Nas horas boas e más, mas, hoje, sem defeitos - apenas guardei as tuas qualidades. Quando estavas presente, por vezes, odiava-te. Hoje reconheço que anseio por esses pequenos traços de personalidade vincada em desformidade. Agradeço assim todas as tuas faculdades de alegria, todas as tuas palavras de conforto e uam companhia que, sei-o, nunca voltarei a gozar em toda a plenitude.

Mas...estranhamente... não me importo! Porque me haveria de importar. A tua imagem é-me muito mais bela agora do que quando estavas comigo. Conservo de ti o melhor da tua presença e esqueço o que me desagradava, o que me corruia. Hoje, és perfeito. E que bela é a Perfeição!!!!