Em torno de um programa de pesquisa para a chamada sociologia da imprensa, tem-se como base um conjunto de questões que deveriam orientar o trabalho do sociólogo na análise da influência cada vez mais peremptória de um determinado tipo de indústria na opinião pública e de que forma essa opinião influencia essa indústria. O tema é actual e merece reverência. É fácil constatar que num espaço de um século o jornalismo evoluiu e assumiu uma importância longe de ser imaginada nos seus primórdios. A isso se deve, naturalmente, a alfabetização da sociedade, o desenvolvimento das telecomunicações e a inevitável globalização. Contudo, e apesar desses efeitos serem sobejamente conhecidos, não existe uma verdadeira pesquisa em torno do tema, erro grave num tempo a que muitos já intitulam da era da sociedade da informação.
Há questões peremptórias: que aspecto tem o público na actualidade e que aspecto terá no futuro, o que se torna público por meio da imprensa e o que não?; o que deve tornar-se público?; quais são as opiniões que existem hoje em dia a respeito, quais existiam antes, e quem são os que opinam?; em que medida essa crescente demanda de capital significa um crescente monopólio das empresas jornalísticas existentes; nos encontramos (…) diante da criação de trusts no sector de imprensa?; o que significa o desenvolvimento capitalista no interior da própria imprensa para a posição sociológica da imprensa em geral, para o papel que desempenha na formação da opinião pública?; quem escreve, hoje em dia, para um jornal estando fora dele e o que escreve?, quem não escreve e o que não escreve?, por que não?; de onde e como a imprensa obtém o material oferecido ao público?; é o constante aumento da importância da mera notícia um fenómeno generalizado?; porque será que a imprensa americana privilegia a exposição de factos enquanto e a francesa dá mais atenção aos artigos de opinião?, de onde (…) provém a diferença?; que consequências tem esse produto (…) que finalmente constitui o jornal?; a que tipo de leitura o jornal acostuma o homem moderno?; de que forma a leitura modela a forma como o homem vê o mundo?. Questões elaboradas na tentativa de definir o papel da imprensa na sociedade mas que, porém, como Weber constata, ainda não obtiveram resposta!
O autor afirma e bem que, de facto, não existe um verdadeiro método, uma verdadeira pesquisa que dê azo a todo este rol de perguntas, fontes fundamentais para percebermos em grande parte o mundo que actualmente habitamos. Desta forma propõe uma orientação para se proceder a uma investigação da sociologia da imprensa. Os passos que indicia resumem, no fundo, todas os temas de debate que já enumerou durante o texto. Assim, num primeiro momento, Weber inquere: O que aporta a imprensa à conformação do homem moderno? Isto, dito por outras palavras, centra a atenção do investigador para o que faz a imprensa para “controlar”, de certa forma, (se é que o conceito é utilizado correctamente) o novo homem, o homem da sociedade da comunicação que tudo sabe e tudo quer saber. Não basta simplesmente existir uma imprensa. Ela tem de se saber adaptar aos diferentes tempos, às diferentes mentalidades para produzir o seu efeito.
O segundo passo deve inferir: que influências exerce sobre os elementos culturais objectivos supraindividuais? Que deslocamentos produz neles? O que se destrói ou é novamente criado no âmbito da fé e das esperanças colectivas, do “sentimento de viver”, que possíveis atitudes são destruídas para sempre que novas atitudes são criadas? Ou seja, qual é a influência que a imprensa vai exercer sobre os valores, a ética e a moral, a cultura geral dos seus leitores, que novos objectivos cria e que outros destrói? Basicamente, vendo os dois lados da moeda, ou seja, a produção e a difusão da informação, está por este meio criado o processo que auxiliará o investigador na sua pesquisa para compreender a imprensa, as suas especificidades e os seus efeitos, para, num último momento, poder enfim ser criada uma nova ciência.
Claro que da teoria à prática vai um longo passo! Weber sabiamente destaca que o trabalho é muito e o pouco que se fez não permite um avanço mais gradual logo à partida. O princípio orientador será então a análise pormenorizada do jornal, a sua evolução ao longo dos anos e as respectivas secções informativas. Após uma análise quantitativa destes jornais dever-se-á avançar para uma análise qualitativa. Não basta apenas contabilizar o número de mudanças que se procedem nestes meios de comunicação na última geração, é igualmente imprescindível analisar de que forma o seu conteúdo assume divergências de dentro para fora do jornal. O autor destaca, com certo sentido avaliativo, o maior ou menor teor de sensacionalismo destes periódicos. Não nos esqueçamos que um dos tópicos exemplificativos que Weber enunciou foi a relação divergente que os públicos francês e americano tinham para com os seus jornais. O maior ou menor grau de emoção é um dos pontos fundamentais da investigação, na medida em que esclarecem a predisposição dos diferentes povos para com a imprensa e a forma como vêem a sua sociedade.
Estando estas metas alcançadas, o sociólogo terá enfim as ferramentas que lhe permitirão alcançar novas questões, mais essenciais, e cuja obtenção das suas respostas é o verdadeiro fim de todo este processo.
Um projecto como este não pode deixar de ser quase inviável sem o interesse do objecto de estudo em questão. Objecto esse que, como o autor destaca, tornou-se membro vitalício da sociedade capitalista, crescendo mais no sentido de um companhia financeira, uma trust, do que propriamente como instituição destinada à informação e apenas a tal, criando em seu torno um conjunto de capitalistas: os “clientes” e os anunciantes. Numa época em que o seu poder não pode ser relegado, o seu estudo torna-se pertinente. Esta proposta destaca-se assim e acima de tudo como um ponto de partida para uma criação muito maior e para a compreensão de uma sociedade que deixou de se render simplesmente à maravilha dos discursos para se submeter à espectacularidade das discussões e do arrebatamento político, social e económico que os media tão bem exploram.
Por outro lado não deixa ao acaso aquilo que o público anseia por assistir, sendo necessário também investigar esse lado mais voyeur da assistência para compreender de que forma a imprensa se adapta a ele para o conseguir controlar ou, simplesmente, levar a acreditar de que realmente vê, ouve e lê o que deseja. Analisar as preferências de um público é um ponto essencial para compreender a formatação da sua imprensa, a sua agenda – setting e a sua concepção do que deve representar a imprensa no seu mundo.
É uma proposta interessante – sem dúvida! – e bem consciente do papel da imprensa, a sua natureza e as suas consequências. Está pois constatado que a elaboração de uma sociologia da imprensa é necessária não só para a compreensão da imprensa em si como também do seu público e, no passo mais adiante, do homem moderno, do homem social, do homem da comunicação.
Esta tese destaca, por fim, a importância da imprensa e a responsabilidade que nela assenta de gerir mentalidades. Alerta para o facto de a sua acção não poder ser livre de censuras e o seu desenvolvimento ausente de consequências. Ela existe enquanto quarto poder, aliou-se ao fenómeno financeiro, não podendo portanto agir indiscriminadamente. Uma sociologia da imprensa irá portanto permitir que se criam leis, regras que controlem o que, já por si, é um objecto de controlo, quer esta o ansiasse ou não. Em última análise, mais que não fosse para que existisse materialmente um estudo onde as questões acima enunciadas tivessem a sua resposta e ajudassem a coordenar os inevitáveis resultados provenientes da sociedade da informação.
Esclarecida a importância da imprensa e do seu estudo, resta agora que as questões sejam colocadas e que o trabalho inicie. A proposta pode ser muito básica e atacar somente pontos primordiais do debate em causa, mas trata-se de um início. As respostas que daqui surgirem permitirão, se bem encaminhadas, trazer novidades talvez mais perturbantes do que aquelas que julgamos e trarão, sem dúvida, os traços da imagem de uma sociedade cada vez mais estranha e arbitrária ao homem que nela habita: a sociedade da imprensa.
O autor afirma e bem que, de facto, não existe um verdadeiro método, uma verdadeira pesquisa que dê azo a todo este rol de perguntas, fontes fundamentais para percebermos em grande parte o mundo que actualmente habitamos. Desta forma propõe uma orientação para se proceder a uma investigação da sociologia da imprensa. Os passos que indicia resumem, no fundo, todas os temas de debate que já enumerou durante o texto. Assim, num primeiro momento, Weber inquere: O que aporta a imprensa à conformação do homem moderno? Isto, dito por outras palavras, centra a atenção do investigador para o que faz a imprensa para “controlar”, de certa forma, (se é que o conceito é utilizado correctamente) o novo homem, o homem da sociedade da comunicação que tudo sabe e tudo quer saber. Não basta simplesmente existir uma imprensa. Ela tem de se saber adaptar aos diferentes tempos, às diferentes mentalidades para produzir o seu efeito.
O segundo passo deve inferir: que influências exerce sobre os elementos culturais objectivos supraindividuais? Que deslocamentos produz neles? O que se destrói ou é novamente criado no âmbito da fé e das esperanças colectivas, do “sentimento de viver”, que possíveis atitudes são destruídas para sempre que novas atitudes são criadas? Ou seja, qual é a influência que a imprensa vai exercer sobre os valores, a ética e a moral, a cultura geral dos seus leitores, que novos objectivos cria e que outros destrói? Basicamente, vendo os dois lados da moeda, ou seja, a produção e a difusão da informação, está por este meio criado o processo que auxiliará o investigador na sua pesquisa para compreender a imprensa, as suas especificidades e os seus efeitos, para, num último momento, poder enfim ser criada uma nova ciência.
Claro que da teoria à prática vai um longo passo! Weber sabiamente destaca que o trabalho é muito e o pouco que se fez não permite um avanço mais gradual logo à partida. O princípio orientador será então a análise pormenorizada do jornal, a sua evolução ao longo dos anos e as respectivas secções informativas. Após uma análise quantitativa destes jornais dever-se-á avançar para uma análise qualitativa. Não basta apenas contabilizar o número de mudanças que se procedem nestes meios de comunicação na última geração, é igualmente imprescindível analisar de que forma o seu conteúdo assume divergências de dentro para fora do jornal. O autor destaca, com certo sentido avaliativo, o maior ou menor teor de sensacionalismo destes periódicos. Não nos esqueçamos que um dos tópicos exemplificativos que Weber enunciou foi a relação divergente que os públicos francês e americano tinham para com os seus jornais. O maior ou menor grau de emoção é um dos pontos fundamentais da investigação, na medida em que esclarecem a predisposição dos diferentes povos para com a imprensa e a forma como vêem a sua sociedade.
Estando estas metas alcançadas, o sociólogo terá enfim as ferramentas que lhe permitirão alcançar novas questões, mais essenciais, e cuja obtenção das suas respostas é o verdadeiro fim de todo este processo.
Um projecto como este não pode deixar de ser quase inviável sem o interesse do objecto de estudo em questão. Objecto esse que, como o autor destaca, tornou-se membro vitalício da sociedade capitalista, crescendo mais no sentido de um companhia financeira, uma trust, do que propriamente como instituição destinada à informação e apenas a tal, criando em seu torno um conjunto de capitalistas: os “clientes” e os anunciantes. Numa época em que o seu poder não pode ser relegado, o seu estudo torna-se pertinente. Esta proposta destaca-se assim e acima de tudo como um ponto de partida para uma criação muito maior e para a compreensão de uma sociedade que deixou de se render simplesmente à maravilha dos discursos para se submeter à espectacularidade das discussões e do arrebatamento político, social e económico que os media tão bem exploram.
Por outro lado não deixa ao acaso aquilo que o público anseia por assistir, sendo necessário também investigar esse lado mais voyeur da assistência para compreender de que forma a imprensa se adapta a ele para o conseguir controlar ou, simplesmente, levar a acreditar de que realmente vê, ouve e lê o que deseja. Analisar as preferências de um público é um ponto essencial para compreender a formatação da sua imprensa, a sua agenda – setting e a sua concepção do que deve representar a imprensa no seu mundo.
É uma proposta interessante – sem dúvida! – e bem consciente do papel da imprensa, a sua natureza e as suas consequências. Está pois constatado que a elaboração de uma sociologia da imprensa é necessária não só para a compreensão da imprensa em si como também do seu público e, no passo mais adiante, do homem moderno, do homem social, do homem da comunicação.
Esta tese destaca, por fim, a importância da imprensa e a responsabilidade que nela assenta de gerir mentalidades. Alerta para o facto de a sua acção não poder ser livre de censuras e o seu desenvolvimento ausente de consequências. Ela existe enquanto quarto poder, aliou-se ao fenómeno financeiro, não podendo portanto agir indiscriminadamente. Uma sociologia da imprensa irá portanto permitir que se criam leis, regras que controlem o que, já por si, é um objecto de controlo, quer esta o ansiasse ou não. Em última análise, mais que não fosse para que existisse materialmente um estudo onde as questões acima enunciadas tivessem a sua resposta e ajudassem a coordenar os inevitáveis resultados provenientes da sociedade da informação.
Esclarecida a importância da imprensa e do seu estudo, resta agora que as questões sejam colocadas e que o trabalho inicie. A proposta pode ser muito básica e atacar somente pontos primordiais do debate em causa, mas trata-se de um início. As respostas que daqui surgirem permitirão, se bem encaminhadas, trazer novidades talvez mais perturbantes do que aquelas que julgamos e trarão, sem dúvida, os traços da imagem de uma sociedade cada vez mais estranha e arbitrária ao homem que nela habita: a sociedade da imprensa.
Sem comentários:
Enviar um comentário