terça-feira, 18 de setembro de 2007

Cartas a um desconhecido XII - Sombra

Entre as muitas coisas que tenho, sinto-me feliz por ter uma recordação tua. Pertence-me como um objecto pessoal, um batôn, uma roupa, algo que é só meu, que faz parte da minha personalidade e da qual não me posso desligar sem passar por um breve luto. Com os tempos fui-me apercebendo o quanto estás na minha memória, mas também o quanto te afastas-te da minha personalidade. Houve uma altura em que eras tudo. Hoje és pouco mais que nada. No entanto, continuo a venerar-te, a escrever-te e a aguardar uma resposta que reconheço que nunca virá. Pois bem, sou mulher de sonhos. Habito uma ilusão que me agrada e da qual não quero sair tão cedo. Mas tu já não és mais o meu tudo, já não és mais a minha alma. Pertences-me, fazes parte da minha identidade, não posso negar a tua existência, mas posso esquecer-me que aí habitas. Uma vez por outra vou lembrar-me de ti, que estás ali, com os teus cabelos castanhos e olhos escuros, mas já não será com aquela dor exacerbada, completamente nostálgica e perigosa por um bem que nunca chegou. Hoje consigo ser eu própria sem ter a tua sombra ao meu lado, constantemente, perenemente, eternamente ali!

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