domingo, 17 de junho de 2007

Impacto Ambiental - Por outro lado...Azar

Número de azar: 13. Ou de sorte? Conforme a
religiosidade ou o cepticismo de uma pessoa! Em Fátima, pelo menos para a maioria dos comerciantes e hoteleiros, significa trabalho. Desde as sete horas da manhã de um dia até à uma da madrugada do seguinte, de doze para treze, de treze para catorze, não há regra – apenas trabalho!
Escolher entre o emaranhado de hotéis, residenciais e pensões um quarto para dormir no dia doze de Maio é tarefa árdua, se não mesmo quase impossível. Multidões passam a pé em direcção ao santuário, cansadas, esgotadas, com o peso dos corpos sobre os ombros, rosto exausto mas estranhamente alegre, pés inchados dos vários dias a caminhar até ao chamado Altar do Mundo. Os que vêm de carro também não têm muita sorte. Os parques de estacionamento já estão ocupados: por carros, autocarros, caravanas, tendas e churrascos. Da auto-estrada, mesmo a entrar pela rotunda Norte, onde um monumento justamente edificado aos peregrinos se ergue, uma fila de longos quilómetros aguarda a sua vez. A GNR esforça-se por mostrar organização e desenrasco. São todos polícias jovens, rapazes e raparigas, destacados há pouco mais de um mês para a pequena cidade. Param os carros que tentam furar as barreiras até á rotunda Norte e explicam o caminho que estes devem percorrer para chegarem aos seus destinos.
- O senhor faz assim: está a ver o meu colega ali à frente? Vira ali à direita e segue sempre no mesmo caminho até…
- Ó senhor guarda deixe estar que eu sou daqui, conheço os atalhos todos.
O motorista ri-se. Aquela situação dá-lhe sempre gozo. Chegados aos dois dias de Maio em que se comemoram as aparições de Nossa Senhoras aos três pastorinhos de Aljustrel todo o cenário se transforma. De uma pacata terrinha, quase a tocar a aldeia, em que todos se conhecem e convivem ao entardecer nas centenas de cafés e pastelarias da região, nasce um negócio. De um dia para o outro ninguém se conhece, ninguém quer perder a oportunidade de ganhar uns tostões à conta dos peregrinos. Dos colégios da terra, a garotada dos doze aos dezoito anos é recrutada para todo o tipo de serviços: pastelarias, padarias, lojas de santos, restaurantes, hotéis, livrarias… Ganham-se uns trocos, explora-se ali a mão de obra infantil (se a inspecção se colocasse a vigiar a Cova da Iria nestes dias…) durante doze, quinze horas ao dia, e os miúdos, satisfeitos na sua ignorância, ficam contentes por puderam comprar aquele CD, aquele livro, aquele DVD, MP3 ou qualquer outra engenhoca electrónica sem terem que estar constantemente a pedir aos pais.
José Saramago comenta nos seus livros que Fátima é um negócio. Nos dias doze e treze não se sabe muito bem o que de facto se ergue mais alto. Sente-se uma euforia estranha no ar, uma excitação que consegue esquecer que não há sol no céu e as nuvens ameaçam chuva. As pessoas da terra, essas, andam irritadas. Irritadas porque demoram quinze minutos a chegar ao trabalho em vez de cinco. Irritadas porque apanham trânsito logo às oito horas da manhã quando costumavam ficar apenas chateadas quando um carro se demorava a arrancar no semáforo e lá ficavam mais um minuto no vermelho. É um escândalo! – comentam. Os produtos com o dobro do preço, muitas mais pessoas a mexer, a perguntar por isto e aquilo, a reclamar, a ir embora sem pagar. Confusão. Espalha-se uma grande confusão.

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