sexta-feira, 15 de junho de 2007

Cartas a um desconhecido VI




Depois de tantos anos sem saber aonde pertencia, deparo-me constantemente a pensar que, talvez, não seja bem aqui o meu lugar definitivo. Quando finalmente encontrei este repouso respirei fundo e disse a mim mesma que, por fim, estava tudo terminado! Mas as coisas mudam... Como explicar neste momento que a beleza e familiaridade com que contemplava todas as coisas, estes lugares e estas pessoas, desapareceu? Como explicar? De que forma poderia dizer aos outros que já não me sinto a mesma, que cresci e sobrevivi a tudo o quanto tinha que sobreviver sem conseguir manter a minha alma intacta? Serei inconstante? Seria uma inconformada ou, simplesmente, constantemente insatisfeita com o que possuo?



Todas as minhas cartas a ti são uma série de perguntas de retórica. Uma retórica que, no fundo, nem resposta possui. Poderia argumentar que as faço simplesmente para me tentar compreender, mas o facto subsiste de que não me compreendo nem quando me interrogo. Sou uma insatisfeita! Os dias passam por mim e eu continuo a olhar o futuro com uma ansiedade inerente a quem procura muito mais do que aquilo que possui. Neste caminhar insolente, nunca encontro o que quero, nunca sei qual é o meu lugar, e uma felicidade que já deveria ter alcançado vai-se esvaindo como areia entre os dedos, restos de espuma do mar, ou qualquer outra metáfora que diga que o tempo passa, as coisas mudam e eu continuo sempre aqui. À tua espera? Já nem sei!



Amigo, eu sei que te procuro. No entanto, quando julgo que te encontrei e me decido a assentar redescobro uma amplitude da vida muito maior, outros lugares onde desejaria estar para te conhecer. Enquanto os dias passam, nada faço. Os temores que me suprimem vão crescendo e a angústia em que se tornou a minha existência não acalma. Mas sei, sinto, que esta é uma viagem que tenho que empreender sozinha, sem a tua ajuda misteriosa, sem a tua mão para me salvar. Só assim, quando enfim encontrar o local ao qual pertenço, te poderei olhar sem medos e sem máculos. Direi: Cheguei, Venci! E nada mais neste mundo me poderá deter!



Até ao infinito e mais além

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