segunda-feira, 18 de junho de 2007

Cartas a um desconhecido VIII

Nestas cartas que escrevo existe sempre um eu que não revelo. Como descrevê-lo? É uma espécie de síntese entre o que sou e o que faço, um intercâmbio de relações que entram em contacto com o coração e o cérebro e despuletam as mais incríveis reacções. Por vezes, nos momentos mais críticos, sei que essa colisão de entendimentos manobra os meus dedos e leva-me a revelar segredos que, sendo meus, não me pertencem. Como explicar? Existe um outro eu, tal e qual como em pessoa, que através de mim fala de situações, paixões e memórias que não são as minhas, nem poderiam ser. E, por mais incrivel que isso parece, identifico-me com esse ser, sei que ele está dentro de mim, cresce e respira como eu, protege-me de outros eus que não quero libertar.


Ouves-me? Escutas tudo o que te digo ou fechas os ouvidos às minhas súplicas incongruentes e melodramáticas que nada mais fazem se não entreter a minha triste pena? Sou uma inútil e sei-o com todas as forças da minha alma. Não vale a pena negares - há muito tempo que tive esta triste confirmação! Por isso, como acreditar que me ouves e me acolhes nas tuas orações quando, bem lá no fundo, reparo que nem eu mesma ouviria alguém que se queixa assim?

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