Por muito que se procure numa livraria ou numa biblioteca, nem sempre encontramos aquele livro, aquele conto, aquela novela, texto que efectivamente gostaríamos de ler. Com algumas excepções feitas e colocadas no devido patamar, não existe nos dias que correm um verdadeiro escritor. Refiro-me àquele autor que nos delicia com o sentido e a sintaxe das suas frases, a escolha das palavras, conseguindo-nos relegar o julgamento da história que conhecemos para a beleza de uma escrita elaborada em sentido com o momento, na exaltação perfeita das palavras. A última vez que encontrei tal escrita - tão profunda e absorvente, cativante nos elementos e nas personagens que compunha - foi nos livros do nosso caro Eça. Desse instante para hoje, muito tem passado pelas minhas mãos, livros que considerei soberbos e outros que se revelaram uma verdadeira desilusão. Reconheço que me deixo enredar frequentemente por traduções, mas existiram alguns lusitanos que também me decepcionaram. O facto é que - e julgo ser esta uma moral assente na mente de cada escritor - nem sempre a profundidade de um conto consegue acompanhar uma escrita verdadeiramente bela, quase musical, que torna a obra mais que perfeita, completa. Quando tal união é alcançada, a simbiose produz tamanha exaltação que poucos são os que conseguem passar indiferentes à obra. São muito poucos os escritores verdadeiramente completos presentes na nossa praça e com frequência julgo que outros tantos são sobrevalorizados numa glorificação desembainhada dum berço de ouro ou de uma boa lista de números na caderneta. Um destes dias encontrei um deles...
O nome de Henrique de Senna Fernandes surgiu quase por acaso - e por acaso foi anotado - no meio de uma conversa de café sobre Macau a uma jovem com vontade de embarcar o mundo mas que raramente sai da costa. Os livros e os filmes foram procurados, mas dado o limite de recursos actual apenas descobri na biblioteca da faculdade Nam Van (Praia grande) - contos de Macau. Uma série de pequenas histórias escritas entre a metrópole lusitana e a antiga colónia encravada no império do meio, mas de tal forma envolventes e sonantes que com relutância encontrei a última página e fechei o livro.
Contam-nos uma Macau inundada pelos refugiados de Hong Kong, nos inícios da segunda grande guerra, traçam-nos o perfil das tradições ancestrais e recentemente perdidas de uma terra que se move e se inquieta, sem nunca deixar de ser ela própria. Uma terra cosmopolita, mais ou menos sobre a sombra da irmã britânica, mas mesmo assim merecedora de uma contemplação própria, enaltecedora da herança do cruzamento entre dois mundos.
Para ler por curiosidade ou por amor à escrita. Não trará arrependimentos!
1 comentário:
porra, que grande lençol :p
mas vale a pena ler, sim senhora!
parabéns à futura jornalista asiática :)
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