sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Narrativas de Macau (3) A navegante da lua afinal existe



para a minha irmã



Nos meus passeios por Macau muito tenho visto, sobretudo pequenos momentos insólitos que o turista tende sempre a apreender com especial relevo para contar ao pessoal lá da santa terrinha. Várias coisas, por tal, me têm surpreendido, quer pela natureza quer pelo costume. Por exemplo, algures no Museu de Macau, onde lindos vasos com flores vistosas adornam a entrada, especialmente agora no Ano Novo, encontrei uma placa que ditava: Os vasos não são para levar! No outro dia, enquanto passeava pelas ruínas de São Paulo, reparei que as pessoas atiravam moedas para as janelas do monumento. Quem conseguir visualisar, aquilo é basicamente uma grande fachada em pedra, que foi preservada depois de um famoso incêndio que destruiu tudo o resto.  Ficaram as janelas, com alguma espessura, para onde os turistas atiram moedas. Em Portugal já o tinha visto em fontes e lagos, inclusive na abertura Igreja da Santíssima Trindade em Fátima os pequenos terraços com repuchos foram logo invadidos por todo o género de moedas até alguém de bom senso ter mandado afixar um placar em como tal era proibido. Lembro-me de comentar que o tuga não podia ver um fontanário que logo puxava a moedinha. Pelos vistos o pessoal anda mesmo desesperado, porque atiram moedas até para pedras de velhas igrejas.

No ano novo chinês, compra-se um vaso com uma tangerineira em fruta. Ao seu lado colocam-se flores vermelhas, simbolo da felicidade, e todo o género de adornos, desde fitas como no Natal, a lanternas chinesas, a pequenos cartões de boa sorte. Estes cartões dourados, com pequenos dizeres na fronte e uma moeda no interior, são oferecidos pelos casais às moças e moços solteiros, para a fortuna os contemplar no novo ano. Da mesma forma, quem colher um ramo da flor de cerejeira, que por todo o lado adorna a cidade, terá sorte no amor (ando a pensar roubar um vaso algures). São tradições antigas e por todos respeitadas, admiráveis até para quem as tenta compreender. Logo se verá o famigerado dragão…

Quem não tem nada com que se preocupar e passeia alegremente pela cidade iluminada, vai olhando para estes costumes e particularidades com genuino interesse e alguma boa disposição. Os chineses, afinal, pouco têm de acanhados. Falam, gritam e até questionam se encontram retrospectiva. Toda a gente fala inglês, as lojas são minúsculas e propagagam-se sem fim. Incrível as condições em que algumas pessoas vivem! E, no entanto, trabalham, vivem, alegram-se. Aqui é que se aprende o que é trabalho…

 

Nos meus passeios já percorri parques, lindíssimos, igrejas, mesquitas e templos. Num pequeno espaço natureza de uma beleza poética. Logo ao lado – mesmo pegado – edifícios enormes, horríveis, sujos e sem poesia. O melhor e o pior que se combinam e que levam novos e velhos a procurar aqueles recantos de beleza. Neles, vejo com frequência jovens acabados de vir das escolas, alguns julgo que em estado zen ou quase a precisarem de uma desentoxicação. Todos de farda, imagem de uma colectividade, de uma ideia de grupo, de classe, que o comunismo aprecia e que – afinal – acaba por marcar uma identidade e uma forma de estar, um certo tipo de interesses, uma certa forma de vida.

Mas o que mais me impressiona såo as fardas das miúdas. Saia, tudo bem! Mas são mesmo mini-saias, daquelas que os meninos gostam de levantar ao de leve ou olhar por debaixo da carteira. Sinto-me a entrar no universo dos animes e mangas janponeses, cujos trajes nunca pensei serem tão similares à realidade. E mais nem sequer estou no Japão.

Por isso, cara mana, hei-de enviar-te umas quantas fotos destas maravilhas do mundo oriental. Se encontrar a Bunny, não me vou esquecer de ti. Da próxima trago mais pérolas desta terra tão longe de casa.

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