terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Sal



Um dia desejei algo impossível. Não absurdo, nem tão pouco impensável. Simplesmente inexprimível.

Cinco pessoas se resumem em trâmites de uma fantasia louca. O que se julgou inalcançável, tornou-se palpável, sensitivo. E por detrás de uma insanidade ingénua, revelam-se prestações de um carinho e aconchego maiorais. Nada foi exigido, apenas a simplicidade de se existir segundo a vontade própria.

Em noites como uma das mil, o impossível e o credível encontram-se em simbiose fotossintética. O absurdo é natural, é humano e nem a Deus pertence. Relegam-se outros medos, outros desejos e encontra-se um passo na superfície rochosa de uma lua nova. Nada ainda foi escrito, ainda falta fazê-la brilhar.

Cinco, sete, oito ou nove pessoas em redor de um pretérito que de tão presente se torna imperfeito. Ainda não terminámos... Tudo o que nos alvitraram se transformou em mentira. Tu continuas imberbe em quimeras de uma nebulosidade plena; tu continuas a sorrir, aguardando - sempre aguardando - por essa tua Primavera; a ti, vejo-tevestida de branco a caminho de um altar imaculado, apenas teu; tu serás sempre tu, desde o primeiro instante das nossas vidas; contigo descubro sempre e quase me perco - que para além dos outros existo eu, apenas eu, e é comigo que devo contar em primeira instância; de ti aguardo o mistério perpétuado num rosto solitário, em que a luz do tempo incendeia a amargura; por ti descrevo uma incógnita, traço desajeitado de quem jamais aprendeu as regras de um jogo; em ti encontro-me no meu próprio ego, alma invejada que se quer mas não se pensa desejar.

Por tudo, por todos eles, nasce em especiarias os contornos inibidos de páginas de pequena dissertação. Condimentam, sem o saberem, o carácter daqueles que de mim nascerão, viverão e morrerão sob um lápis de pau, uma caneta sem tinta. Depois me perguntarão: quem são? o que foram? De todos eles será dito que nos seus rostos e sonhos, alegrias e nostalgias, se inscreve uma arte humana e divina, filha do desespero e da inspiração, mas que alimenta uma saciedade que em anos definha em prateleiras defuntas. Do tudo serão nada, do nada serão tudo.


Continuarei assim a esperar por ti. Sozinha. Vestida de branco.

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