quinta-feira, 28 de maio de 2009

leituras...






Não vi o filme e comecei a ler o livro um pouco naquela de ter qualquer coisa leve para me entreter nas horas vagas. Acho que o termo "leve", no fim de contas, não será o mais apropriado para descrever "Revolutionary Road", romance de Richard Yates e que deu recentemente origem a um filme que juntou novamente Leonardo Dicaprio e Kate Winslet. Quanto ao filme, li críticas extremamente positivas e confesso que se ainda não vi a película foi por falta de oportunidade. No que respeita ao livro, parti um pouco às cegas, sem saber bem o que poderia esperar, se um romance bem feito se uma novela das mais rascas.
Um amigo, que entretanto também começou a ler o romance, disse-me que parecia que o autor falava connosco, ao mesmo tempo que nos mostrava aquele jovem casal em crise, não tanto no intuito de nos dar uma lição de moral, mas, talvez, uma lição de vida. 
Pessoalmente, encontrei nele um relato humano, puro e simples, de pessoas que partem numa aventura com as maiores expectativas e que, a pouco e pouco, sem se aperceberem muito bem como nem porquê, descobrem que as decisões que tomaram e as opções que foram obrigados a seguir não constituiram tanto a sua vontade, mas sim o desejo de alcançar um certo tipo de sonhos (reais ou não, pouco interessa) que os tornariam mais completos ou, pelo menos, mais satisfeitos com o inevitável correr da vida.
Não será o livro da insatisfação, será antes uma perspectiva sobre a natureza humana nas suas relações e a forma como determinadas decisões nos podem marcar de forma irreversível. 
A ler! Quer se tenha gostado ou não do filme.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Foi assim em Cannes





Parabéns a João Salaviza, vencedor da Palma d'Ouro em Cannes, pela sua curta-metragem "Arena"

sábado, 23 de maio de 2009

Narrativas de Macau (15) no princípio...


Regimento de Almeirim, 1508

Por el-Rei D. Manuel I a Diogo Lopes de Sequeira, para que fosse a Malaca recolher informacões sobre a China e os chineses


"Perguntareis pelos Chins, e de que partes vêm, e de quão longe, e de quanto em quanto vêm a Malaca, ou aos lugares em que tratam e as mercadorias que trazem, e quantas naus deles vêm cada ano, e pelas feições de suas naus, e se tornam no ano em que vêm, e se têm feitores ou casas em Malaca, ou em outra alguma terra, e se são mercadores ricos e se são homens fracos, se guerreiros, e se têm armas ou artilharia, e que vestidos trazem, e se são grandes homens de corpos, e toda a outra informação deles, e se são cristãos, se gentios, ou se é grande terra a sua, e se têm mais de um rei entre eles, e se vivem entre elesw mouros ou outra alguma gente que não viva na sua lei ou crença, e se não são cristãos em que crêem, ou a que adoram e que costumes guardam, e para que partes se estende a sua terra."


Pobre homem... Mal ele sabia!!


quarta-feira, 20 de maio de 2009

De um porto que se percorre em crises de personalidade



in Jornal Tribuna de Macau

Foi abrigo de piratas e lar de tancareiras. Hoje vai perdendo a vida que lhe pertence por tradição, no recolher das velas dos pescadores


Das fotos antigas de um Macau ainda por esquecer, recolhe-se uma paisagem infindável de barcos de enorme porte, que também eram casas, que também tinham nomes, mas que não contrastavam com a imponência das construções da nova era. Eram de Macau porque respondiam à sua arquitectura, contavam a sua história e imortalizavam uma vida - uma existência - que ia além das suas pontes, dos seus contornos, dos seus edifícios com cheiro a rio e da sua paisagem com sabor a oriente. No Porto Interior, uma rotina que já era velha quando nascia o Lisboa faz do dia a dia o abraçar de uma nova aventura: sobreviver, quando o mundo impele para a mudança...

O cheiro não pode ter mudado! Faz parte da pesca, do rio, da doca e de uma poluição já contida, mas nunca impedida de se espalhar pelas grades que separam a terra do seu berço e o homem da sua origem. Mascara-se a vista, recolhem-se as redes, mudam-se os trajes e os temas, porventura também as palavras, os deuses e as suas cores, mas permanece o rio, com o seu temperamento, com as suas causas e favores, com os seus rituais e as suas crenças, com a sorte e o azar de cada um, ainda que os tempos se tenham transformado e os ritmos se escrevam com outras sonoridades.

O sol também queima, o rio também brilha, a pele dos homens também curte, envelhece, ante a intensidade da faina, com o odor, ainda que em rio, dos afazeres do mar. Mas mulheres, essas, já por cá não andam, voltaram à terra. Os “tan-kás” que as criavam entraram para uma história que é de Macau e que em Macau ainda se recorda. Ficaram nos contos de Senna Fernandes, nas memórias de Leonel Barros e noutros quantos que se deliciaram em escrever sobre o rostos da terra e do rio que compuseram, durante séculos, esboços de olhares de terna compreensão ou incipiente ignorância e até de amor, múltiplo, incongruente, mas que se desfaz e esconde no Delta do Rio das Pérolas.

Também foi leito de piratas, criminosos do beco e seitas sem nome, de inspirações tão audazes quantas a memória quiser engendrar. Foi campo de mulheres e homens em exaltação do que o mundo, em guerra, poderia – quiçá – renovar, mas também daqueles que se espalharam sobre terra de estrangeiros e se inclinaram na ilusão de que sobressaiam ao seu inferior.

De mãos atadas ou de costas voltadas, do rio se marcou a fronteira que, sobrevivendo, criou terra de estranha designação. E o porto ali se deixou, impregnado do que se ficou por dizer, por ouvir e por ver e, talvez mesmo, por sentir, porque também nele naufragaram segredos que hoje ninguém poderá – ou saberá - desvendar.

Mas a história continua, porque não haveria de continuar? Novas telas se pintam, ainda que em cores de outras terras e em traços de outras gentes. Em sussurro se ouvem outras línguas, porque o global também sabe conquistar um local isolado.

O porto, despejado, revela que também ele evoluiu, encontrou outras formas de contar as suas aventuras e os seus anseios, que saíram da pena e do pergaminho de uns poucos que observavam, para uma maioria que já consegue especular, encontrar e  - quem sabe – reinventar votos de um silêncio que não é eterno, apenas obscuro e indigente. Porque o peixe continuará a crescer, a faina continuará a ir de encontro à alvorada e o que é essencial, ainda que o não se recorde, permanecerá como a âncora do que não se quer morto, apenas de visível e melhor aspecto.

No amanhecer do século, vestiu-se a cidade de cores que não as suas, de linguajares que se julgavam distantes e de formas de vida que a terra acolheu. O porto mudou! Fez-se paisagem de jogo, de mesa e conferência. Adquiriu romantismo de cinema onde só existia teatro de palco e poesia de português faminto. Morre para nascer de novo, com outra essência e outras formas, tornando a compor histórias mas de almas menos bravias, menos apaixonadas e, por tal, menos chocadas a crenças de novas gentes.

Talvez se tenha perdido a fé, o tempo e a coragem. Talvez se tenha mesmo rendido à consciência que o que era deixou de ser e em crise de personalidade viva meio perdido naquilo que ainda poderá conquistar. Os que o navegavam esquecem a sua morada e anseiam por um regresso que hoje se faz em terra e já não no rio, já não no mar. Os que o conhecem ditam-lhe a morte, que de velório já vem preparado, e esperam que a mesma paisagem com sabor a oriente, a ocidente adquira um paladar mais requintado, mais belo e mais cinéfilo, pois quem sabe o que o novo – porto – ainda trará aos que hão-de vir...

Mas o que interessa, no final? Ele ainda lá está e ainda faz parte de uma história. O conto de quem chega em manhã de estranho sol de Macau e percorre, sem memórias, o que a mente lhe oferece e em detalhe capta pequenos pedaços do que ainda está por contar. E mesmo reconhecendo o seu fim, mesmo observando marcas do que o futuro lhe trará, consegue também compor, ainda que em retalhos de pano, novas histórias de um tempo que já não lhe pertencerá.

Porque o sol ainda brilha, a pele ainda curte, envelhece, ainda cheira a peixe, a sal, ainda advinha ao mar em que o rio desagua e ainda se sente o sabor do oriente que acolheu, em 500 anos de história, paisagens tão divergentes como aquele rio que fomenta uma memória...

A do Macau que em ainda consegue ser o do antigamente!

C.G.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Balada (2)




Os Sapatos (que não são de cristal)

Em constância do que sonhei ser e serei, nada me percorre com mais intensidade que a audácia de alguns nas suas relações com os outros. A aprendizagem teve línguas, teve nomes, teve cheiros e até teve sons. Teve a sapiência da inexperiência e o sorriso de vários nomes que soletrei sem pensar. Teve música e teve abraços, teve revelações e constatações, mas acima de tudo possuiu aquele ardor de conhecer por se querer, viver porque se vive e saber por que deseja a sabedoria. Do desejo em tons de cinza, caril e luz, perdeu-se o cristal que da riqueza apenas possuía a ilusão da textura. Mas que ilusão mais profunda que a pertinácia de a querer manter?

domingo, 17 de maio de 2009

Eurovisão 2009: e o conto de fadas tornou-se realidade









Não estou a citar o comentador da RTP, estou simplesmente a constatar um facto. Verdade seja dita, assim que ouvi a música pela primeira vez (e isto já há umas semanas) disse: está ganho!! Tinha muitas coisas a seu favor... A carinha de Harry Potter, para começar, uma música com uns tons escoceses bastante apelativa, uma letra que ficava no ouvido e um espectáculo chamativo. Fiquei ainda mais contente por não ter ganho novamente um tipa com um palmo de caro, meio despida, com uma letra miserável ainda que a música fosse sonante. Ainda que a Eurovisão continue a exibir grandes vozes e alguns excelentes músicas, convenhamos que muitos dos últimos vencedores têm deixado algo a desejar, o que contribui bastante para a má fama do programa. Desta vez, este Fairytale, com o record de votos que alcançou, acho que foi o justo vencedor e até julgo que possui os ingredientes para se transformar num clássico do programa.
Quanto a Portugal...Aqueles primeiros votos ainda me deram um valente susto, pensei que conseguiriamos obter uma das melhores posições de sempre. O entusiasmo depressa foi esfriado, ao ver-nos, mais uma vez, descer na tabela até ao 15o lugar. Acho que merecíamos mais, confesso, e essa foi a minha maior pena. De resto, foi um excelente espectáculo, o melhor dos últimos anos, e espero que a Noruega consiga igualar no próximo ano.  




quinta-feira, 14 de maio de 2009

Narrativas de Macau (14) crescer em Macau


Não é lá muito fácil conversar com os chineses. Primeiro porque, obviamente, nem eles falam português nem eu falo cantonense, depois porque, em grande parte, eles 
têm receio de se expressar em inglês. Não critico, eu também teria se não fosse obrigada em empregá-lo todos os dias. Contudo, uma vez por outra, lá encontro um mais conversador, que entre erros de vocabulário, gramática e desentendimentos, lá nos metemos na tagarelice, muitos vezes julgo que, da parte dele, com a mesma curiosidade que eu. As conversas correm tudo e mais alguma coisa. Começamos por Macau, passamos por Portugal ou por um qualquer ponto da China, falamos no trabalho, na cultura e, aqui, inevitavelmente, terminamos a dissertar sobre as diferenças entre o ocidente e oriente. Pergunta bastante frequente: a China é muito diferente de Portugal, não é? (entenda-se que nomalmente isto se estende ao
s países ocidentais no seu geral). Por muito óbvia que possa ser a resposta, tenho sempre grande dificuldade em responder. Talvez por conceber as coisas de maneira um pouco diferente do que a maioria... Como resumia uma rapariga de Hong Kong que conheci no outro dia: "no fundo, somos todos seres humanos".
Quando cheguei a Macau a primeira sensação que tive foi de algo palpável, digamos, que da simples concepção passou a ter formas, cheiros e rostos. E, por incrível que pareça, não se senti de todo deslocada. Assim que sai à rua, tentaram logo impingir-me um hotel. Não é muito diferente da terra onde venho...
Ao longo das semanas e destes quase quatro meses, algumas coisas se têm estruturado, no que uma primeira impressão ainda difusa se transformou em certezas ainda por confirmar. Destas experiências, surge-me a resposta a esta pergunta que insistentemente me colocam: não, Macau não é muito diferente da Europa, da América ou de qualquer outro sítio no mundo. Se não vejamos:
- as pessoas também riem, choram, afligem-se com os outros
- também ficam preocupadas se perdem o emprego, também tentam lutar pelos seus direitos (com maior ou menos à vontade, mas isso são outras histórias)
- as raparigas também são mais protegidas que os rapazes
- as pessoas também são bastante conservadoras
- o pessoal também se irrita e também sabe disfarçá-lo
- a miudagem corre pelas ruas, conversa nos parques e nos cafés
- as pessoas também são desconfiadas com o desconhecido
- também há rituais, dias com significado e tradições, ainda que diferentes das nossas

Poderia passar a tarde toda a dissertar sobre isto que a minha conclusão seria sempre a mesma. Não, não somos assim tão diferentes, bem pelo contrário. E a maior prova disso é que também somos teimosos quando querem contrariar as nossas convicções. Se a comida é diferente...arroz e massa também há em Portugal, mas confeccionado com outros métodos e têmperos. Mas isso porque os produtos tradicionais de lá são diferentes dos de cá. Da mesma forma, ambos se desenrascaram ao longo da História com aquilo que tinham à mão.

A ideia ocorreu-me quando passei por uma série de miudagem e me coloquei, inevitavelmente, a perguntar como seriam os seus tempos livres após a escola. Aqui existem os centros de estudo e aquela coisa bem à China de meter a criançada numa série de actividades extracurriculares. Mas nem era isso que eu questionava. Gostava de saber como seria crescer em Macau, cidade em muitos aspectos, mas não muito diferente do campo onde eu cresci em outros. A garotada também corre para os supermercados para comprar todo o tipo de barbaridades logo a seguir às aulas. Também os vejo a estudar por um ou outro café, ainda que passem mais tempo na conversa. Também os vejo a correr por todos os lados, em conjunto, na brincadeira, numa conversa descontraida que só posso imajinar do que se tratará.

Por isso, talvez de uma forma que muitos não concordarão, a minha resposta à pergunta inicial mantêm-se a mesma. Não, Macau não é assim tão diferente de Portugal. Basta que queriamos compreender as coisas a fundo e não nos ficarmos pelas aparências.  

Vamos lá ter um pouco de fé










Convenhamos, a música até tem hipóteses!!! Não?...

sábado, 9 de maio de 2009

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Narrativas de Macau (13) O mais seguro


Quando surgiram os primeiros casos de grípe suína (perdão, gripe A), alguém me tará dito quase de imediato: "não te rales, deves estar provavelmente num dos melhores países do mundo para não teres problemas". E o facto é - com reminiscências frequentes à famigerada gripe das aves - a malta por estes lados não andará propriamente em pânico, mas lá que sabem prevenir, sabem!! Desde andar-se de máscara a uma pessoa entrar nos edifícios públicos e medirem-lhe a temperatura ou passarem-lhe as mãos por álcool, ter que preencher declarações de saúde na fronteira, fora os contantes comunicados dos Serviços de Saúde e publicidade adjacente a prevenir as pessoas para manterem o cuidado com a higiene pessoal e envolvente. Uma coisa é certa, se ainda vier a aparecer um caso de infecção pelo vírus H1N1 não será por falta de prevenção.
Em Portugal, pelo que me tem sido dado a conhecer, apesar dos casos registados em Espanha (por estes lados, um turista mexicano deixou um hotel de quarentena em Hong Kong) os procedimentos têm sido mais leves. Na prática, tenhamos em conta, Portugal não é Macau e muito menos a China. Os costumes, o clima e a quantidade de população são bem diferentes, e o facto é que o país não está habituado a ter este tipo de problemas, nem, convenhamos, outros do género(a expressão "cantinho à beira mar plantado" nunca lhe coube tão bem).
Isto para mencionar um artigo que foi publicado hoje pelo China Daily e que remete para um avião chinês que foi buscar cidadãos nacionais directamente ao México. Chamemos-lhe exagero - ou talvez não - mas saibamos apreciar que as autoridades têm experiência no caso e têm sabido lidar com o problema. Principalmente para quem chegou há pouco tempo e de pandemias pouco conhecia, a não ser as mais clássicas dos livros de História.


by China Daily 

Chinese chartered plane brings back nationals from Mexico
(Xinhua)
Updated: 2009-05-06 18:58

SHANGHAI - A plane sent to fetch 98 Chinese citizens from Mexico arrived in Shanghai Wednesday afternoon. All onboard were in normal condition, the city's quarantine bureau said.

The plane landed at Pudong International Airport at 4:32 p.m. The passengers, along with a Shanghai-based infectious disease specialist who accompanied them on the flight, were sent to a hotel for quarantine.

China sent the flight under an agreement with Mexico, which has been battling an A/H1N1 flu outbreak, to send back each other's nationals.

Exams by quarantine officials showed that the passengers and the specialist, Lu Hongzhou, had normal body temperatures.

Lu told Xinhua by telephone that he was meant to treat passengers if they took sick en route and make sure the disease did not spread on the plane.

"We prepared plenty of medicine and instruments and made a detailed response plan," he added.

Each of the passengers received a letter of apology and a Shanghai World Expo mascot, Haibao.

The Shanghai Quarantine Bureau checked the health of all the people on the plane on its arrival, and sterilized the aircraft, luggage and waste.

The plane picked up 79 Chinese nationals in Mexico City and 19 others in Tijuana. It left Guangzhou for the two Mexican cities Monday but was delayed by bad weather.

China suspended direct flights from Mexico to Shanghai starting Saturday after a 25-year-old Mexican man, who arrived in Shanghai Thursday on board flight Aeromexico 098, was later diagnosed with A/H1N1 flu in Hong Kong and put into quarantine.


segunda-feira, 4 de maio de 2009

Narrativas de Macau (12) Sutra

Os monges de Shaolin passaram por Macau e abriram o 20o Festival das Artes. Espectáculo que aconselho vivamente e do qual deixo dois textos que realizei. Para os fãs de kungfu, da dança contemporânea e da herança espiritual chinesa, no seu geral.






Jornal Tribuna de Macau