Há uns tempos recebi esta carta. Gostaria que a lesses...
Não sei do que falas nem do que entendes, mas a ti te escrevo por me encontrar mais perto da tua pessoa que de qualquer outra que me rodeia e procura entender-me. Tenho 16 anos. Terei eu dito tudo nestas meras palavras? Em tempos julguei que teria todas as respostas se chegasse à bela idade de dezasseis anos… Hoje sei que não! As respostas não chegam, multiplicam-se as perguntas. O que faço aqui, qual é o meu futuro, como devo agir perante mim e perante os outros? Chamam-se criança mas exigem de mim crenças e respostas de um adulto que ainda não posso ser. Até onde, também me pergunto, vai a hipocrisia deste mundo que me relega para um plano do qual não passo de personagem secundária? Porque me renegam se quero estar na frente da batalha, prestes e disposto a ser morto pela primeira seta que o arqueiro lançar à descoberta da carne humana? Quero entrar na guerra, quero fazer mais…
Por certo julga-me louco. Ou talvez não… Devia antes de mais explicar-lhes as razões que me trazem a escrever-lhe uma carta que pouco mais tem que uma dúzia de lamentações que, provavelmente, vai considerar depravações, doenças da idade do armário. Se me conhecesse, se me olhasse nos olhos como sei que olha todas as pessoas que conhece, saberia no entanto que não sou pessoa de me esconder. Sou pessoa de agir, de ter ideias e ideais. Sou alguém que gosta de gritar aos sete ventos que é capaz de muito, muito mais, e melhor do que até hoje se fez. Agora, por certo, considera-me arrogante. Não o sou, no entanto. Sou até bastante humilde nos meus actos e pensamentos. Acontece que, consigo, sinto que posso abrir-me e confessar todas as tristes sinas que me pairam na alma.
Como começar? Talvez pelo nome: chamo-me Pedro. Poderia dizer-lhe o meu nome completo, o liceu onde estudo ou o nome dos meus pais, porém prefiro que me conheça simplesmente por este nome: Pedro. Os nomes completos exigem muito das pessoas. Dão-lhes – ou retiram-lhes – estatuto, configuram uma imagem do seu meio, da sua origem, do seu poder económico. Garanto-lhe que teria uma ideia diferente de mim se me apresentasse por Carlos Lopes Ferreira de Andrade e Couto em vez de João da Silva. Para evitar ideias preconcebidas chamar-me-ei apenas Pedro, com todas as consequências que um nome próprio acarreta. Estou disposto a aceitá-las se me aceitar a mim assim!
Onde ia? Chamo-me Pedro, tenho 16 anos. Já deve ter feito as contas e imaginar que estou no décimo primeiro ano. Não se engana, estou mesmo. Não sou um aluno excelente, mas lá tenho conseguido passar sempre sem reprovar. A minha mãe diz que ainda virei a ser doutor. Sonha que eu me torne médico e possa curar-lhe todas as dores de hipocondríaca. Se ele olhasse com mais atenção as minhas notas já teria tirado daí o sentido há muito tempo. Mas, o que se pode fazer? Temos que aturar os pais e alimentar-lhes os sonhos enquanto somos obrigados a viver sobre o seu tecto. Não somos livres enquanto crianças, adolescentes, jovens. Não possuímos liberdade em casa nem na escola. Somos apenas seres humanos em miniatura que sonham em poder trazer algumas diferença ao mundo ou passar por ele sem sermos notados. Por isso amarram-nos os pés e os braços, apertam-nos o pescoço e dizem-nos – repetindo-o constantemente – que temos que estudar para ser alguém. Ainda que nos empreguemos como carregadores do lixo.
Por certo julga-me louco. Ou talvez não… Devia antes de mais explicar-lhes as razões que me trazem a escrever-lhe uma carta que pouco mais tem que uma dúzia de lamentações que, provavelmente, vai considerar depravações, doenças da idade do armário. Se me conhecesse, se me olhasse nos olhos como sei que olha todas as pessoas que conhece, saberia no entanto que não sou pessoa de me esconder. Sou pessoa de agir, de ter ideias e ideais. Sou alguém que gosta de gritar aos sete ventos que é capaz de muito, muito mais, e melhor do que até hoje se fez. Agora, por certo, considera-me arrogante. Não o sou, no entanto. Sou até bastante humilde nos meus actos e pensamentos. Acontece que, consigo, sinto que posso abrir-me e confessar todas as tristes sinas que me pairam na alma.
Como começar? Talvez pelo nome: chamo-me Pedro. Poderia dizer-lhe o meu nome completo, o liceu onde estudo ou o nome dos meus pais, porém prefiro que me conheça simplesmente por este nome: Pedro. Os nomes completos exigem muito das pessoas. Dão-lhes – ou retiram-lhes – estatuto, configuram uma imagem do seu meio, da sua origem, do seu poder económico. Garanto-lhe que teria uma ideia diferente de mim se me apresentasse por Carlos Lopes Ferreira de Andrade e Couto em vez de João da Silva. Para evitar ideias preconcebidas chamar-me-ei apenas Pedro, com todas as consequências que um nome próprio acarreta. Estou disposto a aceitá-las se me aceitar a mim assim!
Onde ia? Chamo-me Pedro, tenho 16 anos. Já deve ter feito as contas e imaginar que estou no décimo primeiro ano. Não se engana, estou mesmo. Não sou um aluno excelente, mas lá tenho conseguido passar sempre sem reprovar. A minha mãe diz que ainda virei a ser doutor. Sonha que eu me torne médico e possa curar-lhe todas as dores de hipocondríaca. Se ele olhasse com mais atenção as minhas notas já teria tirado daí o sentido há muito tempo. Mas, o que se pode fazer? Temos que aturar os pais e alimentar-lhes os sonhos enquanto somos obrigados a viver sobre o seu tecto. Não somos livres enquanto crianças, adolescentes, jovens. Não possuímos liberdade em casa nem na escola. Somos apenas seres humanos em miniatura que sonham em poder trazer algumas diferença ao mundo ou passar por ele sem sermos notados. Por isso amarram-nos os pés e os braços, apertam-nos o pescoço e dizem-nos – repetindo-o constantemente – que temos que estudar para ser alguém. Ainda que nos empreguemos como carregadores do lixo.