Era dela ou do tempo? Inesperado, conseguia senti-lo na pele, a rugosidade da matéria, fria, segura, eterna, e a leveza dos seus instrumentos, os valores com que seduziam e a incapacidade de se erguerem, realizarem e conquistarem a realidade que à imaginação impelia.
Conhecia-lhe a cor, o odor e o jeito. A imagem percorria cenas de um incompreensível filme. Foram outros tempos... Espaços de graças, de loucuras e arrependimentos. Ficara, porém, aquele fantasma... A sombra de conversas proferidas em desacordo. Olhares de mágoa que permaneceram por esquecer. As ilusões e os sonhos que se descreviam no sigular. E as certezas de que o futuro lhe deixaria, sempre, o vácuo, a negro, do que deveria ter sido, do que desejara querer ter falado e de promessas que se cumpriram, de pegadas que não se apagaram.
Tornara-se inconcebivel esquecer! A imagem invadia o seu espaço, a sua mente, a sua pele, sempre que a guarda baixava, a memória aclarava e a voz, pesarosa, rouca, altiva, se afligia nos gritos que não era capaz de violar. Tudo, então, se misturava: o odor, o toque, o sabor, a vertigem... A pele rasgava quando roçava a pedra, a tijolheira sem cor, as ranhuras da velhice e emergia, uma e outra vez, na leveza da água. O nada envolvia-a, fazia-a querer descer, sumir, quando a contra gosto respirava. Aí, surgia novamente o fantasma.
Pedaços tardios de conversas por escrever, carícias que nunca foram dadas, cartas de solidão no plural, passeios eternos de triste melancolia. O fantasma era uma sombra, tinha traços, mas o rosto fugia. A expressão iróica, o sorriso galante... Mas o tempo esbatia o timbre de uma voz, uma ideia sem nexo e sem receios, as certezas de histórias por escrever.
Eram longas as conversas com aquele fantasma. Os encontros do nada, em qualquer parte do mundo. Os sonhos de assaltos em receios de o ver. E as ausências, por fim constatadas, de que se foi o momento de eternas possibilidades.
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