sexta-feira, 20 de março de 2009

Obituário


Natasha Richardson (1963-2009)



Por Jorge Mourinha

in Ípsilon, Público

Os seus últimos papéis no cinema foram em "A Condessa Russa" (2005), de James Ivory, "Ao Anoitecer" (2007), de Lajos Koltai, ambos contracenando com a sua mãe, e na comédia juvenil de Nick Moore "Wild Child" (2008), e preparava uma nova montagem da comédia musical de Stephen Sondheim "A Little Night Music".

Da actriz Natasha Richardson, falecida ontem em Nova Iorque aos 45 anos, a primeira coisa que todos os obituários dizem é a sua pertença a uma das mais ilustres genealogias do teatro e do cinema britânicos.

Era filha da lendária actriz Vanessa Redgrave e do realizador Tony Richardson, um dos "angry young men" cinema inglês dos anos 1960, bem como sobrinha dos actores Lynn Redgrave e Corin Redgrave, e neta de Sir Michael Redgrave, um dos mais lendários actores ingleses do pós-II Guerra Mundial.

Mas o ilustre nome de família era para Natasha um albatroz à volta do seu pescoço. Apesar dos prémios que a sua participação em produções da "Gaivota", de Tchekhov, em 1985, e de "Anna Christie", de Eugene O'Neill, em 1992, lhe valeram, nunca conseguiu impôr-se em Inglaterra para lá do nome de família, e acabaria por se mudar de armas e bagagens para os EUA, em parte para fugir a esse albatroz.

Nunca hesitou em abandonar a representação por longos períodos de tempo para tratar da sua vida familiar - primeiro com o produtor teatral Robert Fox e depois com o actor irlandês Liam Neeson, com quem era casada desde 1994, após terem contracenado na Broadway em "Anna Christie" e no filme de Michael Apted "Nell" (1994).

Numa primeira fase da sua carreira, em finais dos anos 1990, participou numa série de filmes mais próximos daquilo que hoje se definiria como "cinema independente". Títulos como "Longe da Guerra" (1987), de Pat O'Connor, "O Rapto de Patty Hearst" (1988) e "Estranha Sedução" (1990), de Paul Schrader, ou "A História da Aia" (1990), de Volker Schlöndorff.

A aclamação que recebeu nestes títulos levou a alguns trabalhos de prestígio para a televisão por cabo americana - como uma adaptação de "Bruscamente, no Verão Passado", de Tennessee Williams, ao lado de Maggie Smith e Rob Lowe, ou o papel da esposa do escritor F. Scott Fitzgerald no telefilme "Zelda" (ambos 1993).

Retirando-se para tratar dos seus dois filhos pelo casamento com Neeson, passou a aceitar papéis mais irregularmente. No cinema, surgiu ao lado da estrela teen Lindsay Lohan em "Pai para Mim... Mãe para Ti" (1998) ou de Jennifer Lopez em "Encontro em Manhattan" (2002). No teatro, ganhou um prémio Tony em 1998 pela produção da Broadway do musical "Cabaret", dirigida por Sam Mendes, fez parte de uma das produções da peça de Patrick Marber "Perto Demais" (filmada por Mike Nichols com Julia Roberts e Jude Law) e recriou Blanche DuBois numa nova produção de "Um Eléctrico Chamado Desejo".

Os seus últimos papéis no cinema foram em "A Condessa Russa" (2005), de James Ivory, "Ao Anoitecer" (2007), de Lajos Koltai, ambos contracenando com a sua mãe, e na comédia juvenil de Nick Moore "Wild Child" (2008), e preparava uma nova montagem da comédia musical de Stephen Sondheim "A Little Night Music".

A actriz encontrava-se de férias no Canadá quando caiu na neve enquanto aprendia a esquiar, na passada segunda-feira. Embora se sentisse aparentemente bem e tenha regressado ao hotel pelo seu próprio pé, acompanhada pelo monitor e por um médico, queixou-se de dores de cabeça algum tempo depois e foi hospitalizada de urgência, acabando por ser transportada para os EUA na terça-feira, falecendo num hospital nova-iorquino na noite de quarta-feira

Nascida em Londres em 1963, Natasha Jane Richardson estreou-se no cinema em 1967, aos 4 anos de idade, como figurante em "A Carga da Brigada Ligeira", dirigido pelo pai, e no teatro em 1986 numa produção de "A Gaivota", de Tchekhov, dirigida por Charles Sturridge, ao lado da sua mãe e de Jonathan Pryce. Deixa dois filhos, de 13 e 12 anos, do seu casamento com Liam Neeson.

2 comentários:

H. disse...

Para mim o seu grande papel no cinema foi em Asylum.
Foi uma perda assinalável. Ela ainda tinha muito para dar!

claudiagameiro disse...

Uma actriz que acabou por nunca adquirir o reconhecimento merecido. Uma pena, realmente...