De Negro
Do pequeno que és ao belo em que te tornaste, cinco anos passaram num pergaminho de cordas em constante rotação. Ela cantava. Uma balada de sonhos que a faculdade onde estudava eternizava. Do refrão, um famoso filme da canção portuguesa; do coração, a saudade materializada em desejo, perpétuo, que os momentos de arrebatamento e protesto abafado não terminassem, não se esfumassem em anos precoces de vidas vazias ou recheados do Nada. Não precisas que tu digam para reconheceres a tua força! A perseverança transformou-se num rolo de papel dactilografado em latim, num sorriso de escadas com séculos da tua história, na memória – apenas Ela – que te conforta por entenderes que o viveste, o sentiste, e nada mais termina enquanto nela mergulhares.
A noite era negra no dia em que a ouviste. Roles e roles de escadas de pedra gasta e paredes polidas. Desce-se a encosta, palmilha-se a calçada. De vestimenta negra e voz rouca, escolhe-se o caminho mais curto até à Sé. Na sua frente, uma multidão de luto canta um melancólico fado. É noite de serenata...A mancha negra move-se em fitas multicolores que esvoaçam em desordem. Uma nota solta. Pequenos desacordes numa melodia eterna. Desejo de tornar perfeita a tradição. Numa noite enegrecida Ela perdera o coração para aquela terra. Todo o resto foi história; todo o resto recordação.
1 comentário:
Tão bonito! Já reparaste que eu sou a tua única crítica?Isto assim não pode ser... vou já começar a tratar disso.
Enviar um comentário