sábado, 28 de março de 2009

Balada (1)

De Negro

Do pequeno que és ao belo em que te tornaste, cinco anos passaram num pergaminho de cordas em constante rotação. Ela cantava. Uma balada de sonhos que a faculdade onde estudava eternizava. Do refrão, um famoso filme da canção portuguesa; do coração, a saudade materializada em desejo, perpétuo, que os momentos de arrebatamento e protesto abafado não terminassem, não se esfumassem em anos precoces de vidas vazias ou recheados do Nada. Não precisas que tu digam para reconheceres a tua força! A perseverança transformou-se num rolo de papel dactilografado em latim, num sorriso de escadas com séculos da tua história, na memória – apenas Ela – que te conforta por entenderes que o viveste, o sentiste, e nada mais termina enquanto nela mergulhares.

 

A noite era negra no dia em que a ouviste. Roles e roles de escadas de pedra gasta e paredes polidas. Desce-se a encosta, palmilha-se a calçada. De vestimenta negra e voz rouca, escolhe-se o caminho mais curto até à Sé. Na sua frente, uma multidão de luto canta um melancólico fado. É noite de serenata...A mancha negra move-se em fitas multicolores que esvoaçam em desordem. Uma nota solta.  Pequenos desacordes numa melodia eterna. Desejo de tornar perfeita a tradição. Numa noite enegrecida Ela perdera o coração para aquela terra. Todo o resto foi história; todo o resto recordação.

 

1 comentário:

Marta disse...

Tão bonito! Já reparaste que eu sou a tua única crítica?Isto assim não pode ser... vou já começar a tratar disso.