sábado, 20 de dezembro de 2008

Espelho

em certo sentido


aquilo que vejo


é rosto fiel da minha verdade;


ora descubro ora prevejo


que mais que o meu mundo


procuro a realidade




de vez em vez, de dia em dia


a mente não recupera do que a alma persegue,


ora me escuta ora teme


que a ambição maldita,


que alguns erguem,


não passa de taça perdida


daqueles que por mim agem




de dentro,


lá bem do fundo,


nada do que sou tem significado,


de mim para mim um beijo


de ti para ti sorriso vago,


pequenos detalhes de uma existência conjunta


que mais que o nome


procura,


defunta,


meus tesouros de certos momentos




arredada a soberba e a falcidade


em mim decai


desalenta


a minha própria precariedade;


nada do que sou me satisfaz


ou procria certa astúcia


que em viril fervor de força bruta


errei por errar


soltando bandeira alheia,


sendo em um segundo


uma vida inteira




e agora,


que faço?


percorro caminhos mil


e de milhentas performances


tracei expressões de vã glória


e de vã actuação,


resguardei gritos abruptos


de caprichosa convulsão,


perdi depois tais atributos


que Deus me concedeu


em união




ainda hoje prevejo


que na honestidade não fui herdeira,


virgem de branco e santidade temerária,


aos outros confesso


a imagem por mim traçada




lá no fundo sou o espelho


de uma alma penada




lá possuo tudo


daqui não tenho nada

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