domingo, 30 de novembro de 2008

A Norte a Chuva Parou (1a)

A revolução saiu à rua.

Que podia ela esperar? A agitação precária da pobreza espalhada pela alma? Ser superior significa não se afectar, adaptar, viver. Ela viveria. Com ou sem fé nos ideias que a plebe defendia com a vida, com a razão, com a cegueira branca. O lugar dos audazes é junto dos vencedores, justos ou não. Sempre assim fora, sempre assim se resolvera o grande dilema da humanidade. E a história continuara, com ou sem momentos de glória, com ou sem honestidade.

Naquela tarde, no vazia sobrelotado as ruas, caminhou surda aos apelas das varandas engalanadas. No dia seguinte voltaria ao trabalho, recostar-se-ia na cadeira de lona da cafetaria e apreciaria o espectáculo da estupidez e idiotice humanas. Nada lhe acutiliva e incendiava o humor que dois bobos descutindo sobre assuntos ímpares sem solução. Um atirando lama à gargante do outro, um querendo encontrar luz num raciocínio onde o outro só vislumbrava sombras. E, no fim, o que ficava? Cada um com a certeza convicta de que lutara até à morte, até ao extremo de si para difundir a verdade, mas existem simplesmente tubérculos imundos que não a querem escutar, que não a conseguem ouvir. O entendimento é um dom sagrado, só obtido por alguns. Quer por nascimento quer por inegável inteligência.

E ela? Esperaria, como sempre esperara, que as voltas do mundo lhe redefinissem o lugar. Apática, incólume, superior às baixezas do bicho homem, com paixão a mais e orgulho a menos.

A Norte a chuva parara. Era o momento de agir.

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