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Ela afasta-se da casa e da flor com caminhar alto e atento. Nada a perturba, nada lhe espanta. A terra que utilizou para fazer nascer, para breve, esplendorosa criação, provoca-lhe indiferença. Os homens são seres vis, sem interesse, que povoam as cidades e os campos para neles apenas plantarem o que possuem de mais ruim. Ela acredita que não foi para isso que foram criados, que Deus ou um qualquer ET os colocou no mundo. O planeta não foi feito para suportar os homens, apenas o cosmos.
Dia a dia, caminhando na sua rotina diária, anseia pelo momento em que um meteoro vai, por fim, terminar com uma existência fútil. A política não á nada. A solidariedade não é nada. O bem e o mal, a liberdade e a escravatura são conceitos abstractos sem razão de ser. Apenas o mundo existe, todo o resto é alternativo, varia nas estações e nas épocas, faz parte de uma humanidade que existe enquanto lhe for autorizado que permaneça. O planeta vai suportando. Mas haverá o dia em que o fim pedirá o seu ponto final.
Porque plantou, então, uma planta? Porque deixou parte de si em algo de subjectivo? Nem ela própria o sabe. Há muito tempo que deixou de tentar compreender as contradições do seu comportamento. Sentiu aquela necessidade e pronto! Queria ver algo crescer, queria ter parte de si a possuir significado. Mesmo que tal, para os outros, nada significasse. Porém, tinha vergonha. E caminhava apressadamente agora, temendo confronatar-se consigo própria.
No trabalho acham-na estranha, alheada até do que faz. O patrão avisava-a constantemente da sua ausência da realidade, do que a rodeava de humano, das conversas sem nexo, dos mexerios sem futuro, das piadas sem comédia. Ela tornava a encolher os ombros. Para qu~e importar-se? Nada daquilo ficaria. Apenas o tempo e o nada.
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