Olhando o que conquistei, compreendo que fui genuina. Mas, que tenho? De que pedaços de matéria é feita a minha existência? Sim, tenho encontrado muito do que procuro! Mas aquilo que verdadeiramente anseio está num plano quase inalcançável, uma área tão longínqua quanto pode ser a do sonho.
Sou marinheira de um navio que não sei comandar... Nunca soube. Do que possuo tudo é nada, é um vazio daquilo que realmente desejaria ser, ter, construir. De que servem, afinal, as vitórias se, passado o seu tempo, mais nada são que marcas na memória? Ou nem isso! Que glórias são essas que muitas vezes nem registadas ficam? Esquecemo-las, como se esquecem os minutos sem história do dia a dia.
Um dia alguém virá fazer a minha biografia. Imagino um neto. Escreverá: "A minha avó estudou em tal, tal e tal e tirou o curso de tal em tal. Casou no dia x do ano x. A minha/ meu mãe/pai nasceu x anos depois. Os meus tios em anos x. A minha avó trabalhou toda a vida em...". E se não tiver filhos? O que de mim ficará?
Quando se fala em egoismo penso em filhos. Deve ser o único egoismo extremo que a sociedade não condena e facilmente incentiva. Ter algo a partir do qual nós próprios continuaremos a viver por longas gerações. Um pedaço de nós que não morre nem se apaga. Mas quando eles não existem, que é feito de nós? De que valeu termos vivido? Viver só por viver, que importância tem isso?
Se muitas pessoas se tivessem contentado em viver apenas por viver, provavelmente o mundo não teria sofrido tanto nem nós continuariamos a sofrer. Contudo existe uma necessidade humana de querermos ser nós próprios numa sociedade sem rosto ou com demasiados rostos como exemplo. Da atitude do cego nasce a audácia do surdo. E quem não o consegue olha para todo o lado sem ânimo, sem prazer, um ponto perdido no meio da multidão.
Que saudades sinto do chocolate suiço!
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