sábado, 10 de outubro de 2009

A Febre Indiana




Water/Água


Numa altura em que meio Portugal parece andar encantado com o mais recente trabalho de Glória Perez, por mais folclórico e Bollywood que seja (e aquele final foi definitivamente...estranho), lembrei-me de rever um filme indiano, de produção independente, que esteve entre os nomeados para o óscar de melhor filme estrangeiro em 2007, tendo sido nomeado e ganho diversos prémios por todo o mundo. Numa cooprodução entre a Índia e o Canadá, o filme encerra a "trilogia dos elementos", da controversa realizadora indiana Deepa Metha, onde sobressaem sempre temáticas ligadas ao mundo feminino na Índia. Assim, após "Fire" e "Earth", surge este "Water" ("Água"), um retrato do universo das viúvas naquele país, no momento em que as palavras de Ghandhi começavam a questionar as tradições hindus.

O filme começa com a história de uma menina de oito anos cujo marido morre logo após o casamento. Sem se lembrar sequer do seu novo estatuto, é deixada pela família numa casa de viúvas, onde através do seu olhar inocente nos vamos apercebendo do quotidiano e da vida a que eram votadas aquelas mulheres, de castas altas e baixas, e das razões que foram permitindo a manutenção do sistema. O filme encerra com a informação de que, mesmo actualmente e apesar das novas leis, ainde milhares de mulheres são deixadas em viuvários, onde as aguarda uma vida de privações e mendicidade.

Para quem desconhece algumas características da Índia, certos pormenores escapam, mas a história não é, por si, difícil de seguir. Ao mesmo tempo, acompanha-se o evoluir dos tempos e ganha-se uma nova perspectiva das transformações catapultadas por Ghandhi, assim como a mentalidade que conserva as tradições hindus. "Água" é assim um manifesto à expressão das mulheres e à luta pelos seus direitos, mostrando que, apesar das mudanças, ainda há muito que fazer, em muitas partes do mundo.

A película possui ainda cenários e uma fotografia lindíssimos, onde predomina o elemento da Água, associado aos vários rituais indianos e à sua fonte de purificação. De destacar ainda a sequência final, de vir as lágrimas aos olhos, que deixa um esgar de esperança ás futuras gerações.

Para quem gostou do "Caminho das Índias" ou para quem gosta simplesmente de bom cinema. Ou para quem, simplesmente, anseia por ver algo diferente.

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