sexta-feira, 24 de julho de 2009

Narrativas de Macau (19) Ser macaense



Em Macau existe aquela característica, às vezes perigosa, de nem toda a sua população ser "macaense". Este conceito é um tanto ou quanto dúbio e, correndo o risco de mesmo assim não ser precisa, resume-se aos, digamos, "mestiços", filhos da mistura entre português e chinês, hoje famílias com uma larga tradição no território. Na prática, distinguem-se do comum habitante de Macau por terem fortes raízes nas fundações da terra, possuem uma gastronomia própria, os traços são diferentes do chinês ou português, uma cultura e até uma língua (o famoso patuá) únicas. Por vezes até podem passar despercebidos, mas andam sempre por lá, marca inconfundível de toda a história e património desta terra. Em última instância, são os únicos que sabem falar inglês, português, cantonense (e mandarim), muitas vezes com perfeição. Filhos da terra, sem dúvida...
Isto não mais para lembrar o Encontro da Comunidade Juvenil Macaense que decorreu em Macau esta semana. Jovens e alguns menos jovens, de diversas partes do mundo, que vieram conhecer a terra de pais e avós, da qual pouco ou nada conheciam. Foi uma semana recheada de informação, com os representantes das várias Casas a tomarem contacto com todo o desenvolvimento que Macau sofreu nos últimos anos. A maioria parece bastante entusiasmada com toda a experiência, embora não deixem de transmitir um certo ar de perdidos numa terra que desconhecem e, em muitos casos, numa cultura que está bem longe da sua. É o inevitável passar do tempo pelas gerações de macaenses que partiram pelo mundo em busca de novas oportunidades. Por muito que se queira manter as tradições, nem sempre é fácil quando se está inserido numa tradição tão diferente da nossa. No entanto, por estes jovens existe gente muito dinâmica e com vontade de fazer valer toda a história que carregam. A ver vamos o que o futuro agora trará e se um novo encontro se vai realizar.
Apenas para comentar que ser macaense pode muitas vezes passar despercebido, mas o facto é que eles existem, manifestam-se e são o maior legado que portugueses e chineses deixaram por terras do Santo Nome de Deus.

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