Três pessoas numa sala. Olhando em volta, são rostos que amamos ou não queremos confiar. Sensação de desespero. Lembra aquelas cantigas de velha escola, tão longe na memória que assusta, de roda rodada, voltando sempre ao recomeçar. Cantigas de roda que se repetiam, nos ensinavam sem questionar, esqueciam a origem, deixavam-nos sonhar. Três amigas numa sala conquistam o para sempre do idoso, crente num passado de maravilhas quando, ao vivê-lo, nada mais era que uma continuidade de interrogações. Poder saber
hoje o que só se saberá amanhã... Desejo de possuir o que não quereremos ter na altura própria.
Três interrogações sobre o mundo. Sofás de estofos antiquados que guardam sestas, horas de estudo, momentos passado no regalo do descanso, observando uma televisão que transforma histórias incríveis em verdades inquestionáveis. Vamo-nos regalando com a irrealidade que quer ser presente, passado e futuro do que o ser humano demonstra. Pensam...: o que serei daqui a dez, vinte, trinta anos? Eu nem sei bem o que desejo. Será que encontrei o meu ponto final? Fim de parágrafo? Início de frase...
Quando estão três pessoas numa sala escura, sem janelas, iluminada somente pela lâmpada de poucos watz que não substitui os raios do sol, a beleza do dia, tudo se perde, tudo se transforma, muito se ganha. Ideias que se trocam, sonhos que se recolhem, novas questões, ambições se levantam. É a diferença entre a imunidade e a evolução, um caminhar pedregoso que não cessa, apenas abranda. Aí, surge a aflição, por vezes o desânimo, o pânico, a loucura. Mas, quase sempre, também um pouco de uma felicidade aguardada ao longo de uma prolongada infância.
São pequenos momentos que a velhice guardará com esperança de uma eternidade a recuperar na outra vida.
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