Há pessoas que gostam de falar. Outras nem tanto. Há os que respondem mal e sem educação. Há os que dizem o que queremos ouvir e outros que desabafam com tamanha inocência que nos sentimos de parte com o diabo por aceitarmos tais confidências. Mas toda a gente tem qualquer coisa a dizer. De mal, de bem, sem nexo ou a maior estupidez possível. Às vezes seria preferível ficar calado. Mas enfim, muitas vezes temos mesmo que falar.
Há uns dias numa ocasião pública encontrei um desses seres que gostam de falar e opinar sobre tudo, mesmo que não tenham razão nenhuma. A pinguita da meia-noite também não deve ter ajudado. Uns riram-se, outros abanaram a cabeça, alguns saíram. Cada um gere à sua maneira as necessidades de expressão do vizinho. Nem sempre traz bons resultados, mas há quem não saiba estar calado.
Lembrei-me dessa figura singular que é o Alvy Singer e desse filme de culto que é a "Annie Hall". Não gostei lá muito da película, ainda que lhe reconheça o seu mérito e as características inconfundíveis do protagonista. Que não sabia estar calado, sem dúvida, um grande inconformado com tudo o que o rodeava e os mistérios insondáveis das relações amorosas, tão confusas quanto ele próprio. Mas demos-lhe o mérito, pelo menos exprimia-se, nada ficava por dizer. De forma desajeitada, muitas vezes sem qualquer nexo, mas com o seu encanto e a necessidade quase gritante de que reparassem nele e na sua busca incansável por respostas.
Daí que quando falamos e contamos a verdade à nossa maneira, talvez queiramos ser um pouco desse Alvy Singer na sua demanda pelos ovos. No fundo, só queremos que nos entendam. E já agora, que reparem que existimos. Ainda que seja parvoíce, ainda que nos arrependamos do que dizemos.
É capaz de ser boa noite para encontrar de novo a cara Annie Hall e dar uma volta por Manhattan ...
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