quarta-feira, 28 de abril de 2010

Antes de dormir


Antes de começar este post tenho que deixar o aviso: Orgulho e Preconceito é um dos meus livros favoritos! Li-o teria os meus 11 anos, por mera curiosidade, emprestado por uma amiga. Da Jane Austen só sabia que um dos seus livros tinha sido adaptado recentemente ao cinema com a Kate Winslet como uma das protagonistas. Por isso li-o naquela descontracção da descoberta, sem saber muito bem do que se tratava e se calhar demasiado jovem para o entender no seu todo.
Tornei a relê-lo várias vezes, sempre com a mesma empolgação. Surpreendia-me a forma como a autora (des)caracterizava as suas personagens e a maneira como olhava para o mundo que a rodeava, com perspicácia e ironia. Ler sobre aquela sociedade também me fascinava e a leitura das restantes obras de Austen fez-me, de certa forma, um certa introdução literária ao romantismo.
Ontem apanhei num dos canais da TV por cabo a mais recente adaptação ao cinema de Orgulho e Preconceito, que deu efectivo reconhecimento a Joe Wright e Keira Knytley. Lembro-me que fui ver o filme ao cinema com uma série de amigas e, à saída, comentava que estava excessivamente romântico quando comparado com o livro. A abordagem de Wright era muito interessante, os pormenores, todas as ideias que um jovem realizador gosta de mostrar na sua primeira obra, oferecendo ao filme um ar jovial, porventura mais verdadeiro, menos apegado ao livro e mais ao encontro de novos públicos. Como estava longe daquele ambiente contido, mais frio e reprimido de outras adaptações, quase cópia da obra de Jane Austen, como a famosa série da BBC que deu fama a Colin Firth!!
Comentámos que se tivessem colocado o Colin Firht com a Keira o filme até teria funcionado melhor.
Julgo que a BBC já fez nova adaptação televisa de Orgulho e Preconceito, mas deixemo-nos ficar pela mais antiga. Está mais próxima ao livro, o que lhe retira algum dinamismo. Vemos uma Elizabeth romântica, mas sobretudo orgulhosa e bastante terra a terra. Já com a adaptação de Wright encontramos uma Elizabeth menos orgulhosa, diriamos mais teimosa, sonhadora e aqui sim romântica demais para o seu tempo. No livro e na série da BBC a força do dinheiro e da posição social, assim como os preconceitos a ele associados, estão muito mais evidentes. No filme, orgulho e preconceito parecem mais associados a teimosia e mal entendidos. Um filme de adolescentes, como o próprio

Wright o caracterizou a dada altura.
É uma abordagem mais actual, que traz a sua frescura. A cena em que o Darcy se declara está muito melhor que no livro. Mas o filme perde-se um pouco nesse excesso de romantismo, que abafa o lado material que a própria Elizabeth constantemente lembrava, ainda que com ironia, mas consciente do seu peso.
O Darcy do filme de Wright é sobretudo tímido e mostra desde o início essa timidez. Colin Firth soube impôr-se, dando a mesma impressão ao espectador que deu a Elizabeth: a da arrogância, orgulho, preconceito. O filme falha neste aspecto.
De uma forma geral, a obra de Jane Austen dá material para discutir uma tese para quem o quiser. As adaptações são tantas e variadas que poderíamos passar o dia a discutir qual a melhor versão. Para cinema, das que vi até hoje, voto na de Joe Wright. Retira o essencial e não se perde em virtuosismos da época, ainda que esteja bem enquadrada. É assim mais honesta e menos politicamente correcta.

2 comentários:

Pedro Coimbra disse...

Livro e filme obrigatórios.
O espírito inglês, fleumático, que tanto me agrada, presente em ambos.

claudia disse...

Obrigada pelo comentário :) Concordo contido, livro e filme obrigatórios. Já agora, também as restantes obras de Jane Austen, menos conhecidas mas também elas excelentes.