Largou a rapariga. Que faria Norberto? Imune às revoluções e sendo afectado por elas. Imajinemos que a mulher descobria os seus segredos, as suas mentiras, e o obrigava a tomar determinado tipo de decisões. Que faria ele? Deixar-se-ia estar, sem contestar, certo de que nada do que fizesse alteraria o rumo dos acontecimentos. Daqueles que acreditam que tudo está trassado e de nada vale lutar contra a sorte. A mulher gritaria, mas não sairia de casa. Obriga-lo-ia a sair. Ele deixar-se-ia estar, sem prestra atenção áqueles desejos mais que justificados, áquelas súplicas de mulher traida e ferida. Coisas da vida!
Mas e se a revolução entra-se dentro dele? Que faria? Seria obrigado, contra toda a sua vontade, a alterar-se, talvez mesmo a transformar-se, e a pensar por si. Teria que ser responsável, agir como o homem que era, ciente de que as suas acções não teriam significado apenas para si mas para todos os que o rodeavam. Não seria mais a personagem secundária, seria o protagonista. Uma posição demasiado importante para ser assumida. Pelo menos por ele.
As revoluções trazem tudo o que de bom e de mau as pessoas possuem. Existem os crentes, fiéis aos ideais traçados, mas esuqecem-se que também existem os revolucionários, que transportam a revolução no seu pesado caminho. Estes últimos não têm ideias tão bem traçados, são muitas vezes pobres diabos arrebatados por paixões avassaladoras que preenchem por completo o vazio das suas vidas inócuas. Procuram o confronto sem ser necessário, encontram guerra onde poderia estar a paz. Recusam-se a aceitar que a revolução não é eterna porque bebem dela a seiva da sua juventude, da sua alma imortal, o sentido que dão à sua existência. As revoluções nunca são, assim boas. Apenas para aqueles que têm fé.
Era assim que ela pensava. Para quê pactuar quando toda a rede já foi montade? A Norte a chuva parou, mas no sul as primeiras gotas compunham melodias nos vidros das janelas. Tlim...Tlim... O anunciar de tempos de uma nova inspiração.