quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Uma daquelas poesias

Existem filmes que descrevemos como poesias. Não tanto pela história, muitas vezes já tão batida que descobrimos a cinco minutos do incío o desenlance, mas pela forma como são contadas. Qualquer coisa como pergar num livro de Eça de Queirós e deliciarmo-nos durantes horas a fio com as suas narrativas. Já todos sabemos que o Carlos e a Eduarda são irmãos, ou que o Padre Amaro não é nenhum santo ou que a sociedade portuguesa não mudou assim tanto desde os tempos de el-rei D.Carlos. O que nos motiva a continuar, a ler e reler aquelas obras, está na forma como são escritas, no prazer que nos oferecem aquelas imagens, metáforas e conjugações, o dom da palavra, enfim, que poucos dominam mas que faz toda a diferença.
Por isso existem filmes que apesar de serem muito iguais a tantos outros nos encantam pelo modo como estão construídos, a realização, a fotografia ou mesmo o carisma dos actores. Nos últimos tempos, de cada vez que me perco por uma sala de cinema, venho profundamente desanimada com a oferta que encontro. Domina-me uma sensação de dejá vu que mesmo a esperança em ser surpreendida não consegue contrair. Os rotos são sempre os mesmos, os enredos fastidiosos e todo o cenário muito comercial. Vamos ao cinema por ir, para ter um programa para a noite, e não por existir qualquer coisa de extraordinário que nos fascine.
No outro dia fui ver o Americano. A escolha pendeu entre este e o A Tempo e Horas, qualquer um sem muita novidade. Mas lá decidimos ir passear um pouco pelas paisagens italianas e procurar descobrir se o George Clonney ainda tem mais que oferecer para além de um Nexpresso.
O George...já tem uns anitos. O senhor que me perdoe, mas o glamour está-se a perder com o tempo e talvez seja altura de procurar papéis menos à James Bond. Mas talvez aquele aspecto de cansaço se devesse à própria personagem. Não creio, em todo o caso.
O Americano segue o caminho de muitos filmes do género e no final da primeira parte já só me apetecia recostar-me a dormir uma sesta. Ainda bem que não o fiz. É um trabalho que ganha valor pela abordagem da realização e pela fotografia, pelo modo como a narrativa é contada, com algumas tiradas espirituosas que apenas os amantes de cinema podem compreender. Por isso, ao fim de vários meses, saí da sala com a sensação efectiva de que valeu o tempo, o dinheiro e a deslocação. Pois está um trabalho feito com gosto, com esforço e dedicação, um encanto para os olhos e ouvidos, pois até a banda-sonora merece um pequeno aplauso.
Que ninguém espere ir impressionar-se. Mas quem seja amante de cinema que se recoste e aprecie. O filme vale a pena.


2 comentários:

Andressa Britto disse...

Olá Claudia, estava dando uma olhada e achei sei Blog, adorei e estou seguindo (: parabéns.

cláudia disse...

Obrigada Dessa, volte sempre :) O blogue tem tido pouca actualização, mas vou tentando manter