sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Registos de Fim do Ano

Ano fraquinho este, que hoje termina. Não ficou nada de marcante nem de memorável, nem me parece que dos filmes que saíram até ao momento, pelo menos em Portugal, se retire algum clássico para a posteridade. Lembrando de alguns nomes mais sonantes que passaram pelas salas, parece que o Inception terá sido "o" filme do ano. A nível da personagem, Leonardo Dicaprio não se afastou muito do protagonista de Shutter Island e talvez tenha perdido com isso. Mas quanto a efeitos, ideia original, carisma dos actores secundários e mesmo na realização, o filme tem os seus trunfos e fica-me na memória para 2010.



De trabalhos bem mais esquecidos, passava ontem pelas noites da RTP uma obra muito particular de Keira Knightley, a querer mostrar que consegue ser muito mais que a menina bonita dos Piratas ou a protagonista de dramas de época. Falta-lhe alguma garra, digamos, algum carisma, no seu Domino. Esforça-se e nota-se-lhe o esforço, mas não consegue sair do registo da "girl next door", demasiado querida, demasiado fofinha, demasiado a querer agradar para que a personagem se torne convincente. E o filme, cuja ideia até era interessante e a concepção está carismática, perde com a falta de peso da personagem feminina. Na maioria das vezes parece que estamos a ver a Elisabete Bennett aos gritos ou a tentar mostrar que está zangada. É sensual sim e o lado de Beverly Hills 90210 é conseguido, mas não o outro, o que se queria verdadeiro, da caçadora de prémios. Falta-lhe intensidade, verdadeiro gozo pela profissão que escolheu. Há demasiado esforço em querer parecer sensual. Ela já o é. Tudo o resto soa a falso e ele parece mais frágil do que propriamente a mulher forte e capaz de tudo que se pretendia.
Mas enfim, talvez fosse mesmo essa a ideia. O filme não está mau e tem alguns momentos particulares, sendo que as restantes personagens estão bem conseguidas. A realização é um pouco psicótica, talvez demais, e falha-se pelo exagero. Mas valoriza um argumento algo pobre e sem grande entusiasmo, que cai nos clichés tradicionais.


Para o registo do fim de ano, fica uma fotografia interessante e uma película que procura ser original, ainda que se fique pela rama. Vale pela Keira, apesar de tudo, que mesmo assim consegue prometer. Julgo que a menina está mais para papéis dramáticos do que de porrada e a vontade de fazer algo diferente é boa, mas para já ser sexy não chega e é preciso , talvez, ter carisma para ir mais longe.

sábado, 18 de dezembro de 2010

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Uma daquelas poesias

Existem filmes que descrevemos como poesias. Não tanto pela história, muitas vezes já tão batida que descobrimos a cinco minutos do incío o desenlance, mas pela forma como são contadas. Qualquer coisa como pergar num livro de Eça de Queirós e deliciarmo-nos durantes horas a fio com as suas narrativas. Já todos sabemos que o Carlos e a Eduarda são irmãos, ou que o Padre Amaro não é nenhum santo ou que a sociedade portuguesa não mudou assim tanto desde os tempos de el-rei D.Carlos. O que nos motiva a continuar, a ler e reler aquelas obras, está na forma como são escritas, no prazer que nos oferecem aquelas imagens, metáforas e conjugações, o dom da palavra, enfim, que poucos dominam mas que faz toda a diferença.
Por isso existem filmes que apesar de serem muito iguais a tantos outros nos encantam pelo modo como estão construídos, a realização, a fotografia ou mesmo o carisma dos actores. Nos últimos tempos, de cada vez que me perco por uma sala de cinema, venho profundamente desanimada com a oferta que encontro. Domina-me uma sensação de dejá vu que mesmo a esperança em ser surpreendida não consegue contrair. Os rotos são sempre os mesmos, os enredos fastidiosos e todo o cenário muito comercial. Vamos ao cinema por ir, para ter um programa para a noite, e não por existir qualquer coisa de extraordinário que nos fascine.
No outro dia fui ver o Americano. A escolha pendeu entre este e o A Tempo e Horas, qualquer um sem muita novidade. Mas lá decidimos ir passear um pouco pelas paisagens italianas e procurar descobrir se o George Clonney ainda tem mais que oferecer para além de um Nexpresso.
O George...já tem uns anitos. O senhor que me perdoe, mas o glamour está-se a perder com o tempo e talvez seja altura de procurar papéis menos à James Bond. Mas talvez aquele aspecto de cansaço se devesse à própria personagem. Não creio, em todo o caso.
O Americano segue o caminho de muitos filmes do género e no final da primeira parte já só me apetecia recostar-me a dormir uma sesta. Ainda bem que não o fiz. É um trabalho que ganha valor pela abordagem da realização e pela fotografia, pelo modo como a narrativa é contada, com algumas tiradas espirituosas que apenas os amantes de cinema podem compreender. Por isso, ao fim de vários meses, saí da sala com a sensação efectiva de que valeu o tempo, o dinheiro e a deslocação. Pois está um trabalho feito com gosto, com esforço e dedicação, um encanto para os olhos e ouvidos, pois até a banda-sonora merece um pequeno aplauso.
Que ninguém espere ir impressionar-se. Mas quem seja amante de cinema que se recoste e aprecie. O filme vale a pena.