Talvez por ser um escândalo, talvez por ser um acontecimento, acima de tudo, mediático, o filme Manobras na Casa Branca apresenta aquele tom jocoso, de comédia vicentina que, entre gargalhadas, nos diz a verdade. E, talvez, por se tratar de uma realidade tão sensacionalista, tão populista e, até certo ponto, decadente, o mundo cinematográfico seja chamado a participar, tão bem enquadrado em todas as manobras que os homens do presidente habilmente engendram para o libertar de uma situação embaraçosa. Criando uma guerra, criando um herói, criando, por fim, a mensagem de liberdade e igualdade que os EUA tanto gostam de difundir.
Em termos de comunicação política este filme diz imenso, mais que não seja pelo comentário hilariante de Robert de Niro: « A guerra acabou, acabei de ver na televisão!». A partir daqui uma série de verdades são desmanteladas e levadas ao extremo. A criação de uma guerra para distrair os media de um escândalo revela-se então um conceito antigo, por diversas vezes usado e com bons resultados. Uma questão de show business, criar o espectáculo, o slogan, a encenação do real, a divulgação de uma série de imagens que dão a aparência da guerra quando, no fim, apenas nos lembramos da frase: «Coragem Mãe!».
O que sabemos de facto das guerras após o surgimento da televisão? Começam com uma série de boatos ao acaso, denúncias verdadeiras ou falsas, culminado com a transmissão de explosões e prédios a desmoronar em países que pouco conhecemos e que, por tal, aprendemos a temer. É sabido que durante a primeira guerra mundial a propaganda era fortemente utilizada para motivar as tropas das trincheiras a continuarem a combater. O que mudou nos nossos dias? Olhamos simplesmente para um espectáculo mediático, o que a televisão e o cinema nos dizem, e esquecemos de questionar a veracidade dos acontecimentos e toda a lógica que está por trás deles. E quando nos preparamos para erguer o braço, tentar perceber o que de facto se passou, a emissão noticiosa já se alterou, um novo facto marca presença no espaço público e todo o resto fica resumido a uma data difusa e um slogan barato. Táctica: «change the subject, change the lead» - distrai as atenções para outro assunto e os cabeçalhos focar-se-ão nele.
O filme, de resto, começa com uma chave curiosa: «Porque é que o cão abana o rabo? Porque um cão é mais esperto que o rabo. Se o rabo fosse mais esperto, o rabo abanaria o cão». Esta lógica faz pouco sentido para quem não traduza à letra o título original do filme: Wag the Dog (abanando o cão). Daqui se depreende também uma moral interessante. Actualmente a sociedade é controlada pelos media, não podemos fugir a essa realidade! Somos o “rabo” do quarto poder. Mas até que ponto esse quarto poder, que Mário Mesquita afirma equivocado, não pode ser controlado por aqueles que julga dominar? O escândalo político afecta demasiado os políticos para eles não possuírem um plano de fuga! Até que ponto não serão então capazes de “abanar o cão”?
Para mais não é necessário ser-se credível, apenas distraí-los. O filme assenta exactamente nisso, numa distracção. Levada a contornos monumentais de modo a perdurar por quase duas semanas, mas acima de tudo um encenação, um «teaser», o osso que retira o cão do seu posto de vigia para deixar o ladrão entrar em casa. Um espectáculo, tal como a Miss América!
Mesmo que alguém de fora procure negar um facto, se surgir na televisão ele está autentificado. A sequência com a CIA é bastante exemplificativa: «Não há nenhuma guerra!; Claro que há, veja-a na TV!». Até porque...quem de facto se interessa com o presidente dos EUA? Ninguém vota! Cada um está demasiado interessado com os seus próprios problemas para se concentrar em algo tão insignificante como o governo do seu próprio país. E na sociedade da informação o que realmente interessa é a aquela que é regida pelo espectáculo. O infotainment, ainda que acima da verdade! Pois um político na democracia dos media continua a ser um produto que, para ser vendido, necessita de publicidade. A sua aceitação pela parte do público vai depender do bom ou do mau efeito da propaganda.
Dito desta forma, procurei demonstrar com segmentos do filme a mensagem que se depreende deste. Em resumo, que o mundo dos media é uma encenação, um “show” facilmente manipulável, fundado em slogans e imagens chocantes. Para esconder um escândalo tem que se ser o mais esperto, antecipar as reacções e prever as consequências. Para manobrar o público tem que se saber manobrar os media, mudar o tema antes de se aprofundar a crise e trabalhar como um canalizar: deixando tudo limpo. A democracia dos media é, afinal, «show business» e o espectáculo tem sempre de continuar...
Em termos de comunicação política este filme diz imenso, mais que não seja pelo comentário hilariante de Robert de Niro: « A guerra acabou, acabei de ver na televisão!». A partir daqui uma série de verdades são desmanteladas e levadas ao extremo. A criação de uma guerra para distrair os media de um escândalo revela-se então um conceito antigo, por diversas vezes usado e com bons resultados. Uma questão de show business, criar o espectáculo, o slogan, a encenação do real, a divulgação de uma série de imagens que dão a aparência da guerra quando, no fim, apenas nos lembramos da frase: «Coragem Mãe!».
O que sabemos de facto das guerras após o surgimento da televisão? Começam com uma série de boatos ao acaso, denúncias verdadeiras ou falsas, culminado com a transmissão de explosões e prédios a desmoronar em países que pouco conhecemos e que, por tal, aprendemos a temer. É sabido que durante a primeira guerra mundial a propaganda era fortemente utilizada para motivar as tropas das trincheiras a continuarem a combater. O que mudou nos nossos dias? Olhamos simplesmente para um espectáculo mediático, o que a televisão e o cinema nos dizem, e esquecemos de questionar a veracidade dos acontecimentos e toda a lógica que está por trás deles. E quando nos preparamos para erguer o braço, tentar perceber o que de facto se passou, a emissão noticiosa já se alterou, um novo facto marca presença no espaço público e todo o resto fica resumido a uma data difusa e um slogan barato. Táctica: «change the subject, change the lead» - distrai as atenções para outro assunto e os cabeçalhos focar-se-ão nele.
O filme, de resto, começa com uma chave curiosa: «Porque é que o cão abana o rabo? Porque um cão é mais esperto que o rabo. Se o rabo fosse mais esperto, o rabo abanaria o cão». Esta lógica faz pouco sentido para quem não traduza à letra o título original do filme: Wag the Dog (abanando o cão). Daqui se depreende também uma moral interessante. Actualmente a sociedade é controlada pelos media, não podemos fugir a essa realidade! Somos o “rabo” do quarto poder. Mas até que ponto esse quarto poder, que Mário Mesquita afirma equivocado, não pode ser controlado por aqueles que julga dominar? O escândalo político afecta demasiado os políticos para eles não possuírem um plano de fuga! Até que ponto não serão então capazes de “abanar o cão”?
Para mais não é necessário ser-se credível, apenas distraí-los. O filme assenta exactamente nisso, numa distracção. Levada a contornos monumentais de modo a perdurar por quase duas semanas, mas acima de tudo um encenação, um «teaser», o osso que retira o cão do seu posto de vigia para deixar o ladrão entrar em casa. Um espectáculo, tal como a Miss América!
Mesmo que alguém de fora procure negar um facto, se surgir na televisão ele está autentificado. A sequência com a CIA é bastante exemplificativa: «Não há nenhuma guerra!; Claro que há, veja-a na TV!». Até porque...quem de facto se interessa com o presidente dos EUA? Ninguém vota! Cada um está demasiado interessado com os seus próprios problemas para se concentrar em algo tão insignificante como o governo do seu próprio país. E na sociedade da informação o que realmente interessa é a aquela que é regida pelo espectáculo. O infotainment, ainda que acima da verdade! Pois um político na democracia dos media continua a ser um produto que, para ser vendido, necessita de publicidade. A sua aceitação pela parte do público vai depender do bom ou do mau efeito da propaganda.
Dito desta forma, procurei demonstrar com segmentos do filme a mensagem que se depreende deste. Em resumo, que o mundo dos media é uma encenação, um “show” facilmente manipulável, fundado em slogans e imagens chocantes. Para esconder um escândalo tem que se ser o mais esperto, antecipar as reacções e prever as consequências. Para manobrar o público tem que se saber manobrar os media, mudar o tema antes de se aprofundar a crise e trabalhar como um canalizar: deixando tudo limpo. A democracia dos media é, afinal, «show business» e o espectáculo tem sempre de continuar...
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