domingo, 28 de dezembro de 2008

Dias de Festas

O pequenino traz a bonança de séculos de insanidade. Porquê? Da mensagem - tão breve e tão pequena - reduz o conceito a palavras vagas, sem sonoridade, ausentes de um povo que já deixou de ser seu. Nesse dia, o espírito permanece, a procura assola a rua despida de inverno e crente de Natal. Nada mais impede a nostalgia pelos bens recuperados, alegria momentânea - sazonal como o tempo - pelos pequenos luxos das grandes festas. Os que ficam pelo caminho têm a alma preenchida pelo sonho - sincero ou não, elouquente ou sussurrado - que o castigo pertence a todos e não necessita de ser adiado. Dias de Festas... Possuem a sua cor, o seu brilho, trazem da leveza o peso burocrático de carinhos pagos. Todos o reclamam, ninguém ousa contestá-los. Porquê? Talvez por se acreditar - bem lá no funfo, bem lá na alma - que, de outra forma, nada teria sentido, nada se arrecadaria de diferente a tantas e tantos dias de outras labutas enganosas. Por gostar se faz nascer, criar e educar, fruto de maior ou menor brio. Mas ele nasce, ele cresce e ele age. O pequenito assim o quis. Da bondade e do amor, e outros conceitos básicos tão hoje na moda, pelo menos esses dias de calor que a época traz em voga. A mensagem vai-se repentindo...assim, de mansinho...pelo menos em certa quadra.




Feliz Natal a todos e que o próximo ano traga a concretização de todos os vossos pequenos sonhos.


Cláudia

sábado, 20 de dezembro de 2008

Espelho

em certo sentido


aquilo que vejo


é rosto fiel da minha verdade;


ora descubro ora prevejo


que mais que o meu mundo


procuro a realidade




de vez em vez, de dia em dia


a mente não recupera do que a alma persegue,


ora me escuta ora teme


que a ambição maldita,


que alguns erguem,


não passa de taça perdida


daqueles que por mim agem




de dentro,


lá bem do fundo,


nada do que sou tem significado,


de mim para mim um beijo


de ti para ti sorriso vago,


pequenos detalhes de uma existência conjunta


que mais que o nome


procura,


defunta,


meus tesouros de certos momentos




arredada a soberba e a falcidade


em mim decai


desalenta


a minha própria precariedade;


nada do que sou me satisfaz


ou procria certa astúcia


que em viril fervor de força bruta


errei por errar


soltando bandeira alheia,


sendo em um segundo


uma vida inteira




e agora,


que faço?


percorro caminhos mil


e de milhentas performances


tracei expressões de vã glória


e de vã actuação,


resguardei gritos abruptos


de caprichosa convulsão,


perdi depois tais atributos


que Deus me concedeu


em união




ainda hoje prevejo


que na honestidade não fui herdeira,


virgem de branco e santidade temerária,


aos outros confesso


a imagem por mim traçada




lá no fundo sou o espelho


de uma alma penada




lá possuo tudo


daqui não tenho nada

Finalmente

Devo ter sido por aí...a última pessoa a vê-lo!!




Cena «Lay all your love on me»

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

a preparar a viagem....



Já só falta um mês :)

sábado, 13 de dezembro de 2008

7 maravilhas de origem portuguesa

A sete maravilhas de origem portuguesa começam em breve a ser votadas. A lista tem susictado várias polémicas, visto ter-se baseado na lista da UNESCO, mais política do que histórica. Mesmo assim vale a pena votar, nem que seja para lembrar ao mundo em geral que antes dos espanhóis se meterem ao mar já nós por lá andávamos há um par de anos.




Ver site:www7maravilhas.sapo.pt

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

No mundo da Mulheres

Ao entrar num videoclube procuro com frequência fazer um exercício de descoberta. Conheço os meus gostos, sei que tipo de histórias me atraem e as que não me dizem absolutamente nada, mas não rara é a vez em que os meus palpites me saem frustrados e a desilusão é sentida no vazio da carteira. Talvez seja por isso que muitas vezes evito de ir ao cinema ver aquela película que até parece interessante, mas não me arrebata ou impele a descobrir sem demora.

De uma forma geral, gosto do chamado "filme para mulheres". Preconceitos à parte, fazem-me rir. Quase sempre com casórios à mistura, são aquele tipo de cinema que costumava ser exibido aos domingos à tarde, pelo menos nos tempos em que eu estava em casa aos domingos à tarde. Descontraem, têm um final feliz e o argumento - se bem escrito - é suficiente para nos manter inspirados durante uns dois ou três dias.

Assim de cabeça recordo uns quantos, quase todos com a Meg Ryan a protagonizar e alguns com o Tom Hanks na contracena. Provavelmente seja essa a razão pela qual a melhor definição que encontro para este género de histórias se sintetise no seguinte: uma rapariga romântica, mas meio perdida, com crises de consciência; um engatatão que ainda não descobriu o verdadeiro amor; uma situação insólita que une os dois. Com pequenos ou grandes desvios, a norma assente customa ser esta.


No outro dia aluguei um dessas comédias, curiosamente com a Meg Ryan num tão aguardado regresso. Em No Mundo das Mulheres, esperava eu, iria encontrar alguns destes ingredientes, preparando-me para hora e meia de gargalhadas bem dispostas. Lá pelo meio acho que me deu a vontade de chorar...nem sei bem.

A ideia é excelente. Quatro gerações de mulheres passando pelo quotidiano de um daqueles tipos com enorme carisma e vocação para deixar qualquer exemplar do sexo feminino com vontade de dissertar sobre as suas mágoas, alegrias e rotinas, quase sem se aperceberem disso. Uma velhota convencida quem a morte está próxima, uma mulher de meia idade que enfrenta um doença e a traição do marido, uma adolescente em crise, uma criança bastante perspicaz. Ah, ainda há aquela outra jovem que não sabe o que quer da vida. Pelo meio, o afastamento entre mães e filhas e o respectivo retorno, sempre ante o olhar daquela figura externa que as tenta compreender a todas sem se conseguir sentir próximo de nenhuma delas. Para uma é demasiado velho, para outra é demasiado novo. Nenhuma parece certa do que deve fazer ou de como agir, procurando todos uma opinião que respeitam mas que não podem seguir.

Surpreendeu e decepcionou, não ri metade do que queria rir. Sendo uma ideia boa, perde-se em promenores mal desenvolvidos e circunstâncias vagas que parecem a nada conduzir. Vale o esforço e o visionamento, capaz de conseguir uma identificação por parte de todas as idades. A velhota na sua solidão, a mulher adulta na sua tristeza, a jovem no seu desvario, a adolescente na sua rebeldia, a criança no seu mundo cor de rosa.

Filme para mulheres ou não, é de aconselhar também a homens.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

sonata sem nome

Só para me lembrar que existo
que não decaí numa insignificância absurda
por muito que me permita
em nada mais sei
que a Terra muda


olhar por olhar o solo
da constância aniquilante
do ardor mesquinho
cresce, aparece e anseia
em vão se quer controlar o destino

depois da mágoa, depois da recodação
depois de dor, depois de uma estranha paixão
os dias correm em velocidade tamanha
que me questiono se é certa
esta minha exaltação.
o dia de sol já sobe
e desce enfim a penumbra
do noveiro se povoa agora
uma sensível inconstância futura

Ouve-me
sussurro-te detalhes de mim
estou só
e desejas-me assim...

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Hino à Razão



de Antero de Quental




Razão, irmã do Amor e da Justiça,
Mais uma vez escuta a minha prece,
É a voz dum coração que te apetece,
Duma alma livre, só a ti submissa.

Por ti é que a poeira movediça
De astros e sóis e mundos permanece;
E é por ti que a virtude prevalece,
E a flor do heroísmo medra e viça.

Por ti, na arena trágica, as nações
Buscam a liberdade, entre clarões,
E os que olham o futuro e cismam, mudos,

Por ti, podem sofrer e não se abatem,
Mãe de filhos robustos, que combatem
Tendo o teu nome escrito em seus escudos!

Ponto de Interrogação

Novo livro de J. K. Rowling
Harry Potter voltou? Não exactamente...


02.12.2008 - 15h58

Nuno Aguiar, com Reuters

in Público


No Verão passado, quando a saga Harry Potter terminou finalmente, uma onda de tristeza espalhou-se por miúdos e graúdos em todo o mundo. A história tinha chegado ao fim e Harry, Hermione e Ron não voltariam a entrar nas vidas dos leitores. Quinta-feira, esta ausência poderá ser, de certa forma, compensada com o lançamento de "Os Contos de Beedle, o Bardo", o último livro de J. K. Rowling sobre o universo Harry Potter, cujos lucros reverterão para uma instituição de caridade.Para os mais aficionados, é preciso alertar que não se trata de uma continuação das aventuras do jovem feiticeiro. "Os Contos de Beedle, o Bardo" é uma colecção de cinco contos de fadas que surge no último livro da saga, “Harry Potter e os Talismãs da Morte”, deixado por Dumbledore a Hermione. A única história revelada das cinco é “O Conto dos Três Irmãos”, crucial para a execução da última missão de Harry na sua demanda contra Lord Voldemort.Um bom indicador do sucesso que este novo livro pode vir a ter junto do público são os quatro milhões de dólares pelos quais foi leiloada há um ano uma das sete cópias ilustradas e escritas à mão de "Os Contos de Beedle, o Bardo". O comprador foi a Amazon, que se prepara para lançar 100 mil edições de coleccionador, vendidas a 100 dólares cada, e um total de 7.5 milhões cópias da edição normal. A Bloomsbury fará a distribuição do livro da Grã-Bretanha, enquanto a Scholastic ficará responsável pelo mercado norte-americano. Depois de cobertas as despesas, as editoras e distribuidoras concordaram em doar os lucros para a caridade. Quem opte por vender com descontos, uma prática comum nos livros de Harry Potter, terão de o fazer com prejuízo. No catálogo de venda da cópia leiloada, Rowling escreveu: "’Os Contos de Beedle, o Bardo’ é uma destilação dos temas encontrados nos livros de Harry Potter, e escrevê-lo foi a mais maravilhosa maneira de dizer adeus a um mundo que amei e em que vivi durante 17 anos."Com uma fortuna avaliada em 660 milhões de euros, J. K. Rowling é a escritora mais rica do mundo e parece já não ter interesse em aumentar uma fortuna, já por si, considerável. Com este último livro espera conseguir arrecadar alguns milhões para financiar a organização “The Children’s High Level Group” da qual é co-fundadora com a deputada europeia Emma Nicholson, e que foi criada para proteger e apoiar os direitos das crianças em instituições de acolhimento na Roménia, Moldávia, Arménia, Geórgia e República Checa.Em Julho de 2007, “Harry Potter e os Talismãs da Morte” vendeu 11 milhões de exemplares nas primeiras 24 horas, tornando-se no livro mais rapidamente vendido de sempre, ultrapassando o seu predecessor “Harry Potter e o Príncipe Misterioso”. Os livros da série já venderam um total de 400 milhões de cópias, foram traduzidos para 67 línguas e lançaram as bases para oito filmes (o último livro será dividido em duas partes). Os cinco já lançados deram um lucro de 4.5 mil milhões de dólares.Os ávidos fãs de Harry Potter podem já ficar descansados, porque provavelmente "Os Contos de Beedle, o Bardo" não será a última oportunidade para espreitar o mundo de magia do jovem feiticeiro. Rowling já afirmou estar a planear uma enciclopédia da série, cujos lucros também iriam reverter para a caridade.

Reticências


Nobel alerta para distorções nas respostas à crise financeira e à crise climática


03.12.2008

AFP, PÚBLICO


O presidente do Painel Intergovermental para as Alterações Climáticas (IPCC) e Nobel da Paz em 2007, Rajendra Pachauri, diz-se admirado com as distorções nas respostas a alguns dos maiores problemas internacionais, nomeadamente com o facto de se investirem milhões de dólares para salvar um sistema bancário em crise, quando a luta contra a pobreza ou contra as alterações climáticas não conseguem mobilizar fundos.
Numa entrevista à AFP, à margem da conferência das Nações Unidas sobre o clima a decorrer em Poznan, Polónia, até dia 14, Pachauri fala de um verdadeiro “desafio à lógica”. “É verdadeiramente estranho o que se passou nestes últimos dois, três meses”. “Desafia toda a lógica se pensarmos no dinheiro gasto nestas acções de resgate, assim tão rapidamente, sem interrogações”, comenta.Pachauri lembra, em comparação, a adopção em 2000 pela ONU dos Objectivos do Desenvolvimento do Milénio, relativos à redução da pobreza e das desigualdades no mundo. “Quando os objectivos foram pensados e planificados, o antigo Presidente do México Ernesto Zedillo, que presidia o comité, fez uma modesta proposta de 50 mil milhões de dólares (cerca de 39 mil milhões de euros) por ano em favor das regiões do mundo que simplesmente não tinham os meios para cumprir esses objectivos. Mas todos fizeram chacota e ninguém teve o menor gesto”.“Hoje, as agências e organizações que são responsáveis pela sua própria queda e pela falência de todo o sistema beneficiam de montantes como 2.700 mil milhões de dólares (cerca de 2,1 mil milhões de euros)!”.Para Rajendra Pachauri, estes casos ilustram a “distorção” do sistema económico.O responsável pelo IPCC não esquece ainda as emissões de gases com efeito de estufa, acusadas de serem as responsáveis pelas alterações climáticas. “Se não agirmos agora, os impactos das alterações do clima vão agravar-se progressivamente até um ponto – que já é o caso em algumas regiões do mundo – em que os prejuízos serão consideráveis”.A altura é a mais indicada para inverter padrões de acção. No âmbito da crise económica, “vai ser realizada uma vasta reavaliação das formas de crescimento económico”. “Acredito que iremos assistir a uma grande mudança para uma utilização mais eficiente dos recursos naturais e de energia”.A conferência em Poznan, até 14 de Dezembro, deve preparar as negociações de um novo acordo contra as alterações climáticas, que suceda ao Protocolo de Quioto, que expira em 2012. Este acordo deverá estar concluído no final de 2009, em Copenhaga. Desta vez deve incluir os Estados Unidos, que rejeitaram ratificar Quioto.Rajendra Pachauri espera encontrar-se o mais rápido possível com o Presidente norte-americano eleito Barack Obama para lhe dar conta do seu sentimento de urgência. “Se puder estar com ele dez minutos, é tudo o que eu preciso”, garante.O IPCC é um organismo científico criado em 1988 pela Organização Meteorológica Mundial e pelo Programa das Nações Unidas para o Ambiente para disponibilizar aconselhamento independente sobre as alterações climáticas.

Os contos da Madrugada - sol sombrio


Ali não existiam flores. Nem mata, nem arvoredo. Apenas o gosto cinzento e frio do aço e do cimento, grandes arranha-céus de babel sacrilégio. Ali não aprendera a ser feliz, nem descobrira como amar o insignificantes, os pequenos tesouros sem máculo do dia a dia. Por isso partira. Partira na esperança de que nas terras de Clementina os ventos mudassem e lhe oferecessem a alegria perdida em anos e anos de solidão vazia de sol, vazia de si mesma. As histórias de fantasmas não a assustavam, nem tão pouco impediam de sonhar coma sua possibilidade, a sua crença.
A amiga contara: em certas noites, de lua semi-iluminada, estranhos eventos despuletam a crueldade da terra. Ninguém acredita, todos os temem. A fonte costuma guardar esses segredos perdidos na eternidade. Tudo o resto se transforma em lenda, mito que afugenta a criançada, a bonança e a misericórdia.
Clementina contara...e não voltara...
Aos poucos, o estranho sonho de procurar a mata das histórias sem nexo ou solução haviam-lhe despertado o desejo da mudança e a procura por um sol mais sombrio, mas menos punitivo. Uma terra de velhas e janelas indiscretas, com vidas que se multiplicavam consoante as vozes que sussurravam em ladainha benedita. Porquê temê-lo? Talvez se a felicidade existisse ali, nessa conversa que a inveja despuletava e a diferença tornava bravia. Por muito que viesse a sofrer, a desgraça não lhe traria muito mais a solidão urbana, opaca e repleta da ambundância saciada. Era tempo de mudança.

Naquela tarde, pegou na mala de viagem esquecida debaixo da cam desdo os tempos da universidade, pegou no gato adormecido na alcofa de penas, recolheu os seis ou sete livros ainda por ler e partiu. No trabalho uma carta de despedida, sem aviso ou notificação. Dos amigos um telefone sempre silencioso, vozes que esperaria nunca mais ouvir. Com outros sorrisos, as fotogafias recolhidas num álbum de poucas páginas. Apenas o essencial. Apenas o fundamental.
A viagem seria longa e, tão cedo, não traria regresso. Quem sabe? Talvez ela mesma se afundasse naquela madrugada misteriosa que inspirava tantos receios, tantas lendas de rancor. Também tinha os seus mistérios. Aquela atitude era um deles. Quem sabe se a tal fonte não a sugaria também, não transformaria a sua imagem, a sua delinquência, numa lenda perdida entre a crença popular. Assim, pelo menos, viveria.