Ao entrar num videoclube procuro com frequência fazer um exercício de descoberta. Conheço os meus gostos, sei que tipo de histórias me atraem e as que não me dizem absolutamente nada, mas não rara é a vez em que os meus palpites me saem frustrados e a desilusão é sentida no vazio da carteira. Talvez seja por isso que muitas vezes evito de ir ao cinema ver aquela película que até parece interessante, mas não me arrebata ou impele a descobrir sem demora.
De uma forma geral, gosto do chamado "filme para mulheres". Preconceitos à parte, fazem-me rir. Quase sempre com casórios à mistura, são aquele tipo de cinema que costumava ser exibido aos domingos à tarde, pelo menos nos tempos em que eu estava em casa aos domingos à tarde. Descontraem, têm um final feliz e o argumento - se bem escrito - é suficiente para nos manter inspirados durante uns dois ou três dias.
Assim de cabeça recordo uns quantos, quase todos com a Meg Ryan a protagonizar e alguns com o Tom Hanks na contracena. Provavelmente seja essa a razão pela qual a melhor definição que encontro para este género de histórias se sintetise no seguinte: uma rapariga romântica, mas meio perdida, com crises de consciência; um engatatão que ainda não descobriu o verdadeiro amor; uma situação insólita que une os dois. Com pequenos ou grandes desvios, a norma assente customa ser esta.
No outro dia aluguei um dessas comédias, curiosamente com a Meg Ryan num tão aguardado regresso. Em No Mundo das Mulheres, esperava eu, iria encontrar alguns destes ingredientes, preparando-me para hora e meia de gargalhadas bem dispostas. Lá pelo meio acho que me deu a vontade de chorar...nem sei bem.
A ideia é excelente. Quatro gerações de mulheres passando pelo quotidiano de um daqueles tipos com enorme carisma e vocação para deixar qualquer exemplar do sexo feminino com vontade de dissertar sobre as suas mágoas, alegrias e rotinas, quase sem se aperceberem disso. Uma velhota convencida quem a morte está próxima, uma mulher de meia idade que enfrenta um doença e a traição do marido, uma adolescente em crise, uma criança bastante perspicaz. Ah, ainda há aquela outra jovem que não sabe o que quer da vida. Pelo meio, o afastamento entre mães e filhas e o respectivo retorno, sempre ante o olhar daquela figura externa que as tenta compreender a todas sem se conseguir sentir próximo de nenhuma delas. Para uma é demasiado velho, para outra é demasiado novo. Nenhuma parece certa do que deve fazer ou de como agir, procurando todos uma opinião que respeitam mas que não podem seguir.
Surpreendeu e decepcionou, não ri metade do que queria rir. Sendo uma ideia boa, perde-se em promenores mal desenvolvidos e circunstâncias vagas que parecem a nada conduzir. Vale o esforço e o visionamento, capaz de conseguir uma identificação por parte de todas as idades. A velhota na sua solidão, a mulher adulta na sua tristeza, a jovem no seu desvario, a adolescente na sua rebeldia, a criança no seu mundo cor de rosa.
Filme para mulheres ou não, é de aconselhar também a homens.