Lia o jornal há pouco e recordava-me de um artigo encontrado há anos sobre blogues de cinema. Comentava então esse texto que um dos melhores sítios do ciberespaço dedicado à sétima arte tinha encerrado porque o seu autor deixara - imagine-se! - de ser estudante. Com o mundo do trabalho a chamar a atenção, é dificil manter posts em dia, gerir comentários e ir absorvendo informação e consequente reflexão nesta plateia tão vasta que vai além do pequeno ecrã.
Este não será um blogue de cinema. A bem dizer foi ao longo dos anos muitas coisas e passou por muitas fases, umas mais dinâmicas que outras. Serviu de testemunho, nem sempre ajustado, dos solavancos que se vão dando em determinadas fases da vida. Os métodos de escrita, os dilemas e as considerações também foram, por isso, mudando, acabando por estender-se nesse mundo tão repleto de opinião e charme que é o cinema. Outras coisas haveria por certo para dizer, mas as responsabilidades também são diferentes e escrever também implica ter uma visão que se possa suster, acreditando-se nela com toda a força das palavras.
No outro dia apercebia-me que de um momento para o outro havia perdido o contacto de um grande amigo, companheiro de tantas aventuras e com quem passara alguns dos melhores momentos de determinada fase da minha vida. "Tudo termina" - pensei eu, habituada a dar por perdida uma luta quando ela deixa bem clara que não existe hipótese de vitória. Não por falta de coragem, que a luta, quando por aquilo que vale a pena, nunca termina, apenas se torna mais branda e conformada com a sua sorte. Apenas por falta de tempo, porque as pessoas mudam, assim como as ideias, os princípios e as prioridades. E como referia uma certa amiga minha, tudo tem um certo tempo e um lugar e há coisas que com o passar dos meses deixam de fazer sentido.
De modo que divagando sobre o sentido da existência e de lutas ou pequenas batalhas que merecem ser travadas, lembrei-me com carinho, mais uma vez, deste blogue, que me acompanhou durante tantos períodos e que acaba por sucumbir, como a maioria deles, ao fim do seu tempo e do seu lugar.
Pouco nele ainda faz sentido. Continuo sim a ir ao cinema e a procurar envolver-me, de forma mais ou menos impressionada, com os enredos e os trabalhos de verdadeira arte que alguns mestres parecem ainda conseguir fazer com certas obras. Mas já nem é tempo de falar sobre cinema, a ideia inicial nem era essa. É tempo de voltar a encontrar a visão que esteve no início destes comentários e que criou, a bem da verdade, tudo o que se foi escrevendo por estas páginas.
No fim, para dizer que se encerra hoje estes quatro anos de considerações. Será provavelmente interessante voltar aqui uma e outra vez para recordar o que fui e o que procurava nos tempos da faculdade e se essa pessoa e esses sonhos ainda se vão mantendo com o passar dos anos. Mas já não como escritora, ainda que ela procure insistentemente pela sobrevivência, mas como uma certa leitora de certo tipo de visões do mundo e dos que o povoam.
Obrigada ao Cineroad que por aqui foi deixando alguns comentários e que permitiu vingar a minha paixão pelo cinema. Obrigada a todos os anónimos e cibernautas que quiseream partilhar as suas opiniões e dar certa vitalidade a este espaço. Obrigada também à Marta, que com o seu humor e o seu olhar irónico e tantas vezes satírico do mundo permitiu boas gargalhadas e um colorido que faltava a esta casa. E obrigada à Niké que apesar das poucas participações deu a este blogue uma imaginário.
De modo que por outras casas mas sempre observando, encerra-se assim o blogue. Aos que por cá passarem, há quatro anos por explorar e muitas histórias contadas. Vou continuando a comentar se surgir algum comentário. Bem vindo então e boa viagem...